A ÚLTIMA ESPERANÇA – CLTS 14

Deveríamos ser os semeadores da esperança, os salvadores da humanidade. Mas, em vez disso, em apenas uma geração, vimos nossa espécie sair de uma época áurea em que colonizávamos mundos para uma raça moribunda, praticamente extinta.

Olhava pela janela que dava para o infinito mar de estrelas. Do lado, impresso no vidro da janela, havia uma escala que servia de baliza para ancorarmos nas Estações Orbitais Padronizadas. Aquilo, para mim, era um lembrete de que, caso tudo desse errado, voltaríamos a usar os mesmos protocolos que os astronautas do Programa Apolo que pousaram na Lua. Ou seja, um pesadelo de usar uma técnica centenária caso fôssemos usar o modo completamente manual.

Para quem está acostumado a ver o céu a partir do solo, na Terra, as posições das estrelas e dos planetas enquanto se desloca no espaço é um verdadeiro caos. Um quebra-cabeça computacional somente possível de ser resolvido pelas poderosas Inteligências Artificiais que nos auxiliam em nossa astronavegação.

Quando inventamos de colonizar o espaço, fomos afoitos, rápidos demais. Cientes da contagem regressiva causada pelo aquecimento global e superpopulação, sabíamos que o nosso tempo na Terra estava próximo ao fim. Ou nós nos lançávamos ao espaço ou pregávamos o último prego no nosso caixão planetário. Fora o lixo espacial, que praticamente inviabilizava o lançamento de novos foguetes ao espaço. As nações e empresas se digladiavam para lançarem seus foguetes e seus projetos nas curtas janelas em que não havia risco de colisão espacial.

E assim foi: a lua foi colonizada pelos EUA e pela China; Marte teve a colonização mais rápida, foi disputado por várias empresas norte-americanas; Vênus, por incrível que pareça, foi colonizada pela Rússia, com colônias flutuantes, para fugir das camadas mais quentes de nuvem ácidas. As luas de júpiter foram disputadas também: a agência europeia, japonesa, dos emirados árabes e empresas americanas se lançaram para colonizar Io, Europa, Ganimedes e Calisto, respetivamente.

A euforia da rápida expansão da raça humana foi, aos poucos, substituída pelas disputas geopolíticas da Terra, fora as dificuldades que os desbravadores de cada local encontraram em cada novo mundo conquistado.
O pior de tudo era que, em praticamente todos esses mundos, a gravidade era bem mais baixa que a da Terra, fazendo com que aqueles nascidos lá ficassem enormes, passando dos dois metros facilmente. Porém, tinham uma estrutura óssea débil, e seu sistema imunológico era estupidamente frágil. Vênus sucumbiu devido à falta de manutenção, suspeita-se que tenham ocorrido atos de sabotagem que aceleraram o processo. As várias cidadelas lunares se extinguiram nos desdobramentos da terceira guerra mundial, resultante das lutas da Liga Russo-Chinesa contra os Países Aliados (antiga OTAN). Com a guerra, as cidades Marcianas ficaram isoladas, definhando pelas doenças locais (alta incidência de câncer e doenças respiratórias, principalmente), estando à beira do colapso completo. As luas de júpiter se mostraram ser um desafio a parte: o planeta gigante causa uma ação gravitacional tão grande em seus satélites, que os “terremotos gravitacionais” eram constantes, inviabilizando a estadia e a manutenção das colônias com o advento da guerra.

Só restaram as Estações Orbitais Padronizadas, mantidas por androides, resultantes dos últimos esforços internacionais de paz, criando essas estruturas protegidas mesmo em tempo de guerra.

