Noite Esquecida pelo Sol
A arrogância é uma forma grotesca de desespero...
O dia parecia como outro qualquer
Mais uma feira, mesmas pessoas e caras.
Uma luz estranha havia naquele lugar.
Todos tinham se esquecido de quem eram:
Não se viam mais como pedreiros, como
donas de casa como motoristas e professoras.
Patrões, empregados, ricos e pobres...
Nada parecia fazer alguma diferença.
Olhavam-se acabrunhados e paralisados
Pareciam ver diante de si mesmos o próprio
horror.
Não eram mais que carne sem espírito
contemplando o vazio.
Eram como corpos abandonados por seus
espíritos. Deixados sem o amor, sem o gosto.
Estavam a contemplar involuntariamente
a existência limitada, a melancolia
do tempo e a infinitude do nada.
Os corpos não eram mais que cascas.
O que viam, ouviam e sentiam
era simplesmente opaco e mais nada.
Tudo aquilo parecia sombriamente
eterno e insosso como o vento frio.
Ficaram como por horas ali sem que aquele
desespero silencioso pudesse ser rompido.
Não havia palavras para aquilo.
Paralisados até que o terror passasse.
Para a sorte deles tudo aquilo não
durou mais que alguns segundos,
mas foi algo que todos sentiram.
E cada um fez sua parte, fingiram
para si mesmos que nada ocorreu,
que nada demais aconteceu.
Um delírio sobre qual não se sabe ao certo
o que tinha sido ou acontecido.
Há um momento certo para morrer
E há um momento certo para viver
Eles escolheram viver e levaram consigo em
suas lembranças aquela estranha morte,
tão difícil de explicar quanto de esquecer.