Viver para sofrer

Minha existência veio das mãos de um alguém que pelo mundo perambulava, livre, mas deixou-me aqui, estagnada, presa eternamente. Meu sustento é o sustenta tudo, me alimenta e me faz existir.

É desolante a mesma visão de sempre, o cenário não muda, apenas minhas semelhantes vão e vem, avulsos passam por mim, gozando a liberdade; sigo aqui, aprisionada.

Vento vem, aguento com firmeza. O escuro torrencial do céu, aos clarões de fúria, fazem-me temer pela continuidade de minha vida, socorro não posso pedir. Apenas baixo minha cabeça, esperando que a tormenta se vá.

Volta a luz matinal, nada muda, tudo continua; o mesmo verde, o mesmo azul, o mesmo branco e a minha tristeza.

Se não bastasse o meu fado, fui sentenciada a virar-me a quem pouco me assemelha. Lá de cima ele queima, eu, aqui, nada faço a ninguém; pelo contrário. Quem a mim vem, um sorriso me deixa, raros momentos de alegria. Uma lágrima de simbologia escorre, nada mais me emociona quanto essa criança que por mim se fascina.

Mas insistem em associar-me àquele maldito lá de cima...

A noite vem, estou perdida ou aliviada? Livrei-me, por um tempo, do Gigante, agora é minha companheira quem se faz presente. Ouve minhas lamúrias, faz meu pranto brilhar. A luz que vem de si alumia em prata os de cá. Nunca vi coisa mais linda...

Mas lembro-me do terror de minhas irmãs, que não tiveram a mesma sorte que eu. Ao menos fui deixada para trás, elas estão fadadas a sofrer mais ainda.

Colossos cruzam o chão, trazendo a morte e o horror.

Lâminas malditas as decepam, como adereços são vendidas. Não ficam vivas para verem sorrisos, como os que vejo daquela menininha...

O meu afã parece ser eterno, mas a missão ainda deve ser seguida... Porém, no final, a vida sempre floresce, e eternamente virarei-me para o Leste...

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 17/09/2020
Reeditado em 18/09/2020
Código do texto: T7065799
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.