Harmonia
Coralina era mulher de fibra moral rara. Destas que imputam um respeito exigente, visto apenas nos espíritos mais solenes.
Nada abalava suas convicções éticas e suas virtudes epistêmicas. Nada infligia dissabores existenciais. Ahhhh, Coralina. Cora, para uns. Poucos. E, este reservado grupo acabou sendo o verniz de uma realidade a qual Cora não lavrou forças resitir.
Pense, você, comigo, cidadão. Envide esforços, por favor. Nesta direção. Que é a única que a natureza permite. E, cobra.
Então, estava Cora a elucubrar sobre as exigências de uma vida proba, retilínea e ascética, mesmo. E, Cora, insistia numa cartilha de regras rígidas para. Com oratória convincente, ia segura. Mas, a segurança é uma traidora contumaz. Nos anestesia, para logo nos fazer sentir o corte profundo do bisturi.
Empédocles, isso lá é nome, era o cirurgião. E, num erro habilidoso, talhou a pele rija das certezas de Cora e fê-lhe saltar os demônios do entendimento.
Empédocles mediu Cora e a medida de Cora adquiriu as diretrizes de aferição que só almas livres em suas bílis iimiscuídos nas trevas, eclodindo, pútridas, conseguem.
Coralina não mais é solene. Tampouco espírito. É, apenas. Como quer a vida.
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