Uma noite amaldiçoada

O que irei lhes contar hoje, aconteceu comigo há pelo menos dez anos, sim... Já faz um tempo, mas isso é como um grande trauma e que evito contar, mas acho que irão gostar, afinal, é a típica história de terror de sempre, nada de mais, eu diria. Enfim... Vamos lá.

Era uma noite chuvosa e bom... Estava na casa de um amigo meu, e justamente naquela noite, decidimos tentar algo completamente radical e inusitado, principalmente para dois garotos jovens igual a nós.

Lembro que trovejava muito, a chuva estava bem forte, era até possível ouvir o assobio do vento passando pelas portas e janelas da casa, o que tornava aquela noite ainda mais assustadora e tenebrosa. Jonas já estava em sua sala, enquanto isso, ia pegando alguns itens que seria preciso para fazermos tal loucura.

Ao terminar de pegar tudo, me junto mais uma vez de Jonas, que me olhou um tanto espantado e receoso, mas com um ar de que sabia o que estava fazendo naquele momento. Coloco tudo no chão, mas sem tirar meus olhos do garoto, que engolia seco e suava frio.

- Você tem certeza do que está fazendo, né? Eu realmente espero que sim... Não quero ser possuído ou sei lá o que essas coisas fazem.

Jonas apenas engoliu seco e balançou a cabeça de uma forma positiva, deixando claro que sabia sim o que estava fazendo ali. O garoto dá um sorriso fraco, logo, voltando sua atenção para o tabuleiro ouija que havia recém comprado, justamente para tentarmos fazer nosso contato com qualquer espírito ou coisa parecida que tivesse em sua casa.

- Nick... Independente do que aconteça aqui, ficará apenas entre nós, entendido? Ninguém pode saber sobre isso, muito menos nossos pais e amigos. Vi que esse negócio é realmente sério, e bom... É melhor testarmos na prática, ok?

O garoto pareceu realmente sério diante aquela situação, demonstrando firmeza e determinação. Era nítido que Jonas faria de literalmente tudo para que tal experimento funcionasse, já que o próprio vivia assistindo vídeos e até mesmo lendo livros sobre esse assunto.

Confesso nunca ter acreditado nesse tipo de coisa, nunca fora o meu forte, eu realmente não curtia, queria distância desse tipo de experiência, mas sabe como é. Jonas e eu, somos melhores amigos desde sempre, por isso, não poderia deixa-lo na mão, e é exatamente por sermos melhores amigos, que topei fazer tal loucura ao lado dele.

- Sim... Sei disso, você já me falou essa merda mais de dez vezes só hoje. Enfim, vamos fazer esse contato ou não? Já estou ficando arrepiado e nós ainda nem começamos.

Dizia enquanto olhava nos olhos do garoto, sentindo aquele enorme arrepio em minha nuca, que logo se espalhou pelo meu corpo inteiro. Jonas coloca a mão sobre um de meus ombros e sorri fraco mais uma vez, mostrando que estava preparado, mas era nítido seu olhar de medo e receio.

- Eu sei que não acredita nesse tipo de coisa, mas sabe como é.... Pode ser algo completamente surpreendente para você. Principalmente por nunca ter tido tais experiências com o mundo espiritual.... Mas é preciso, enfim, já enrolamos de mais.

Era nítido o nervosismo presente no ambiente, até porque, nunca havíamos feito algo assim, principalmente eu, justamente por não acreditar no sobrenatural. Sempre achei uma grande baboseira, literalmente... Nunca entendi muito bem do que se tratava esse tipo de coisa, era algo confuso e no mínimo esquisito.

Vejo Jonas se levantar no mesmo instante em que havia comentado aquilo comigo. Apenas o observei, logo, ele me pede para ajudá-lo com todo o procedimento de contato com o possível ser sobrenatural que apareceria para nós. A chuva foi ficando cada vez mais e mais forte, assim, junto da grande ventania, que também se fazia presente no local.

Ambos se olharam, engoliram seco e continuaram com o procedimento que já havia iniciado: Velas, sal grosso, três cruzes e por fim, uma bíblia, caso tudo vá por água abaixo. Esses foram os itens que Jonas separou, para que assim, tudo ocorresse no mínimo bem, afinal de contas, essa, seria a primeira vez que faríamos algo assim.

