Nuvem

Pairou no ar uma nuvem escura, cem anos de azar. Quem lá vivia já não conseguia aguentar tamanha miséria, pobreza...

"Maldita nuvem que aqui foi parar!"

Era recorrente as assíduas lamentações dos moradores do vale, outrora rico, agora, destruído. Das grandes construções sobraram-se paupérrimas madeiras dos pilares, tudo fora desmontado para manter as casas dos moradores de pé.

Mas de pé permaneciam os moradores? A fome caiu sobre todos, sem exceção. Animais? Metade fugiram de lá, os que sobraram foram todos sucumbindo aos poucos, parar matar a fome; mas já não tinha animal algum...

Os mais fragilizados eram covardemente carregados para suprir a fome dos outros, como antropófago ritual, devoravam pernas, braços e tudo que conseguiam engolir; banhados de sangue, suplicavam ao menos um banho ao céu...

O verde que se pisava era, agora, apenas cinzas lastimáveis... O destino de todos ali era a morte.

Ah, maldita nuvem que aqui parou...

Rodrigo Hontojita
Enviado por Rodrigo Hontojita em 15/09/2020
Código do texto: T7064115
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