Tormento
Tormento
A mulher estava assustada. Muito assustada mesmo. Sozinha no quarto escuro e frio ela segurava com ambas as mãos o cobertor na altura do queixo enquanto seus olhos grandes e castanhos não desgrudavam dos pés da cama de casal. E ela queria, o Deus, como ela queria imensamente que seu marido estivesse ali com ela ao invés de no serviço de vigia noturno que havia conseguido depois de passar mais de um ano desempregado.
A mulher estava assustada. Muito assustada mesmo. Sozinha no quarto escuro e frio ela segurava com ambas as mãos o cobertor na altura do queixo enquanto seus olhos grandes e castanhos não desgrudavam do vulto acocorado sobre os pés da cama com seus brilhantes olhos vermelhos a observa-la e suas imensas asas de morcego abertas a ocuparem quase de uma parede a outra do quarto.
Já era a quarta noite que isso acontecia. A quarta noite em que a coisa ficava ali empoleirada nos pés da cama. E ela, a mulher, tinha medo de comentar sobre a presença com o marido. Medo que ele descobrisse que pela quarta noite seguida ela não usava o remédio que o médico lhe receitara. Medo de voltar pro hospital. Medo de perder a liberdade. De perder a razão.