ALUCINAÇÃO.
Ano de 2.100. O professor Stanley foi tirado de suas férias no Hawaii. Um telefonema. Ele deu o último gole no gim tônica. Pagou a conta do quiosque da praia de Haikiki. -"Era o presidente Stuart, Tiffany. Tenho que ir!"O casal voltou ao hotel. -"Finalmente me deram ouvidos, querida! As cópias, você tem as chaves dos dados, caso eu não retorne de Washington! Mande-as para a imprensa!" A moça o beijou. -"Eu te amo, Stan!" Ele a beijou. Ele sabia que a bela modelo estava com ele por fama e dinheiro. Stanley tinha ganho o Nobel de literatura e de física, além de ter herdado uma fortuna de seu tio, Harold. Tinha dez livros sobre inteligência alienígena, outra dezena sobre física. Stanley era esquisitão, desde a escola em Chicago. Orelhas de abano, óculos de fundo de garrafa, esquelético, aparelho nos dentes e fanho. Logicamente, sofria bullying mas era um gênio da matemática. Nem estudava pois sabia mais que os mestres. Primeiro lugar nos vestibulares, uma mente brilhante. Seu quarto parecia um laboratório, para desespero dos pais. Apelidado de professor Pardal, passava o dia todo estudando. Passava as noites observando os céus. Tinha uma velha luneta, presente de sua avó, Nancy. Rádios potentes captavam sinais e ondas vindas do espaço. Chiado. Muito chiado. Conhecia melhor as estrelas do que as ruas de seu bairro. De empacotador de uma rede de supermercados virou caixa, depois gerente e contador. Era muito inteligente e hiper organizado. Os artigos nos jornais chamavam a atenção pelo brilhantismo e raciocínio lógico. Devorador de livros. Sabia tudo sobre história, geografia e antigas civilizações. Aprendeu várias línguas com facilidade. Ele se despediu de Tiffany. O táxi o levaria ao aeroporto. Para a sua surpresa, um helicóptero da força aérea o esperava. -"Por aqui, professor Stanley. Vamos para a pista!" Havia policiais por todo o aeroporto. -"Senhores passageiros. Todos os vôos vão sofrer um pequeno atraso. Um nevoeiro se aproxima!" Stanley estava cercado de três fuzileiros. Ele olhou para o céu. Não havia uma nuvem sequer. Intuiu que algo grave acontecera. O helicóptero levantou vôo. Tiffany arrumava as malas. A porta do quarto do hotel foi colocada abaixo por um forte chute. A moça se virou, assustada. Eram seis soldados armados. Os capuzes nas cabeças. A farda camuflada. -"Os disquetes! Onde estão?" Tiffany começou a chorar. -"Não sei do que está falando, senhor! Não sei!" Um tiro certeiro na testa. A moça caiu sobre a cama. Os invasores revistaram todo o quarto. Não encontraram o que queriam. Ao mesmo tempo, o apartamento do professor era também invadido por soldados encapuzados. Os pais de Stanley foram torturados e mortos. O apartamento foi revistado e depois queimado. Alheio a tudo, Stanley entrou na Casa Branca. Homens do FBI e políticos por todo o lado. Ele aguardou por uma hora, no salão oval, até que fosse chamado. -"Pensam que sou idiota. Estão me observando!" Recusou o lanche que uma assistente do presidente lhe oferecera. Uma porta se abriu. O presidente entrou, seguido por trinta homens, entre seguranças e assessores. Ele estendeu a mão. O presidente ignorou o gesto. -"Desde o ginásio o conhecemos, professor. O FBI e a Nasa têm todos seus livros, artigos e entrevistas pra tevê. O senhor está louco pois escreveu que ouviu mensagens de uma invasão de extraterrestres. Mais que isso, eles estão a caminho!" Stanley se ajeitou na poltrona. -"Exato. Eles devem chegar em novembro, daqui a seis meses! Eles estão entre nós há tempos." O presidente pegou um celular. -"Você é um espião chinês, professor. Tem muito visitado aquele país estranho, não?!! Sei que fala perfeitamente mandarim!" O professor sentiu o clima pesar. -"Não tenho culpa se, após a pandemia do Covid-19, a China se tornou a maior potência mundial, senhor." O presidente tomou água. -"O senhor captou e decodificou mensagens alienígenas. Tempos depois, divulgou aos chineses as mensagens do espaço, mais precisamente da galáxia Sihoo 853." O professor pigarreou. -"Mostrei a Nasa mas eles riram de mim. Eu sinto muito! É o começo do fim apenas! A Amazônia foi queimada, os oceanos subiram, há pouco alimento no mundo. Vocês destruíram o planeta, por ganância e política." O presidente saiu, furioso. Stanley foi algemado. Um helicóptero o levou até o Pentágono. Ele foi trancado numa cela fria. Paredes blindadas. Sem cadeira nem cama. Monitorado por agentes do governo. Uma refeição diária apenas. Os meses foram passando. Stanley acreditava que talvez seus pais e Tiffany já tinham sido mortos. Será que a moça teria