Levamos cerca de vinte minutos para preparar literalmente tudo, e ao terminar, Jonas pegou seu tabuleiro, deixando-o no centro da sala, onde nós estávamos. Nos olhamos uma última vez, suspiramos, por fim, demos início do contato.

- Você tem certeza de que quer fazer isso, Jonas... Eu não sei, mas estou sentindo que alguma coisa vai dar errado nisso. Pensa bem, estamos sozinhos aqui, se algo acontecer, quem irá nos socorrer?

Confesso que nesse momento, fiquei receoso, quase dando para trás, já que nunca havia feito isso, muito menos Jonas. E se fôssemos possuídos ou sei lá? Não tinha literalmente ninguém para nos socorrer caso acontecesse com ambos. O garoto apenas meneia a cabeça, demonstrando desapontamento com o meu comentário.

- Não... Não vou desistir agora, Nick. Mas vou entender se você quiser desistir, afinal, sempre foi um covarde mesmo.

Naquele momento, exatamente naquele momento, um ódio subiu e uma grande vontade de soca-lo veio à tona. Mas me controlei, queria mostrar que eu não era covarde coisa nenhuma e que podia muito bem fazer aquela merda também. Olhei para o garoto, dando um suspiro.

- Eu vou te mostrar quem é covarde aqui, Jonas. Vamos, quero ver essa merda ainda hoje.

Jonas riu com o meu comentário, pois sabia que aquilo aconteceria... O garoto sempre tirou sarro de mim, principalmente por esse tipo de coisa e até mesmo outros milhares de motivos. Crescemos juntos, portanto, nos conhecíamos dos pés à cabeça. Por fim, ele volta sua atenção para o tabuleiro, assim, fazendo um gesto, para que assim, eu colocasse minhas mãos no ponteiro do tabuleiro.

- Agora que colocamos as mãos no ponteiro, não podemos tirar, caso contrário, o pior pode acontecer. Ou seja... Estamos bem invulneráveis, enfim. Podemos?

Apenas respondi de forma positiva com a cabeça, assim, dando início ao nosso contato com o possível ser que fosse aparecer por ali. Jonas deu a liberdade de nos apresentar para sabe-se lá quem, logo, fez a primeira pergunta.

- Tem alguém aqui, além de nós dois? Caso sim, nos dê um sinal, por favor...

Nada acontecera, literalmente nada, fizemos essa mesma pergunta por pelo menos cinco vezes, e em nenhuma delas aconteceu algo. Olhei bem para a cara de Jonas e suspiro.

- Você está fazendo esse negócio direito? Será que não pulou nenhum tipo de etapa ou sei lá? Sinto que fizemos algo de errado.

Antes que Jonas pudesse dizer algo, o ponteiro começou a se mexer sem parar... Literalmente. Jonas me olhou e eu olhei para Jonas, como se ele estivesse pregando algo contra mim. Lhe dou uma ombrada, assim, ficando um pouco irritado.

- Qual o seu problema? Acha mesmo que vou cair nessa? Já faz pelo menos uns dez minutos que estamos nessa e a merda do ponteiro não mexeu. Aí por coincidência, ele mexe... Assim, do nada? Me poupe, Jonas.

Jonas ficou sem entender o meu motivo de estar bravo, já que o garoto havia sentido o ponteiro mexer literalmente sozinho enquanto eu terminava de falar. Ele me olha incrédulo e com os olhos um pouco arregalados.

- NICK! Você sentiu exatamente o mesmo que eu! Tem como parar de ser ingênuo? Eu não faria algo assim com você, me poupe.

Ambos voltam a atenção para o ponteiro, que já havia cessado, assim, nos dando a chance de perguntar mais alguma coisa para o suposto espírito que acabara de mexer o ponteiro. Dessa vez, eu me dei a liberdade de perguntar algo.

- Já sabemos que está entre nós... Agora nos diga... C-Como se chama?

