Catalepsia

Paulo Otávio acordou nu, com um frio danado, num lugar inusitado e sinistro: uma mesa metálica de necrotério. Tentou se levantar, mas não conseguiu. Não conseguia mexer nenhuma parte do corpo, nem mesmo os olhos que, abertos, só viam as luminárias e o teto branco que, longe de o acalmar, o assustava ainda mais. Impotente, Paulo Otávio tenta gritar, mas o grito fica entalado na garganta. Ele está preso àquele lugar e não pode fazer nada para sair dali. Seus ouvidos, entretanto, continuam funcionando normalmente. Paulo Otávio ouve uma música clássica que não sabe se é de Wagner, Bach, Beethoven, Mozart ou de outro grande compositor clássico alemão. Só sabia que era uma melodia triste e monótona que seu bisavô paterno, de origem germânica, costumava ouvir. De repente, Paulo Otávio ouve o barulho de passos. Alguém se aproxima. Ele tenta se mexer. Mas em vão. Grita e o grito não sai. E, então, Paulo Otávio vê um homem idoso vestido de branco, careca e extremamente magro, em pé, a sua frente. O “velho” que deve ter mais de 90 anos, beija o braço esquerdo enrugado pelos anos, tatuado com pequenos números pretos, e inclina-se sobre o corpo de Paulo Otávio. Com um bisturi afiado, o idoso rasga o ventre de Paulo Otávio como se rasgasse o de um porco. Paulo Otávio sente uma dor lancinante até não sentir mais nada. O “doutor”, após fazer “seu trabalho”, sai da sala cantarolando “Lohengrin” de Richard Wagner com um sorriso no canto da boca. Um sorriso de ódio, desprezo e de vingança...

FIM

Luciano RF
Enviado por Luciano RF em 09/01/2021
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