- Yanara a trilha está FECHADA! E já está tarde! - Gritou Amanda.
- Há deixa de ser lerdaaa… é coisa rápida, Nara! A gente toma banho, faz umas Selfies… e vai embora!
Andavam rápido, passos leves de quem já conhece os lugares e sabe como pisá-los. Passos de quem sente prazer em fazer isso. Mas durante noite ninguém deve ficar tão cheia de si. A noite é imprevisível pros olhos dos mochileiros assim como o mar pode ser traiçoeiro com surfistas. E é nessas horas que o Diabo faz gracinhas, arapucas, desenhos no chão, novos caminho… avisos inexistentes em paredes de grutas… e ele também SOPRA nos ouvidos das pessoas perdidas, como as amigas ali.
O Diabo espreitava as duas, satisfeito e sorrindo. Apesar do frio ele as seguia sem roupas, expondo sua cor vermelha e chifres, misturados numa cabeleira encaracolada. Fumava um charuto e coçava os bigodes enormes, rindo contido com a mão na boca, se divertindo.
- Amanda, eu acho que já vi essa parte…
- qual parte?
- TUDO, DROGA!! Já passamos por aqui!! Estamos andando em círculos!
- CALMA, calma… vamos nos acalmaar… ai meu Deus, já passam das NOVE! Vamos parar um pouco aqui…
- OLÁ garotas, pra onde vão? - (era o Diabo disfarçado de velho, negro, pobre… e aina meio manco)
- Graças a DEUS! O Senhor é daqui?
- … sô de “Mais pra baixo”… - Ele respondeu sorrindo. - Yanara e Amanda se olharam se entender.
- Sabe como faz pra sair daqui…?
- ooolha minha filhaa… o jeito que o povo ANTIGO faz aqui, é oferecer uns “mimos” pros “espíritos da floresta” te indicarem o caminho, mas tem que ser pago mesmo, viu? … conheço gente que morreu aqui nessa trilha, pois não acredita nas coisas que falo e nas pessoas antigas, sabe?…
Na mesma hora Yanara rosnou impassível.
- Aposto que depois desse “pedido” vocês pedirão mais e mais e mais....!!! Aposto que você sabe como tirar a gente daqui.
- EU sei, sim… claro. Mas aí tem que ser pelo MAU CAMINHO, Ops! MEU caminho… que é cá por baixo. Né melhor fazer juramento bobo não? E ajudar quem cuida do mato?
- Quanto tempo leva por baixo? - Perguntou Amanda fazendo um sinal pra Yanara, como se já soubesse que ela fosse ser mais agressiva… antes de cogitar as (baixas) possibilidades de solução.
- Ahhnn deve dar umas três horas!
- TRÊS HORAS!!??
Então Amanda puxou Yanara num canto, novamente com um sinal mudo com a mão agora pro Diabo. Indicando uma pequena “reunião” entre as duas.
- Você sabe que ele tem um caminho rápido, né?! E que só quer PASSAR A PERNA na gente!
- Claro que sei, Yanara. Amiga, são quase DEZ HORAS! A gente não trouxe quase nada, ficaremos com fome, com frio! Estamos exaustas!
- … han… tá, TÁ. Velho nojento, escroto… ei!! TÁ BOM! - Gritou em direção ao ‘velho’.
- Então, moço… como é esse juramento dos “espíritos da floresta”?
- SIMPLES!!!! Há…! HA HA! - As duas se entreolharam assustadas.
Então ele puxou uma caneta do bolso e entregou à Amanda. As duas se entreolharam de novo… dessa vez querendo rir.
- Sim, meu amigo… e O PAPEL.
- Não precisa… Escreve aqui em minha mão. Depois disso eu faço as orações e seguimos…
- Então as duas assinaram.
O Diabo então parou por alguns minutos encarando as anotações nas palmas das mãos. Como quem pressente algo muito terrível (e tarde demais) Amanda agarrou a mão de Yanara, que estava gelada e tremendo. O Diabo continuava encarando as assinaturas e rindo e sua voz ia mudando. E só quando sorriu largamente que elas repararam no tamanho dos seus dentes (principalmente os caninos) que na verdade eram presas. Seus olhos que estavam com um azul-claro meio acinzentado de um homem velho e meio cego, agora iam escurecendo totalmente.
Ao vê-lo naquela forma bizarra as garotas tentaram correr, mas foram tomadas por uma fraqueza nas pernas e caíram no chão. O Diabo seguia se transformando rapidamente enquanto andava devagar até elas. Seus dentes cresciam ainda mais.
- “ouça crianças da noite… Que música elas fazem…”. - Ele disse com uma voz que ressoava a floresta e pareceu estremecer o solo.
E então uma quantidade enorme de aranhas pretas e cobras foram amontoando os corpos de Yanara e Amanda e picando as em todos os lugares. Seus gritos altos e desesperados de dor, duraram apenas alguns minutos… Pois foram abafados por cobras que entravam em suas bocas atingindo seus estômagos, assim como baratas abafando suas respirações. Porém, os olhos de suas vítimas, o Demônio sempre mantinha vivos… Pelo máximo de tempo possível… Pra que pudessem vê-lo sorrir.
- Agora crianças… Quando eu chegar em casa, continuaremos com nossa prosa.