Jonas e eu apenas nos concentramos no contato com a possível entidade, espirito, demônio, seja lá qual merda era aquela. Sentimos o ponteiro se mexer mais uma vez, mas agora, estava formando uma palavra. Lilith, pra ser mais exato... Senti que no fundo, Jonas estava apenas zoando com a minha cara, e que tudo aquilo, era uma simples baboseira sem futuro algum.

Nesse momento, o garoto olha para mim no mesmo instante, e bom... O olhar assustado e amedrontado era claro. Ele não estava mentindo, e aquilo estava realmente acontecendo entre nós, ambos se olham rapidamente, logo, voltando nossas atenções para o tabuleiro e para o ponteiro, que finalmente havia cessado mais uma vez.

Respiro fundo, mas fora em vão, eu já estava extremamente amedrontado, aflito e totalmente fora de si. Eu realmente achei que toda essa merda, só acontecia nos livros, filmes, séries... Enfim. Nunca achei que isso fosse acontecer de fato na vida real, e posso dizer que, era algo surreal até demais. Principalmente para dois garotos da nossa idade.

Devíamos ter por volta de quinze anos, não lembro ao certo, mas aqui fica o meu aviso... Nunca... Nunca duvide de literalmente nada, ok? Você realmente poderá se arrepender e de uma forma muito grande, assim como eu e Jonas. Enfim... É melhor eu continuar, porque eu só estou apenas começando, essa é só a pontinha do iceberg.

Quando Lilith se apresentou, ficamos em choque, literalmente... Nunca pensamos que aquilo fosse de fato dar certo, mas assim que obtivemos uma resposta... Decidimos ir mais a fundo e descobrir um pouco mais sobre essa possível entidade que pairou sobre nós. Enquanto isso, a chuva não colaborava, estava bem mais forte do que antes. Jonas segurou firme o ponteiro do tabuleiro, assim, fazendo mais uma pergunta.

- Lilith... Onde você está neste exato momento...?

Ao finalizar sua pergunta, senti um breve arrepio em minha nuca, como se alguém tivesse passado a mão por ela. Foi nessa hora em que notei de que Lilith estava de fato ali, conosco. Deixei que ela respondesse por si só, já que espíritos costumam ser totalmente misteriosos e assustadores. Por fim, o ponteiro se mexe, formando mais uma frase: ‘’ sala de estar’’.

Jonas nesse momento surtou e acabou soltando o ponteiro, coisa que ele havia me dito que jamais deveria ser feito, pois assim, irritaria a entidade, justamente por não ter permitido sua saída diante o pacto. Olhei para o garoto, que estava com seus olhos completamente arregalados e o rosto totalmente pálido, sem cor alguma.

- Jonas... Você não fez o que eu acabei de ver, não é mesmo...? Você... Tirou a mão do ponteiro, coisa que você mesmo havia me dito que jamais deveria ser feito. E agora? Isso não irá irrita-la?

O garoto me olhou completamente assustado e sem saber o que dizer exatamente, ele apenas se levantou e correu para o banheiro. Eu não soube o que fazer, não sabia se ia atrás dele, não sabia se continuava com as mãos no ponteiro e tentava o contato com Lilith, ou simplesmente jogava tudo pro ar e ficaria por isso mesmo.

Tomei coragem e continuei sozinho, talvez não desse tanta merda assim, pelo menos foi o que eu tinha achado. Já disse... Eu era inocente e ingênuo, só estava ali devido Jonas, que não queria fazer tal merda sozinho. E eu já sabia que daria errado ou que um dos dois iria amarelar e dar para trás. Respirei fundo, logo, voltando minha atenção para o tabuleiro e para o ponteiro, decidindo fazer mais uma pergunta para Lilith.

- Lilith... Você ainda está aí? Está irritada...?

O ponteiro não se mexeu, não fez literalmente nada, mas ao olhar para o meu lado, vejo a televisão começar a chiar e de dentro dela, uma voz surgia... Uma voz feminina para ser mais exato. Eu não sabia se estava alucinando ou se estava realmente presenciando aquela anormalidade da televisão.

