Uma embarcação no meio de uma tempestade, tinha uma mercadoria rentável… Eram negros fortes, raivosos, aptos pro trabalho braçal… melhores que burros e cavalos. Mas quem guiava o barco? Onde estava a tripulação? Por todos os cantos só se viam mercadorias
sentadas, amarradas, famintas… unidas por amor ou correntes. O bebê nascia, a mãe o enforcava, a lágrima descia. Guerreira robusta de seios caídos e fartos… não deixaria seu filho nascer para ser escravos… Unidos? Quase colados…! Frio? Não! Só havia medo e grande reverência cantada e berrada, numa rezadeira sem fim. Algo aconteceu durante a noite…e eles foram salvos.
Deixaram suas terras… Deixaram mulheres idosas, crianças chorando à beira do mar… Imploraram misericórdia juraram vingança… e rogavam maldiçoes…feitiços convertidos em palavras de puro ódio. Os homens de armadura e barbas grandes. Quem eram eles? Seriam deuses do mal? Conseguiam manusear o fogo como nunca se tinha visto antes, disparavam bolas de fogo. E eram fedorentos, pegajosos…suavam demais se grudando nos corpos das moças, como animais… uma por uma… uma por uma, por enumeras vezes seguidas, até mesmo as mais jovens.
Homens sendo espancados com fúria, deixados assim, quase mortos; Eram acorrentados e levados à embarcação.

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Maldições…

Frases que jamais deveriam ser ditas. Pactos. Invocações. Todo tipo de força invisível foi solicitada por elas… que dominavam a sabedoria de velhos deuses. Em volta de suas fogueiras, cheias de ódio… clamaram por justiça, matando animais, matando a si mesmas… condenando-se até. Ofereciam todo tipo de oferenda. Desde sangue dos guerreiros mortos a grandes idosos líderes Elas queriam que o universo tivesse ciência da existência dos injustos.

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PARTE 2


Quantos dias, quantas noites….? Quanto tempo passou? Que de fome e rancor padeceram os que viajavam ali? Os homens pretos urravam gritos de guerra. E de repente se fez um estrondo e tudo ficou muito quieto. Quase conseguiram lembrar do que era…

Ter paz.

Os ventos pareciam uivar e afinal a terrível tempestade caiu. A embarcação sacudia enquanto a mercadoria se abraçava, rezando em silêncio. Os homens brancos se reuniam com o capitão, nitidamente assombrados com a fúria imprevista do mar. O que estava acontecendo? O barco sacudia… e os marujos berravam uns aos outros naquele dialeto cuspido, desconhecido e nervoso. Mas era claro que estavam desesperados… aterrorizados.

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Os gritos de dor e agonia ecoaram alguns minutos após a chuva. Um deles gritava tão alto que todos puderam escutá-lo lá embaixo e por alguns segundos sentir até pena. O que os perseguia? O que os caçava lá em cima? Alguma COISA tinha tomado posse da embarcação e estava matando a tripulação um por um… um por um… lentamente e com muito sofrimento. As mulheres negras se olhavam gargalhando em mais puro êxtase, enquanto que os homens continuavam a urrar os mais belos gritos e cantos da guerra. Não podiam ver o que acontecia mas sabiam do que se tratava e comemoravam… mesmo sabendo que morreriam também, perdidos e acorrentados, na imensidão do mar.
A embarcação afinal, com tempos de atraso… atingiu seu destino. Os curiosos chegavam se horrorizando e fazendo o sinal da cruz, quando encontravam os corpos degolados e salpicados dos futuros desbravadores e heróis da nação. Que saíram de lá com fé… com confiança em seu Deus. Dentro do barco, toda a mercadoria estava pode e cheirando mal. Era chocante a visão. Morreram todos sorrindo. Defuntos sorridentes… Filhos de raça antiga. Deuses antigos… Justos e vingativos.