conseguido entregar os disquetes sobre a invasão aliens a imprensa? Stanley foi sedado e transferido para uma unidade do exército, camuflada por uma montanha, no Colorado. Uma área altamente restrita. O mundo todo passou a ver sinais estranhos nos céus. Não eram trombetas mas sim um forte e ensurdecedor zumbido. Uma nave gigantesca cobriu a lua. A humanidade com medo. Os noticiários televisivos. A histeria coletiva. As pessoas, aterrorizadas, olhando para o satélite da Terra. Um caos. Pessoas cometendo suicídios. Saques. As igrejas abarrotadas. Pessoas orando com fervor, rasgando as roupas, clamando o perdão e a ajuda divina. Centenas de naves alienígenas surgiram. Elas estavam sobre as principais capitais do globo. Os exércitos dos países posicionados e prontos a revidar qualquer ataque. Nenhum sinal nas naves. Algumas pessoas atiraram contra as naves mas elas estavam protegidas por um escudo de energia desconhecido. O presidente americano ligou para seiu colega russo, que depois ligou para o chinês. Pra variar, não entraram em acordo. A Rússia iniciou o ataque. Mísseis e foguetes nada fizeram contra as naves. Raios de luz intensa, que saíam das naves, matavam centenas de pessoas em segundos. Não adiantava as pessoas se protegerem dentro das casas. Elas destruíram Moscou em segundos. A Otan interferiu. As naves foram cercadas por caças. Inútil tentativa que custou a destruição de Londres e outras cidades européias. Roma, Milão, Budapeste em ruínas. Os helicópteros. As equipes de resgate. Uma correria desnecessária. A África e Ásia atacadas pelos raios das naves. Tóquio devastada, com cadáveres nas ruas. Milhares de pessoas morreram em Pequim. O homem assistia seu triste fim. O ataque das naves foi simultâneo. Washington, Nova York, Cidade do México, Brasília, Buenos Aires, tudo destruído em segundos. Muitas pessoas fugiram para as montanhas e florestas. Alguns se escondiam em bunkers, esconderijos subterrâneos. As naves alienígenas, seis dias depois, finalmente pousaram. Delas saíram milhares de seres de três metros de altura. Eram parecidos com lagartos. Olhos enormes, boca pequena e trajes metalizados. Eles emitiam grunhidos. Matavam os humanos sobreviventes sem piedade Por todo mundo a destruição, as cidades cobertas de cadáveres. A humanidade foi reduzida a meio milhão de pessoas. A cela de Stanley foi aberta. -" Enfim nos conhecemos, professor Stanley!" Disse um elegante rapaz de terno preto. Ele estava atordoado. -" O que deseja? Não o conheço." O rapaz apertou um botão no relógio de pulso. Ele se transformou num grande lagarto. Stanley se assustou. -" Sou um reptiliano. É assim que nos chamam os humanos! Podemos nos passar por humanos, sem ninguém perceber. Estamos entre vocês, desde o dilúvio. Precisamos do urânio terrestre. Agora chegamos em peso, Stanley! O planeta Terra é nosso e vamos recuperar isso que já foi um paraíso. Mais um pouco e não restará nenhum humano aqui!" Stanley estava com medo. -"Os exércitos, as bombas, eles vão lutar! O homem é poderoso." O lagartão se transformou no rapaz. -" Fogos de artifício, professor. Alguns alienígenas, capturados em Roswell, até ajudaram os americanos a construir algumas naves espaciais. São carroças, como aquele antigo presidente brasileiro se referia aos carros de seu país. Venha ver, meu amigo!" Stanley acompanhou o rapaz. Os olhos dele pareciam olhos de serpente. Stanley se viu cercado por centenas de reptilianos. Havia cadáveres, de soldados e agentes do governo americano, por todos os lados. -" Esses corpos vão sumir em uma hora. Tive um prazer bestial ao destruir Los Angeles. Faziam filmes horrorosos sobre nós, aliens!" Stanley foi levado para o interior de uma nave gigantesca. Ela subiu, em segundos, a quinhentos metros de altura. Stanley chorou ao ver as cidades destruídas. -"Você disse nós. Nós! Como assim, nós? Como é que estou conversando com você??" Um dos reptilianos colocou um relógio de pulso em Stanley. -" Será aberto um portal do tempo sobre a Antártica, vai começar a transformação da Terra, meu caro. Os neflins, presos há milênios no gelo, serão libertados. Nibiru está próximo. Aperte o botão verde, você é um dos nossos! Você é um dos nossos! Você...." Stanley deu um pulo na cama. Uma iguana no seu peito, imóvel. -"Meu Deus. Eles chegaram!" O despertador do celular tocou às sete horas da manhã. Seu pai entrou no quarto. -"Parabéns, Stan. Seu aniversário de dezessete anos! Uma iguana de presente!" -" Valeu, pai. Caraca, que sonho estranho. Stan, você tem que parar de ler esses contos de terror do Recanto das Letras!" FIM