Como Lilith não havia dado sinal algum, decido largar tudo e ir atrás de Jonas, que ainda estava trancado no banheiro. Fui andando o mais rápido possível, mas sempre olhando para a televisão, que ainda chiava e reproduzia a tal voz feminina, que na minha opinião, era de Lilith, que de certa forma, tentava se comunicar conosco. Ao chegar no banheiro, começo a bater na porta incansavelmente.

- JONAS!! JONAS!! Você está bem...? Cara, o que aconteceu com você?? A tv começou a fazer um chiado estranho e uma voz está saindo dela...!

O silêncio permaneceu no ambiente, Jonas não dera sinal algum de vida, já a tv, simplesmente parou com o chiado e para o meu azar, a voz começou a dar gritos ensurdecedores. Olhei em direção da tv, e uma imagem feminina estava presente dentro dela... E não, não era igual à da garota lá do poço.

Ela era ruiva, mas com um aspecto totalmente acabado, rosto completamente pálido e desfigurado, como se de alguma forma, alguém tivesse cortado suas bochechas, seus olhos eram completamente negros e sem vida alguma. Por fim, a vejo começar a sair de dentro da televisão, ao ver aquilo... Meu coração acelerou de uma forma... Fora como se eu tivesse corrido uma maratona inteira. Voltei minha atenção para a porta do banheiro, batendo sem parar, entrando em total desespero, já que Jonas não dava sinal de vida.

- PORRA JONAS!! PARA DE GRAÇA!! ME DÁ UM SINAL DE VIDA, CARALHO!! ANDA!! EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ AÍ!!

Segundos se passaram e nada do garoto se pronunciar, mas a cada segundo que passava, Lilith saia ainda mais e mais de dentro daquela bendita televisão. Eu realmente estava apavorado, mas acabei lembrando de algo que Jonas havia me dito... Sal grosso impedia de que os espíritos nos tocassem ou tentassem qualquer coisa. Corri o mais rápido para a sala, onde o sal estava dentro de um potinho, não pensei duas vezes e decido jogar por cara perímetro daquele cômodo, assim, ao meu ver, não seríamos atacados por Lilith... É, foi o que eu havia pensado também.

Após longos minutos, finalmente Jonas decidiu dar as caras, mas posso dizer que, o garoto estava completamente estranho... Muito mais pálido do que o normal, olhos mórbidos, como se fosse de fato um morto vivo. Corri em sua direção, tentei sacudi-lo, para que assim, ele voltasse a si, mas sem êxito. Decido lhe dar um tapa no rosto, no intuito de que ele voltasse ao normal... Respiro fundo e lhe bato no rosto.

- JONAS!! ACORDA, PORRA!! OLHA A MERDA QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI E VOCÊ FICA BRINCANDO COMIGO?? QUAL O SEU PROBLEMA?!?!

Jonas apenas riu, riu muito alto... Como se estivesse literalmente fora de si. Foi exatamente aí, que percebi na merda em que havia me metido... Eu sabia que não deveria ter aceitado a proposta do garoto. Ambos eram inexperientes nesse tipo de assunto, mas ainda assim, decidiram ver no que daria. Fiquei me perguntando o que estava fazendo ali... Até duvidei de que aquilo tudo, fosse armação de Jonas. Mas estava tão realista, tão assustador, que descartei essa possibilidade.

O clima estava bem sombrio, a temperatura do local começou a abaixar muito rápido. Eu já estava tremendo os dentes, de tão fria que a casa começou a ficar... Então não... Não era uma simples armação de Jonas, ele não seria capaz de bolar algo tão macabro e pesado desse jeito.

Acabei me distraindo tanto, que mal pude ver que Lilith havia saído por completo da televisão... Sua forma era realmente horrenda e macabra. Notei que o sal não tinha feito efeito, até porque, Lilith estava cara a cara comigo... E eu... Bom, já não podia fazer absolutamente nada, além de aceitar que ficaria igual Jonas. O espírito lançou seu olhar contra mim, logo, abrindo seu enorme sorriso macabro, mas pude ouvir ela dizer algo... Algo horrível e medonho, que lembro até hoje...

- Você é o próximo... Pequeno ser curioso... Sua alma será minha por toda eternidade.

B Folk
Enviado por B Folk em 08/12/2020
Código do texto: T7130735
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