Aniquilação

Estruturas ovaladas rasgaram o céu púrpura de um mundo distante tomando pra si a atenção da vida que habitava o lugar. De imediato, mães pararam de amamentar, os pequeninos cessaram as correrias ao derredor, os líderes, nas densas matas, embargaram a caçada e os que se encontravam no interior de suas construções primitivas irromperam à área externa.

As naves?, suspensas abaixo das nuvens, começaram a emitir um retinir intervalado, que foi ouvido talvez por todo o planeta. Os seres presentes no solo observavam, bovinamente, aturdidos e levemente receosos, mas a curiosidade era glacial naquele momento. O que seriam aquelas coisas?

Após o início da cacofonia sonora por parte das estruturas flutuantes alguns dos nativos correram para dentro de suas tocas, as mãos erguidas em excitação e medo, e apenas levemente inclinados para fora fitavam aquele estranho fenômeno. A grande maioria permaneceu a céu aberto com as atenções voltadas para cima. Esperando o próximo passo.

De repente, o compartimento inferior das naves se escancarou. E de lá saíram várias esferas metálicas, talvez centenas. Com esse novo fato, mais um tanto de espectadores se puseram à correr e entraram nas suas cavernas. Os que permaneceram em plateia aberta prostraram as mãos em frente à face e curvaram seus corpos. Numa tentativa instintiva de se proteger. Mas continuaram a assistir àquilo por entre os dedos.

As esferas, de repente, eclodiram. Do seu interior, um pó dourado se expandiu como uma nuvem de ouro, escurecendo a terra abaixo. E logo após tomar todo o céu, despencou na terra. E como um manto nefasto de ouro, embrulhou à todos que se encontravam no solo.

Os nativos começaram a correr em agonia. A carne dos seus corpos, banhados pelo pó dourado, começaram a encrespar. A nuvem sulfurosa abriu fendas na pele deles e jatos de sangue eram lançados em todas as direções. Ganidos e uivos guturais puderam ser ouvidos. Com o avanço da corrosão, a pele e os músculos começaram a soltar dos ossos.

O que se viu em seguida foi uma horda de desmembrados se arrastando no solo e urrando. Dos pequeninos aos mais velhos. Sem entender o porquê daquilo.

Enquanto isso as naves permaneciam dispostas e imóveis no ar, agora em total silencio, assistindo àquele circo sangrento. Quando o último corpo no solo parou de se mover os discos romperam os céus e sumiram para imensidão do espaço. Deixando para trás a mais pavorosa ilustração.

Leonardo Castro
Enviado por Leonardo Castro em 25/01/2021
Reeditado em 13/05/2021
Código do texto: T7168545
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