EM NOME DE UM DEUS QUE NÃO É O SEU - BEM-VINDO À NOVA ERA - (PRELÚDIO) AQUI ESTÁ O COMEÇO DE TUDO. CLTS 11 E CLTS 14.
LIVRO 1 - CAPÍTULO 2
O meu nome é Edward, apenas isso. Vida pacata, como a maioria das pessoas que eu conheço. Vivo normalmente, trabalhei numa madeireira de móveis de quinta categoria, para pobre mesmo, daqueles que duram menos que as 12 prestações que serão pagas, ou não. Tive algumas namoradas, não amei nenhuma, apenas curti o momento, como dizem os apaixonados; Noivei e casei, durou apenas 6 meses, tentei, mas não era essa história que queria para mim. O que eu tenho melhor que a maioria da população, é o gosto pela leitura. Comecei lendo gibis, mas finais felizes ficam só no infantil, então comecei a ler autores que preferem os finais mortais, que para os personagens ignorantes que são introduzidos nesse contexto, é o melhor resultado.
A conclusão de tudo isso, foi a ideia de mudar o meu rumo e, depois a história por completo. O meu ateísmo não fechou os olhos para as vantagens que as religiões trazem para o ser, e por esse motivo, fui atrás de informações em algumas delas. Encontrei um templo onde o homem que palestrava tinha uma força tão grande nos seus argumentos, que os seus fiéis enchiam as caixas de doações sem que ele pedisse. Num país onde 13,5 milhões estão na zona de miserabilidade e isso está crescendo cada vez mais, não é possível acreditar que um simples homem que diz levar a palavra “Dele”, consegue sair de cada “palestra”, com mais de 10 mil reais no bolso, principalmente se tratando de um público visivelmente humilde. Se ele só falava e levava todo aquele dinheiro, eu agindo de maneira eficaz, poderia fazer melhor e multiplicar esse dinheiro.
Como Hitler fez e conseguiu dominar um país inteiro e ainda contar com o apoio de outros sendo apenas um homem com poder de persuasão, eu, Edward, fiz também. A diferença é que aprendi com os erros passados e não os repeti.
Comecei a juntar famílias que compraram móveis na empresa onde trabalhei, fiz com que elas entrassem na justiça para reaver o dinheiro que haviam gasto com produtos de péssima qualidade. Conheci e convenci um advogado “porta de cadeia” a auxiliar-me nesses processos. O pedido de indenização era sempre muito alto, perdemos os primeiros casos, mas com a quantidade de reclamações aumentando, os juízes começaram a dar ganho de causa para os nossos clientes. Repassávamos os valores pagos pelo bem adquirido a cada um, e o restante era dividido entre nós. Esse tipo de prática é sucesso aqui, as pessoas ficam extremamente gratas sempre, viravam seguidores ferozes. O dinheiro compra tudo. Os listei e mantive contato com todos, e a fama do meu amigo advogado foi tomando força e em pouco tempo tínhamos vários outros profissionais trabalhando para nós.
O dono da madeireira faliu, e eu por meio do meu grupo de advogados, comprei o grande prédio onde ficava a fábrica de móveis. Os filhos do meu antigo chefe não quiseram continuar o negócio falido após o suicídio do pai.
Ali nasceu a EVOV. Eu mantinha-me escondido, fiquei sempre apenas como administrador de tudo, ninguém sabia quem eu era. O fato é que para conseguir o que queria, eu precisava de pessoas influentes a meu lado. Foquei nesse objetivo e como um sistema de pirâmide, cada um dos meus aliados ficou responsável por trazer uma certa quantidade de pessoas das mais diversificadas áreas, os que trouxessem os mais valiosos, teria melhores postos dentro da organização. Essa ambição gera vontade, saíram como vampiros atrás de sangue de virgens, se é que elas existem. Assim nasceram os Guerreiros da EVOV.
O templo da EVOV cresceu rapidamente, os nossos palestrantes vinham de várias profissões, mas principalmente médicos e cientistas, isso aumentava a quantidade de seguidores. No templo não se falava em deuses ou santos, trabalhávamos na questão do “EU”, em acreditar em si e mudar a sociedade que sustenta mal feitores vestidos de terno e gravata, sendo eles qualquer função, não destaco nenhum.