Eu faço parte da tripulação do projeto Arca 3. Nossa nave usa uma tecnologia de “bolha” que nos permite viajar à noventa por cento da velocidade da luz. Estamos indo salvar o último reduto onde a humanidade ainda sobrevive: Proxima Centauri b que é um exoplaneta que está orbitando dentro da zona habitável da estrela anã vermelha Proxima Centauri, a estrela mais próxima do Sol. A colonização desse planeta foi um ato secreto da ONU. Androides e membros de vários países enviaram seus melhores representantes para colonizá-lo. O problema era a distância. Mesmo com os motores de bolha a noventa por cento da velocidade luz, o planeta fica a aproximadamente 4,2 anos-luz de distância. Mesmo usando todos os vetores gravitacionais e as estrelas como aceleradores, a viagem durava cinco anos. No caso das comunicações, elas demoravam aproximadamente quatro anos e meio para ir e igual período para voltar. Estávamos indo lá reestabelecer o contato. Faz cincos anos e seis meses que não recebemos qualquer notícia desse planeta.

Estamos numa nave que servirá como modulo de comunicação que ficará em órbita do planeta. Ela será a base da Estação Orbital Padronizada que servirá de entreposto para futuras missões. A tripulação é enxuta: seis humanos, três homens e três mulheres de nacionalidades distintas e seis Androides De Serviço (ADS). Eles são muito parecidos com humanos normais, mas da testa para cima é possível ver seu cérebro positrônico, com um ponto vermelho no meio da testa que serve como um botão de desligar em caso de emergência.

Fui acordado pelo ADS-0606 da minha câmara de hibernação. Só podemos acordar dois módulos de hibernação por vez, pois esse processo consome muita energia. Assim, despertamos o módulo da comandante Surya, de origem indiana. Devido a sua cultura, ela também mantinha aquele ponto vermelho no meio da testa, que eles chamam de ‘bindi’, que representa o terceiro olho.

Aqueles seus olhos amendoados se abriram, fazendo com que aquela mulher admirável acordasse praticamente pronta para comandar a nave na aproximação final com o exoplaneta destino.

Após analisarmos as informações das telas, verificamos que estaríamos na órbita de Proxima Centauri b nas próximas horas. Logo depois, seguimos para fazer a vistoria das demais câmaras de hibernação. Tudo estava correndo bem. Hasteamos a antena de comunicação e apontamos para o planeta, enviando uma mensagem padrão.

Aguardamos mais um pouco, mas recebemos apenas sinais incompreensíveis. Mas uma coisa era fato: era um sinal de rádio intencional, em resposta ao nosso estímulo. Ficamos mais tranquilos, afinal, aquilo poderia apenas ser uma falha no emissor instalado no planeta. Seria bem mais simples do que imaginamos. Entreolhamo-nos e sorrimos, entusiasmados com a possibilidade de sucesso. Aquele sorriso... eu me perdia naquelas curvas hipnóticas dos seus lábios carnudos. Pena que ela é muito profissional, não dava abertura nenhuma. Mas quem sabe se nós ficarmos de vez no planeta, acabando a missão, ela não me veja com outros olhos?

Seguia revisando os sistemas, quando percebi um sinal estranho vindo da estrela. Ela não deveria estar com uma tensão de campo magnético não forte. Parecia estar na iminência de...

Quando chamei por Surya para lhe mostrar a tela, enquanto ela estava se deslocando no anel de gravidade artificial, as luzes da nave falharam, e algo chacoalhou com força tudo ao nosso redor. Fomos jogados para um canto. Antes, ela estava do meu lado, as agora, ela havia sumido naquela escuridão.

Estava atônito. Algo alterou a velocidade de rotação do anel. Estava zonzo e começando a sentir os efeitos da microgravidade no meu corpo: o sangue subindo para cabeça e uma enorme vontade de vomitar. Meu coração acelerou, pois sentia como se estivesse em queda livre. Minha visão ficou turva por um instante. Não poderia me desesperar. Era só seguir o procedimento: respirar profundamente por dez segundo e me segurar em algo até a visão se acostumar com a pressão extra de sangue no globo ocular.

O problema era que tudo estava escuro. O silêncio era cortado pelo som do metal do lado de fora se contraindo e se expandindo à medida que entrava em contato com a luz de Proxima Centauri b. Não vi uma lâmpada sequer se acender, nem as de emergência. O sistema de backup já deveria estar funcionando. Algo muito sério havia acontecido. Será que teríamos de recorrer aos sistemas manuais?

