A NEBLINA (ESPECIAL HALLOWEEN 24) - MINICONTO
A neblina apareceu por volta das sete da noite.
Naquela tarde uma nuvem escura dominou o céu e a tarde se transformou em noite.
Mas a tempestade não veio. O que veio foi a estranha neblina, uma neblina tão espeça que se podia toca-la. E a neblina trouxe com ela o mal.
Morávamos em uma vila chamada Vila Santa Ana, não havia mais do que 300 habitantes ali. Depois daquela neblina Santa Ana se tornou uma cidade fantasma.
Não sei porque eu e minha família sobrevivemos. Minha mulher é bastante religiosa, e ela começou anotar assim que a nuvem negra chegou de tarde, e quando a neblina chegou ela pegou uma Bíblia, ajoelhou-se na sala diante da janela e disse precisávamos orar.
Me ajoelhei com ela e nossos dois filhos, nos demos as mãos e começamos a orar. Então eu me lembrei que a janela do quarto no segundo andar estava aberta. Os deixei orando e fui lá, foi quando notei que havia algo de errado na neblina.
Olhei para baixo e vi uma sombra. Alguém estava em pé no jardim de casa. Fiquei todo arrepiado e fechei a janela.
Desci e pedi a Paula minha esposa, que preparasse o jantar.
Estávamos jantando quando o telefone tocou.
Confesso que me assustei. Todos jantávamos em silêncio, havia uma leve tensão no ar.
O telefone tocou umas três vezes. Nos entreolhamos, eu me levantei e atendi.
— Alô?
Era Edna. Nossa vizinha. Aparentemente ela estava em pânico.
— Ele está aqui dentro Lucas!
— Edna. O que está acontecendo?
— A neblina! Está na neblina!
Escutei um som estranho e Edna começou a gritar.
— Edna! EDNA!
Mas Edna havia desligado.
— O que aconteceu Lucas?!
Olhei pela janela e não consegui ver a casa de Edna. A neblina era espeça demais.
— Me diz o que aconteceu Lucas!
Olhei para Paula e disse:
— Chame a polícia.
Paula arregalou os olhos, me olhou por alguns segundos e não questionou. Ela pegou o telefone e discou o número da polícia.
— O telefone está mudo.
Franzi o cenho e peguei o telefone. De fato estava mudo.
De repente a campainha tocou e todos demos um salto.
A essas alturas ficava claro para mim que alguma coisa estava acontecendo e que tinha relação com a neblina.
Olhei para a minha família, no rosto da crianças havia medo. Minha mulher estava visivelmente em pânico.
A campainha tocou novamente.
— Fique com as crianças.
— Não abra a porta amor.
— Não vou abrir.
Caminhei até o armário e peguei uma faca.
Fui até a porta.
— Quem é?
Ninguém respondeu.
Me aproximei e olhei pelo olho mágico.
Lá fora só havia a neblina. Mas de repente eu vi algo.
Confesso que até hoje não sei bem o que eu vi, mas acho que era uma pessoa, uma pessoa deformada.
Levei um susto e me afastei da porta.
Percebi que a neblina estava entrando pela fresta embaixo da porta e dei um passo para a frente.
— PAULA! TRAGA UM PANO!
Paula apareceu segundos depois com um pano que peguei da mão dela e colocou na fresta. A neblina me tocou e eu senti como se uma mão estivesse se fechando sobre meu pulso.
Eu dei um grito e um salto. Paula também gritou.
A neblina já estava invadindo a casa e de uma forma bizarra estava tomando a forma de um homem.
Me levantei rapidamente e puxei Paula que estava paralisada de horror. Pegamos as crianças e corremos escada acima.
Olhei para baixo e vi que o andar térreo já estava tomado pela neblina. Do meio da neblina surgiam dezenas de silhuetas humanas medonhas.
Corri com minha família para um dos quartos e tranquei a porta.
— RÁPIDO PAULA, ME AJUDE A TAPAR AS BRECHAS!
Paula pegou os lençóis que estavam sobre a cama e eu tratei de fechar as brechas da porta com ele.
Verifiquei todas as janelas e enquanto fazia isso olhei para fora e vi que havia diversas pessoas paradas no meio da neblina. Era uma visão macabra, me fez estremecer.
Fechei as cortinas e fui abraçar minha família.
Ficamos ali, sentados no meio do quarto e acabamos adormecendo.
Quando acordei a luz do sol penetrava através da janela. A neblina havia ido embora. Mesmo assim abri a porta com cautela.
A casa estava vazia, não havia nem sinal daquelas estranhas pessoas que vimos na neblina.
A vila de Santa Ana havia desaparecido. Fomos até a casa de Edna, procuramos os outros vizinhos. Eu fui de carro até o centro da vila e não havia nada, tudo estava deserto.
Juntamos as nossas coisas e partimos deixando para trás a vida que tínhamos ali.
Nunca consegui entender que tempestade foi aquela, e de onde veio a neblina.
Para certas coisas não existe explicação.