DESFILE MACABRO

Mariana desfilava sorridente por entre tumbas e covas rasas, tinha um sorriso amarelado e triste, dava para se perceber claramente. Ostentava um longo vestido de noiva todo amarrotado e aos farrapos, ela ignorava qualquer reação estranha de quem quer que fosse e que, por ventura, estivesse ali naquele cemitério nessa noite de lua cheia. Sim, era uma noite daquela lua grande que clareava toda a extensão do "paraíso dos mortos", que teimam em parecer vivos, mas não deixam esse local por nada, talvez até porque não conseguem sair daquele espaço determinado para o descanso final.

A moça era nova na área, tanto no tempo de permanência ali como na idade, apenas vinte e três anos, morrera há exatamente dois dias, contra a sua vontade e por força das circunstâncias, pois desejava estar viva e tendo uma vida de rainha. O destino não foi legal com ela, também pudera, depois do que fez em vida não poderia ser de outra forma. Agora perdera quase toda a capacidade de raciocínio e aproveitava o clarão da lua para desfilar para os mortos que, como ela, acham que ainda estão vivos. A maioria "dorme" quietinha em suas covas e apenas observa aquela cena de Mariana em suas crises de rebeldia.

O vestido branco do casamento ainda mostrava a mancha de sangue no seu peito, o furo da bala lá estava e ela não demonstrava qualquer tentativa de vingança, no fundo sabia que achou o que procurou. Em plena lua de mel e vendo o noivo embriagado aproveitou para transar com o amante. A noite de núpcias foi do intruso. Mas no dia seguinte a verdade veio a tona e o noivo/marido traído efetivou a sua vingança.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 23/09/2020
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