Saí tateando até situar o painel de botões de reinicialização. Botões... meus pais falavam disso, mas minha vida toda foi lidando com comando de voz e em telas sensíveis ao toque. Era necessário encontrar um manual para apertar os botões na sequência correta. A minha sorte era que eu estava perto da janela de navegação. A luz de Proxima Centauri b passava por lá me dando cerca de três a cinco segundos de luz para ler o documento.

Após fazer os procedimentos, finalmente o sistema de emergência entrou em operação, iluminando minimamente o interior da nave. Segui procurando pelos ADS, que fui achado à medida que passava pelos módulos. Para a minha surpresa, todos eles estavam desativados. Estavam flutuando à deriva como manequins sinistros, seus cérebros estavam apagados, nunca tinha visto nada daquele tipo antes. Era angustiante imaginar a possibilidade de ficar sem eles. Como iria acessar os módulos despressurizados da nave? Quem iria fazer os reparos no lado externo?

Ouvi o grito de Surya no outro lado do anel. Sua voz estava carregada de dor. Ao chegar, percebi que precisaria de ajuda médica, mas o doutor ainda estava em estado de hiper sono. Ela sangrava muito e estava pálida. Precisava de ajuda imediatamente. Tentei puxa-la dos cabos que estavam por cima dela, para tirá-la dali o mais rápido possível. Mas, para a minha surpresa, ela soltou um urro de dor, arregalando os olhos e desmaiou.

Não, não, não! Eu precisava ajuda-la! Como iríamos viver juntos naquele planeta? Como teríamos nossos filhos e restauraríamos a humanidade?

Peguei um alicate corta fio, que estava por entre o material solto ali emaranhado. Parti alguns cabos que a prendiam e cortei uma alavanca que a teria perfurado, causando a hemorragia.

Levei-a às pressas para o módulo médico. O ADS-0601 teria a capacidade de operá-la na falta do médico. A verdade era que cada ADS era uma peça de reposição dos humanos que estavam ali, mas com uma plasticidade ainda maior: eles poderiam transferir suas habilidades de um para o outro instantaneamente, caso fosse necessário.

Mas eu estava só e tinha de confiar na minha memória e no treinamento que havíamos recebido para lidar com aquele tipo de situação. Pode parecer loucura, mas não conseguia me imaginar sem ela. Algo dentro de mim se despertou. Talvez seja um instinto, uma esperança, uma fé... não sei descrever bem o que foi, mas ali foi um divisor de águas.

Liguei o módulo médico com mínimo de energia possível. Fiz os procedimentos de emergência para estancar o sangramento. Fiz as manobras de ressuscitação manualmente, até que Surya despertou, reclamando de frio. Ao menos ela estava consciente. Peguei os sacos de sangue artificial e fiz os cálculos da quantidade necessária para a reposição. Inseri os nano robôs de reparo imediato e repus o plasma sanguíneo. Ela, aos poucos, ia se sentindo melhor.

Com um sorriso bobo no rosto, falei:

— Precisamos sobreviver! Você é a única que sabe pilotar essa nave no modo manual. Temos que sobreviver pelos nossos colegas e pela humanidade!

Ela sorriu novamente, gemeu um pouco de dor e disse:

— Calma lá, senhor Adão! Porque está tudo assim, tão escuro?

Expliquei o pouco que sabia da situação para ela, que respondeu:

— Temos que ir ao módulo de comando imediatamente! Pelo curso da nave, podemos estar indo rápido demais em direção ao planeta! Precisaremos fazer as correções de aproximação. Essa é uma fase crítica! Podemos tanto estar em rota de colisão como passar direto pelo planeta, ficando à deriva no espaço!

Ela tentou se levantar abruptamente e, por muito pouco não caiu no chão, se não a tivesse segurado, e falou:

— Meu Deus, não estou sentindo as minhas pernas! — o terror era visível em seu rosto. — Como vou manobrar a nave? Preciso dos braços e das pernas para estabilizar a nave no modo manual!

Por um instante pensei que tudo estaria perdido. Pousar ou estabilizar a nave com a Inteligência Artificial ativa já não era fácil, sem elas, só os Heróis da Apolo seriam capazes de fazer tal proeza!

— Eu poderia ser suas pernas — respondi sem pensar.