Eu cuidava de tudo na minha casa, não mudei nada em relação a isso. Morava no mesmo lugar, não usava o dinheiro arrecadado nas diversas ações que cada vez mais aumentavam para o meu grupo de advogados, para fins particulares, nenhum centavo sequer. Pensei, projetei e alinhei a mudança toda.
Me tornei o melhor em tudo e todos os meus aliados, guerreiros, faziam só o que eu mandava. Eles perceberam que o que eu dizia era o melhor, viram que estando a meu lado, não seriam mais roubados ou enganados. Virei um homem a ser seguido.
Tudo isso parece uma loucura de um psicopata e um caso muito fácil para ser resolvido, mas estavamos acima de qualquer suspeita, a princípio faziamos apenas o bem a pessoas de baixa renda, os protegiamos e devolvíamos algo que os pertencia. O que aprendi com a crueldade dos homens que fazem o seu sucesso em cima da tragédia do outro, mostrou que eu poderia fazer mais por essas pessoas que são fantoches nessa sociedade, onde meia dúzia, concentram juntos a mesma riqueza que os 100 milhões mais pobres do país, ou seja, a metade da população brasileira. Sim! Foi muito mais fácil do que eu imaginava.
Solicitei para o meu grupo de guerreiros cientistas que criassem um vírus mortal, sim, simples assim. Jogamos no ar, ou seja, injetamos em mendigos e presidiários, limpamos a maior parte da sujeira. A única pergunta era “Você acredita em Deus”, se a resposta fosse sim, era injetado. O vírus era simples, após a aplicação, a tosse era quase que instantânea e o contágio também. Os meus guerreiros e eu já havíamos tomado o antídoto, não havia riscos nesse caso. Como tudo nesse país, demorou muito para as autoridades declararem quarentena. O nosso vírus além de ser de fácil contágio e mortal, os meus guerreiros aceleravam o processo contaminando mais pessoas diretamente, dizendo ser a vacina da cura.
Em menos de três meses, o mundo estava quase que completamente contaminado, muitas mortes diárias, países sendo extintos, pessoas enlouquecendo e eu apenas assistia de camarote na minha casa, o aumento de ateus. Havia saído na mídia que apenas eles sobreviveriam, que tudo isso era um castigo de Lúcifer. Eu me diverti muito. Finalmente agora o mundo seria como imaginei, não precisei matar raças, matei crenças idiotas que consumiam o “EU” de cada um. Agora os que ficariam, seriam pessoas inteligentes que acreditam na vida e em reais verdades.
Ordenei que mantivessem alguns religiosos vivos durante a nossa "jornada viral", algo que criei também. Alguns corajosos tentaram nos enfrentar, mas os exércitos tradicionais estavam fracos, foi extremamente fácil contaminá-los, sempre foram muito vulneráveis, jovens sem experiência acreditam em outros jovens sem experiência. Um dos meus guerreiros recrutou vários militares dentro de quartéis e centros policiais. Não existe herói sem vilão e mesmo com pouca resistência eu mandei que os guerreiros saíssem atirando pelas cidades, não permiti que matassem com tiros, seria apenas para causar pânico e fazer com que as pessoas saíssem de suas casas e facilitar a captura. Tudo teria de ser via injeção de vírus. Após isso, criamos outros castigos, copiamos alguns brinquedos de mais dois mil anos atrás que muitos reverenciavam a forma em que ele foi criada.
Havia apenas um medo que acompanhava meus pensamentos: A traição. Como teria certeza de que ninguém se voltaria contra mim? Como saberia que ninguém ousaria pegar o meu lugar. Para que essas perguntas tivessem fim dentro da minha cabeça, junto a meus guerreiros cientistas, solicitei uma solução e imediatamente, começaram o projeto mais ousado de todos os tempos: Um novo cérebro computadorizado, capaz de ser formatado e reprogramado. O protótipo estava pronto e sendo testado em cobaias humanas.
Esse seria o próximo passo, agora era hora de aparecer para o mundo.
