Noite Esquecida pelo Sol

A arrogância é uma forma grotesca de desespero...

O dia parecia como outro qualquer

Mais uma feira, mesmas pessoas e caras.

Uma luz estranha havia naquele lugar.

Todos tinham se esquecido de quem eram:

Não se viam mais como pedreiros, como

donas de casa como motoristas e professoras.

Patrões, empregados, ricos e pobres...

Nada parecia fazer alguma diferença.

Olhavam-se acabrunhados e paralisados

Pareciam ver diante de si mesmos o próprio

horror.

Não eram mais que carne sem espírito

contemplando o vazio.

Eram como corpos abandonados por seus

espíritos. Deixados sem o amor, sem o gosto.

Estavam a contemplar involuntariamente

a existência limitada, a melancolia

do tempo e a infinitude do nada.

Os corpos não eram mais que cascas.

O que viam, ouviam e sentiam

era simplesmente opaco e mais nada.

Tudo aquilo parecia sombriamente

eterno e insosso como o vento frio.

Ficaram como por horas ali sem que aquele

desespero silencioso pudesse ser rompido.

Não havia palavras para aquilo.

Paralisados até que o terror passasse.

Para a sorte deles tudo aquilo não

durou mais que alguns segundos,

mas foi algo que todos sentiram.

E cada um fez sua parte, fingiram

para si mesmos que nada ocorreu,

que nada demais aconteceu.

Um delírio sobre qual não se sabe ao certo

o que tinha sido ou acontecido.

Há um momento certo para morrer

E há um momento certo para viver

Eles escolheram viver e levaram consigo em

suas lembranças aquela estranha morte,

tão difícil de explicar quanto de esquecer.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 18/09/2020
Código do texto: T7065953
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