SATÃ BRASIL (FOLHETIM)

DEDICATÓRIA:

Dedico este livro a um Excelentíssimo Sr. Presidente da República Federativa do Brasil.

Sem mais.

PREFÁCIO

“O diabo é um otimista se acredita que pode piorar as pessoas”.

Karl Kraus

Era início de noite e as lâmpadas vibravam com o calor que fazia. Eu tinha acabado de encerrar uma palestra motivacional em um respeitável colégio católico da cidade. Sentado no banco da praça aguardava ansioso a chegada do uber. A palestra fora um sucesso, mas o cansaço acumulado de vários dias de trabalho não me permitia relaxar.

Eu estava exausto e inquieto como se algo profundamente perturbador estivesse para acontecer. E aconteceu. Foi no exato momento que vi pousar uma borboleta roxa sobre um envelope pardo que estava em um banco três metros à frente do meu.

Na mesma hora meu coração disparou como se ressuscitado por um eletrochoque. Senti uma pontada tremenda na boca do estômago e uma ânsia repentina de vomitar todo o café da tarde.

Fiquei pasmo e desorientado, tomado de um medo irracional como o de alguém que não sabe nadar e sonha estar morrendo afogado.

Saí desse estado de pavor devido aos primeiros pingos de chuva na minha cabeça que doía inexplicavelmente. Algo dentro, ou fora de mim, me fez levantar às pressas e agarrar aquele envelope com borboleta e tudo. Quando meus dedos tocaram a superfície dele senti um tipo de torpor e quentura nas pontas dos dedos que se esparramou pela mão. Nesse momento a borboleta voou para a penumbra do parque. Tentei deixar o livro onde estava, mas a mão tremia igual à mão de uma pessoa com a doença de Parkinson.

Ainda tentava soltá-lo quando o uber encostou na calçada ao lado. Então, desisti e arrastei meu corpo pesado e lerdo para dentro do carro. O envelope entrou comigo. Lá fora a chuva engrossara. Não sei por quanto tempo segurei o envelope antes de, finalmente e com tremor, jogá-lo dentro da minha mochila.

Depois de dar o endereço ao motorista apoiei-me ao banco e dormi como se não dormisse há um século. Acordei dez minutos depois com a voz dele me chamando.

Paguei ao motorista e saí correndo e curvado como alguém que transportasse um objeto tremendamente pesado e escorregadio. As grossas gotas de chuva espadanavam sobre minhas costas. Adentrei o hall e peguei a chave. Entrei no quarto e desabei sobre a cama com roupa e tudo. Dormi molhado por horas.

Acordei com o barulho dos trovões e o brilho incessante dos relâmpagos na janela do quarto. No momento em que abri os olhos a primeira coisa que vi foi o envelope pardo, então para o bem ou para o mal, resolvi abri-lo. Antes tirei a camisa que já enxugara no corpo. E assim, desnudo e com medo, abri o envelope, saquei as folhas e as li. Vez por outra estremecia com o barulho dos trovões e os relâmpagos, mas o medo maior vinha de dentro daquelas páginas e de dentro de mim.

Na minha longa experiência com textos eu ainda não havia lido nada igual. Fiquei boquiaberto e amedrontado com o que li. Tão amedrontado que resolvi compartilhar com os outros o peso e o horror destas páginas.

Na manhã seguinte, após o café, organizei e agrupei as páginas em capítulos. Para dar um toque de literariedade àquelas palavras brutas, iniciei cada capítulo com a citação de algum autor ou personagem famoso que, de algum modo, escreveu, cantou ou falou algo parecido com o que eu li naquelas páginas de mau agouro. Feito isso as encaminhei para uma editora e a prova de que foi aceito é o fato de você o estar lendo agora.

Por fim, cabe explicar que o material encontrado por mim não tem caráter conclusivo. São histórias com começo, meio e fim articuladas entre si, mas não apresentam conclusão. Parecem querer indicar que os fatos ali narrados aconteceram e ainda acontecerão muitas vezes. De qualquer modo aqui está o que encontrei. Se existe mais não alcancei encontrar.

Continua...

make
Enviado por make em 14/04/2021
Código do texto: T7231486
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