A vila solitária cap 3 Sortilégio

A vila solitária capítulo 3

Sortilégio

Thomas Scott abriu os olhos e contemplou assustado o interior da igreja. E percebeu aliviado que estava amanhecendo. Levantando-se do banco sobre o qual passara a noite Thomas caminhou até a porta, o mais silenciosamente que pôde. Pelo que vira naquela noite havia muitas crianças ali. Não queria acordá-las.

A porta emitiu um leve rangido das dobradiças enquanto era aberta e o pistoleiro sentiu a brisa fresca da manhã em seu rosto. Enchendo-se de coragem, caminhou para fora da igreja e observou atentamente os arredores buscando qualquer sinal de perigo. Então, sentindo-se seguro, desceu a escadaria até a rua enlameada. E parou onde sua montaria estivera amarrada. Não havia sinal do animal. Nem da bolsa que na verdade era o seu principal interesse. E então o barulho. O pistoleiro olhou para uma casa do outro lado da rua e viu o vulto enrolado em um cobertor dos pés à cabeça, parcialmente visível no sombrio interior da residência.Entendeu na mesma hora o que estava vendo: um vampiro. E tal entendimento o fez olhar por sobre o ombro para a escada e para a porta da igreja, porta esta que ele havia deixado aberta. Por um instante cogitou voltar e fechar a porta. Mas lembrou-se das palavras do padre. Solo sagrado. Nenhum dos vampiros podia subir as escadas e adentrar o templo. O padre,as mulheres e as crianças estavam seguras lá dentro. Então, lembrou-se da sacola. Precisava recuperá-la, só assim poderia ir embora dali. Afastar-se daquele terrível pesadelo. E quem sabe achar socorro para aquelas pobres almas. Então armado de súbita determinação ele olhou novamente para o vampiro do outro lado da rua e foi em sua direção. A coisa fez-lhe um gesto indicando que se aproximasse, e contra todo o bom senso, ele obedeceu. Não sentia medo. Apenas uma urgência de achar sua bolsa. Levando a mão ao revólver, ele adentrou a casa sombria. Cada vez para mais longe do único local seguro na pequena vila. Nem sequer reparou na enorme matilha de lobos que pareceu materializar-se das sombras das casas. Lobos que caminharam lentamente até as escadarias da igreja. E as subiram. Lobos que chegaram até a porta que o padre sempre mantivera fechada. Lobos que atravessaram essa porta, adentrando silenciosamente o templo. A tudo isso o pistoleiro permaneceu alheio. Só o que passava pela sua cabeça era recuperar sua bolsa. Nem mesmo o fato de estar em um ambiente escuro a poucos metros de um monstro sanguinário parecia incomodá-lo. Era como se tudo fosse apenas um sonho. Sonho que se desfez em um pesadelo assim que os gritos das mulheres e crianças começaram. O pistoleiro sentiu um arrepio em sua espinha. E compreendeu a idiotice sem tamanho que acabara de cometer.

Continua...

S J Malheiros
Enviado por S J Malheiros em 17/03/2021
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