A aparição da barata
Tinham razão aqueles que diziam que as baratas um dia iriam aprontar alguma revolução contra a humanidade. Pois, alguns anos atrás, estava assistindo sentado no sofá um jogo do tricolor que já no primeiro tempo tomava uma sapecada de gols de algum time pequeno destes que existem aos montes por aí. De repente, na cozinha escutei um barulho de passos pesados, passos abjetos, certamente seria uma barata, e das grandes.
Pregado ao sofá, não desgrudava os olhos da televisão, a porra do meu time tentado empatar o jogo, minhas mão suando frio, rezava um trecho do pai nosso, em vão, porque Jesus não mexe com futebol.
O barulho do caminhar repugnante da barata ora aumentava, ora diminuía, mas estava sempre presente, chegava o intervalo do jogo (o tricolor ainda sem conseguir a ventura do empate) fui com passos demorados, pé ante pé até a cozinha, ao acender a luz meus olhos não viram barata nenhuma, tudo estava tranquilo e silencioso, o barulho tinha desaparecido completamente, enquanto um vento gelado soprava pela brecha da janela...
Me acomodei novamente no sofá, para assistir ao segundo tempo que começava na televisão, quanto sofrimento, meu Deus, o time já reiniciara fazendo lambanças na saída de bola com nosso goleiro. Para meu desagrado o barulho asqueroso de barata marchando nas panelas e no armário da cozinha recomeçou. Segui dando mais importância a partida de futebol, meu foco estava no empate, que aconteceu antes dos vinte minutos, alegria! Mais calmo, com a alma leve, resolvi pegar o ser grotesco de calças curtas, numa espécie de emboscada; calcei minhas meias, armei-me de um poderoso Baygon e na outra mão empunhei minha chinela tamanho quarenta e três, devagar, não acendi a luz a fim de não espantar a criatura, ao botar os olhos sobre ela, fiquei imensamente espantado, pois o bicho era do tamanho da palma da mão de um homem! Movimentava suas odiosas antenas, do seu tórax despendia um conjunto robusto de patas cabeludas, ela estava em cima da lixeira, então, me posicionei estrategicamente para descarregar todo o conteúdo do produto venenoso, tsssssssssssssssssssssss, deixei a afogada no líquido espesso e branco que tinha um cheiro forte danado, apesar de a embalagem informar que não fazia mal às pessoas nem às plantas, nem aos bichinhos, mas me pareceu que aquela porra poderia matar qualquer ser vivo, tudo bem, voltemos a baratona...ela convulsionava-se, mexendo suas canhestras patas, enquanto aspirava toda o veneno, logo, morreria asfixiada.
O jogo continuava, chances de gol lá e cá, completamente fora de mim, berrando impropérios cada vez que o nosso atacante tocava errado na bola; os vizinhos deviam me achar um completo maluco. E aconteceu o que parecia, (ao me recordar da cena, a sensação parece mais intensa) um inominável pesadelo: o outro time nos dera um golpe mortal, aos cinquenta da segunda etapa, mais uma vez o São Paulo era eliminado, para vergonha geral, teríamos que seguir adiante, no dia seguinte seríamos alvos de indecorosas chacotas dos torcedores rivais, tudo por causa daqueles jogadores de merda!
Após alguns minutos abandonado no sofá, passando a mão pela cabeça e também tentando respirar pelo nariz, reuni forças e me dirigi até a cozinha para recolher e jogar no lixo a super barata, que para o meu terror já não estava no lugar em que deveria jazer, havia uma rastro de veneno e restos de entranhas da criatura satânica que iam dar direto no ralo, ao reparar que estava destampado, tive certeza de que a aparição fugira por ali, então novamente dei razão àqueles que afirmavam que as baratas uma hora ou outra dominariam a cidade!