Não estamos sozinhos pt3
Os dias se passaram com pouca expressividade. Não fui atrás de saber sobre o que o velho me escrevera. Aceitei que tudo aquilo não passou de uma infeliz coincidência e decidi seguir com minha vida.
Naquela manhã acordei um pouco atordoado, Lucas me informou na noite anterior que poderia surgir uma vaga em seu departamento e eu, finalmente, poderia compor o quadro de jornalistas investigativos.
Passei a noite com a ansiedade de fazer o que gostaria desde que cheguei aqui. Por isso, minha cabeça projetou novamente a voz daquela mulher sussurrando a mesma frase em meus ouvidos…
Estava cansado aquela manhã, então decidi sair mais cedo do trabalho. Involuntariamente fui para casa pelo caminho do lago. Apesar de tudo, o lago era incrivelmente bonito.
Parei por alguns minutos para admirar aquela água quase cristalina, seu movimento discreto e sua paz. Fiquei meditando e observando cada pequena onda e sua sincronia e como aquilo poderia ser tão calmo e movimentado ao mesmo tempo.
Meus pensamentos foram interrompidos quando vi uma jovem loira de baixa estatura e com um vestido de noite vermelho se encaminhando ao lago. Ia lentamente até a parte mais funda e olhando sempre em frente como se não houvesse nada à sua volta. Tentei gritar, buzinar, acenar, mas nada lhe tirava o foco de seguir sempre em frente.
Desci do carro em desespero por vê-la quase submersa, corri em sua direção e nadei o mais rápido que pude para tentar resgatá-la. Tomei-a em meus braços e a olhei em seus olhos. Eram olhos negros e profundos que me causavam arrepios.
Seu olhar permanecia fixo no vazio como se algo à esperasse logo à frente e eu a tivesse interrompido em sua missão. Tentei me comunicar, perguntar seu nome, mas a única coisa que saiu de sua boca antes de seu desmaio foi a maldita frase que vem me perseguindo
“Não estamos sozinhos”