Água (s)

As águas estavam, jurava Cláudio, persignando-se, agitadas como se houvesse uma intenção, uma deliberação só possível na consciência, seja lá que os doutos sabem sobre ela.

Gide, desdenhava. Era sua resposta a tudo que sugerisse fugir ao ordinário mais mudando dos fenômenos. Fossem quais fossem. Dizia que não entendermos como uma coisa funciona, não nos autoriza a preencher essa lacuna com explicações fantásticas.

A popa, e a proa, agitaram-se. Ao mesmo tempo, então. Gide engoliu. Seco. Um calafrio, em volutas, percorreu seu trato gastroesofágico faringo.

Cláudio clamou por seu Salvador. O capitão, Alberto, urgiu as ações protocolares de emergência. A tripulação assaltou a empregá-las.

O navio gemeu, inclinando-se em decúbito lateral. Jane, imediata, saltou. Às aguas. Um marinheiro, Dionísio, a seguiu. A frente, imiscuído em mergulho terminal, ia o foco de luz que se havia perdido das mãos de Jane. Dionísio, arrependeu-se ao ter com as silhuetas alcançadas pela parca claridade expulsa pelo acessório.

A superfície, emborcando, ia o navio. Cláudio já não mais rezava. Gide gritava de horror. O capitão, impávido, segurava o leme e fitava o horizonte que a noite engolia, ao passo que seus subordinados eram eviscerados pelas coisas que tomavam tudo.

As águas agitaram-se, ainda mais. E, riram. Cuspindo perdigotos salgados , com garras e presas .

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