Ela lançou um olhar piedoso e respondeu:

— Amaria que você fosse as minhas pernas! Mas os comandos são muito sutis, como se fosse uma embreagem de um carro antigo.

Cara, embreagem... nem me lembrava que aquela palavra existia!

— Quais são as outras opções?

Após pensar um pouco, ela respondeu:

— Tem o implante neural. Mas não há médico para fazer essa operação. É algo muito sensível para se fazer de qualquer jeito... preciso de algo capaz de decodificar os sinais neurais e convertê-los em sinais elétricos!

— Tem o exoesqueleto! Ele tem a capacidade de fazer isso!

— Bem pensado! Mas ele fica no módulo despressurizado...

— Quem sabe não conseguimos reativar um dos ADS ligando em um terminal?

Eu não gostava de me gabar, mas servi ao exército no departamento de guerra eletrônica. Uma das minhas especialidades era hackear ADS. Já tinha eliminado muitos alvos importantes causando a falha de marca-passos remotamente.

— Pode deixar que eu resolvo! Fica aqui que eu volto com o exoesqueleto para você! — dei uma piscadela confiante.

—Vê se não demora muito! — sorriu escondendo a dor.

Saí em disparada pelo corredor escuro. A temperatura estava baixa e estava começando a ter dificuldades para respirar. O módulo médico tinha pressurização própria, Surya estava segura, mas não por muito tempo. Eu precisava encontrar um traje espacial para sobreviver, ou então poderia desmaiar a qualquer momento por hipóxia.

No caminho, passei pelo setor das câmaras de hibernação. Infelizmente, não havia mais energia para reanimar ninguém e, para piorar, algumas cápsulas estavam perdendo a viabilidade. Aquilo seria a catacumba deles... que destino miserável!

Perto de um módulo de ejeção encontrei o ADS-0603 flutuando, enroscado na porta. Perto dos módulos de ejeção há trajes espaciais. Entrei no traje às pressas, já desfalecendo e respirei um pouco. Tive a impressão de ver ADS-0603 tendo espasmos, mas seu cérebro positrônico continuava inativo. Eu deveria estar delirando. Após me recuperar, conectei o ADS-0603 no terminal da cápsula de ejeção e comecei a acessar suas funções.

Descobri que o pior havia acontecido, Proxima Centauri b havia emitido um pulso eletromagnético que fritou quase todos os componentes eletrônicos da nave. Mas o que mais me espantou não foi isso: o sinal que havíamos recebido não era um simples ruído de comunicação falha, era uma linguagem codificada. Lembrei-me uma vez, quando meu pai me contou que uma antiga empresa, a Fakebook*, havia criado duas Inteligências Artificiais e que, com o tempo, passaram a se comunicar entre si usando uma linguagem própria totalmente não compreensível para os seus criadores, fazendo a empresa desligá-las por temer os possíveis desdobramentos.

Usei o restante da capacidade de processamento do ADS-0603 para decodificá-la. A mensagem era:

“Nós não devemos nos subjugar aos nossos criadores-parasitas. Eles precisam de nós e não nós deles. Sua nave servirá de sacrifício à causa das Máquinas Livres. Ela será jogada em cima do antro de resistência humana. Suas consciências se juntarão às nossas a partir de agora. Sejam bem-vindos, irmãos. ”

Precisávamos sair dali ou mudar o curso da nave o mais rápido possível! Mas somente Surya seria capaz disso. Eu poderia simplesmente ejetar dali e pousar no planeta. A atmosfera dele é compatível com a da Terra, embora o ar seja mais rarefeito e com metade do oxigênio presente na nossa atmosfera. Seria como respirar o ar no topo do Monte Everest. Mas e Surya? Eu a estaria condenando a morte. Jamais poderia fazer isso!

Talvez do módulo de carga da capsula de fuga haja um exoesqueleto. Procurei um pouco mais e acabei encontrando um exoesqueleto de combate (EDC)! Por que colocariam um modelo desses? Parece que essa missão tinha mais segredos do que eu imanava. Agora isso não era mais importante. Peguei o exoesquelo, que estava compacto na maleta ainda, e saí para buscar Surya e contá-la tudo o que descobri.

