COLAGENS

Quando acordou, olhou no canto do quarto, o velho e rasgado tênis all star azul, deixara ali de propósito, lembranças de suas lutas e das suas utopias, que estavam em frangalhos, tal qual o seu velho all star azul.

_Torturei sim, arrependo de não matado todos eles, gente ordinária! Naquele é que era bom, a gente resolvia tudo no cacete, no pau-de-arara, era só neguinho falar em revolução que o pau comia. Hoje não, é uma esculhambação só, tremo só de ouvir falar nessa tal de democracia, de direitos humanos, que nojo!

Meus pais me disseram que iam viajar e que voltariam em poucos dias, tinha seis anos, hoje tenho trinta anos, e até hoje não sei o paradeiro deles, às vezes sonho com eles voltando, naquele fusca vermelho, felizes, me tomando em seus braços, me abraçando e me beijando, em vão os procuro, como outros filhos de desaparecidos políticos, nada de resposta, continuam insepultos em uma vala comum, mas quanta dor isso me causa!

Geovane Morais
Enviado por Geovane Morais em 13/10/2020
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