O Julgamento - Uma história do tempo do coronavírus
João Fulano da Silva invadiu uma casa, e estuprou e matou mãe e filha. E policiais o capturaram e o prenderam.
No tribunal, perguntou-lhe o juiz, educadamente:
- João Fulano da Silva, o senhor já tomou a vacina contra o coronavírus?
- Tomei, sim, senhor doutor. Tomei - respondeu-lhe, humildemente, João.
- E seguiu-se a conversa:
- E o senhor - perguntou o juiz -, senhor João, usava máscara enquanto estuprava e matava aquelas duas mulheres?
- Sim, senhor, eu usava máscara, e uma de três camadas.
- O senhor é um homem de responsabilidade social. Respeita a saúde pública. Tem empatia coletiva. Pelos poderes a mim conferidos pelas leis deste mundo, concedo ao senhor João Fulano da Silva a liberdade.
- Posso, senhor doutor, fazer uma pergunta?
- À vontade.
- Posso estuprar e matar outras mulheres e também matar e estuprar mulheres?
- Matar, e depois estuprar?! - perguntou o juiz, intrigado.
- Sim. Eu gosto de...
- Entendi. Não preciso dos detalhes. Você, um cidadão responsável, exemplar, comprometido com a saúde coletiva, tem o direito de viver a sua vida como bem entenda, desde que não se esqueça de usar máscara.
- Não esquecerei, não, senhor doutor. E eu uso máscara de três camadas.
- Então, vá. Você é um homem livre. Divirta-se. E não se esqueça da máscara.
- Obrigado, senhor doutor. Obrigado. Até breve.