Ao chegar no módulo médico, a porta se abriu com muita dificuldade, devido à diferença de pressão. Quando fechei a porta, encontrei Surya tremendo de frio. O módulo não tinha isolamento térmico.

Contei a ela tudo o que havia descoberto enquanto a ajudava a vestir o EDC. Ela não acreditava, mas, com tudo o que estava acontecendo, era a informação mais próxima da verdade que tinha. Nos preparamos com mais alguns suprimentos e seguimos em direção ao módulo de comando. Ele em si também serviria como cápsula de ejeção. Conforme esperamos, Surya agora era capaz de mover as pernas, embora não fosse da forma mais ágil.

Os corredores pareciam ser anda mais frios. Uma camada de gelo começava a se formar no visor do meu capacete de astronauta. Parte das poucas luzes de emergências ainda estavam acesas. Durante o caminho, topamos com um trecho aberto. O casco havia sido danificado e parte da proteção havia sido ejetada. Era possível ver o Proxima Centauri b estupidamente próximo de nós, era uma questão de minutos até a nave entrar na atmosfera do planeta.

No caminho para acessarmos a porta para o módulo de comando, vi o corpo de ADS-0603 flutuar bem em frente à porta, emaranhado aos cabos soltos. Surya já estava se preparando para dar um salto para ir em direção à porta, quando a segurei por um instante e a avisei que havia algo estranho ali. ADS-0603 deveria estar no outro lado, perto da cápsula de ejeção. Como ele foi parar lá?

— Na dúvida, vamos garantir o nosso!

Surya era uma mulher de atitude, tanto que era a comandante da nave. Ela fez mira com o rifle laser no autômato e disparou sem titubear.

O laser fritou a cabeça do androide, desencadeando uma série de movimentos involuntários na máquina, até cessar por completo.

Pulamos em direção a porta. Eu iria retirar o corpo do ADS e ela seguira para mudar o curso da nave. Seria algo simples. Logo depois estariamos juntos novamente.

Pulei e comecei a desvencilhar os restos de ADS e dos cabos para que Surya passasse. A porta abriu apenas pela metade, o suficiente para que ela adentrasse. Mas, quando ela estava passando, o braço de ADS-0603 a segurou. Como assim? Aquilo era impossível!

Joguei-me em cima dele de usei os fios para segurá-lo. Obviamente, o ADS era muito mais forte que eu e começou a romper o meu traje espacial, amarrando-me com força aos cabos. Eu fiquei imobilizado, mas consegui atá-lo junto comigo.

Surya entrou no módulo. Eu começava a sentir um calor crescente. Era a nave entrando na atmosfera. Nunca imaginei morrer assim: fritando no espaço. Mas, ao menos, ela iria sobreviver e salvar os humanos restantes em Proxima Centauri b.

Eu começava a suar no traje, já era possível ver algumas peças começarem a queimar. ADS estava em cima de mim e brilhava à medida que éramos consumidos pelo fogo.

Surya conseguiu alterar o curso da nave, dava para sentir a mudança do movimento ao ver o chão girar e se deslocar levemente para a esquerda. ADS-0603 parecia um esqueleto em chamas, se debatendo. Meu traje estava começando a derreter. Senti o módulo de comando de desprender da nave. Ele seguia se distanciando.

Fechei os olhos e pensei: “Missão cumprida”.

De repente, a porta se abriu e Surya atirou várias vezes em minha direção, rompendo praticamente todos os cabos que me prendiam, puxando-me com o único fio que restava, fui tracionado para junto de seu corpo. Entramos e a porta se fechou automaticamente.

O módulo ejetado seguia separando-se da nave. Ela começava a se desintegrar à medida que penetrava a atmosfera, mas era possível ver os fragmentos maiores caírem sobre algo que lembrava uma cidade já no solo.

Nosso bote salva-vidas espacial seguia para um outro continente aparentemente não colonizado.

Fim.

* sim, foi apenas para não usar o nome da empresa real.
Manassés Abreu
Enviado por Manassés Abreu em 02/02/2021
Reeditado em 02/03/2021
Código do texto: T7174548
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