O meu gran finale, foi viver o caos por outra perspectiva, queria presenciar alguns momentos com olhar de quem está aguardando a morte, pensei que seria pura adrenalina, então, mandei que construíssem um Abrigo subterrâneo perto do templo da EVOV, o meu camarote seria um pouco mais doloroso, com menos qualidade, não carregaria cruz, nem furaria as minhas mãos, apenas queria ter a última experiência como ovelha antes de virar o grande lobo.
Comigo, levaria uma senhora chamada Magnólia, a minha vizinha que vivia apenas com uma cuidadora, a Maria, linda jovem. As duas sabiam que eu existia, porém, não sabiam quem eu era. A minha esposa não aceitou acompanhar-me. Falando nela, foi a primeira que recebeu o vírus, era contra as minhas ideias e a única que sabia quem era o autor de tudo aquilo e, se não está comigo, está contra mim.
No dia marcado, os guerreiros entraram na minha casa e me levaram fingindo sequestro, o mesmo fizeram com dona Magnólia e Maria. Na saída da casa, percebi de longe que havia um homem junto delas, precisei improvisar, falei para os que me levavam que ele seria o último corajoso, pedi para que não o matassem, e se ele fizesse o que mandássemos, elas ficariam bem. Ele ficou responsável por levar os mantimentos necessários no nosso bunker, só eu saberia quem ele era, e o instruiram a não falar quando estivesse perto. Quando os separaram, soube pelos gritos de Maria que ele era seu marido, tudo ficou mais emocionante.
Nos vendaram e fomos praticamente jogados dentro de um caminhão, os guerreiros gritavam dizendo que nos levariam ao templo EVOV. Dona Magnólia estava atônita e Maria chorava muito, mas não fazia escândalo. Tirei a minha venda e fiquei observando as duas sem dizer uma palavra sequer. Quando passávamos perto do bunker que já estava preparado para mim, forjei uma luta com um de meus guerreiros fazendo que elas acreditassem que eu era um salvador, um herói. O caminhão diminuiu a velocidade até parar e foi nesse momento que peguei nas mãos das mulheres que seriam as provas vivas de quem sou e as levei para o buraco. Disparei alguns tiros para cima e o caminhão arrancou em alta velocidade. As levei para dentro do nosso buraco e pedindo calma, retirei as vendas. Começou ali o nosso curto relacionamento.
O mundo antigo estava morrendo, tudo ia ao ritmo que eu imaginei, os barulhos dos tiros e gritos com a canção vinda do templo era como ópera que eu nunca escutei.
“A nossa vida mudará quando Deus Edward recuperar o poder dele roubado por falsos profetas e casas amaldiçoadas.”
Depois daquele tempo ali, praticamente enterrado em meio a ratos e baratas, comendo pouco e cuidando da dona Magnólia e desejando Maria, percebi que as pessoas não mudam, elas enganam, então mantive-me sereno, sempre mantendo o discurso sobre sobrevivência. As duas ficariam como testemunhas de que me sacrifiquei para ser o verdadeiro líder que a EVOV e o mundo merece. Dona Magnólia era nosso passa-tempo lá dentro, as suas crises nervosas, pesadelos e muitas injeções de insulina nos mantinha com uma rotina agitada e um pouco engraçada. O tempo passou, não faz diferença quanto.
Maria tentou trair-me mesmo depois de tudo que fiz por ela, então, teve que arcar com as consequências. A vantagem disso tudo é que todos que sobreviveram sabem o que passei e concordam com isso. A partir de agora sigo escrevendo sobre o futuro, o passado ficou aí, nessas linhas. Aceitem os fatos, se ainda não foram descobertos, um dia serão, a vacina os aguarda, mude o seu pensamento e seja um guerreiro.
“Eu disse essas coisas para que em mim vocês confiem. Neste mundo vocês não terão aflições; tenham ânimo! Eu venci o mundo”.
Ano 1 - Versículo 2 - EVOV
Esse conto faz parte de uma trilogia. Os outros textos estão em minha escrivaninha...
EM NOME DE UM DEUS QUE NÃO É O SEU e BEM-VINDO À NOVA ERA.
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