O PREÇO DA MORTE II

O PREÇO DA MORTE II

As pessoas se afastavam, gritavam e corriam em desespero.

Afinal de contas o defunto estava ressuscitado, ali, impávido.

A mãe aproximou-se Dele chorando, e o abraçou.

O defunto parecia revoltado, mas afetuosamente beijou a mãe.

E novamente bravejou:

- Mãe! Preciso cobrar o preço da minha morte!

Aquela senhora recolheu os prantos, e puxou o filho moribundo pra dentro de casa.

A essa altura, a rua estava em pavorosa.

Não haveria mais enterro, o falecido tinha recoberto a vitalidade.

Provavelmente havia aproveitado o instante em que todos saíram da sala, onde o corpo esteve sendo velado.

Ele quem fechara o caixão vazio.

Caminhou a passos largos em direção à funerária, trocou suas vestes pelo uniforme, e assumiu a forma de motorista .

(assim como descrito em “O PREÇO DA MORTE”)

A mãe estava agora no controle da situação.

Amava muito o filho e estava feliz com a presença Dele, não se acanhava com o aspecto de morto-vivo.

As pessoas se dispersavam para espalhar o boato pela cidade.

Mas não era boato.

O desabafo do defunto rapidamente chegou à Delegacia, onde os detetives já investigavam o assassinato.

O “parça” estava detido, por ter sido encontrado com ele um revólver, e por estar com o defunto no carro, no momento em que fora alvejado.

O pai do defunto estava em delírio com a presença do filho.

Apontava diversas possibilidades de autores para o crime.

Fulano de tal, tu maltrataste.

Beltrano quer te vingar, pelos tiros que tu deste nele.

O pai bagunçava a cabeça da esposa, e o ressequido cérebro do defunto.

A mãe, consciente, dizia que daria a própria vida, para vingar a morte do filho.

O defunto reflexivo falou:

- Eu trouxe de outra cidade uma moça, namorada de um traficante.

(Aquela moça não estava mais lá.)

Depois do assassinato, partiu em debandada.

A esposa do defunto, nada contente com a hipótese de traição levantada, desejou a morte do cadavérico.

Os filhos debruçavam sobre o pai, de alegria pela ressurreição do lazarento.

Coaram um café preto e forte para o morto.

O Prefeito, que mais cedo esteve participando do velório, chegou com a primeira dama um tanto quanto atônitos, mas não disfarçavam a velada caça de votos, seja entre vivos ou mortos.

Uma comitiva se formava na casa dos genitores do defunto, conclamando a vingança pela morte do alquebrado.

Ele repetia:

- Preciso cobrar o preço da minha morte!

Ninguém sabia ao certo por quanto tempo o morto permaneceria vivo.

Se fossemos falar a respeito de conhecimentos bíblicos, poderíamos dizer que o defunto somente experimentaria a Segunda Morte, com a prometida Segunda Vinda de Jesus Cristo.

Mas não se dá notícia nos dias de hoje sobre a existência de Lázaro, no Oriente Médio.

Tampouco dos filhos do chefe da sinagoga e da viúva de Naim.

Eram tantos desafetos, que o expirante decidiu procurar o Delegado de Polícia.

Primeiramente, para tentar conversar com o “parça” que se encontrava detido.

Das duas uma, ou teria visto quem atirou ou ele próprio era o assassino.

A notícia da ressurreição aos poucos se espalhava mundo afora.

A empregada doméstica foi a primeira a gravar um vídeo.

Ela somente não pediu para fazer uma selfie, porque a viúva do defunto era muito ciumenta.

Chegando à Delegacia, apareceu um advogado de porta de cadeia, oferecendo os seus serviços à família enlutada, e desejando os pêsames.

Nem percebeu que o defunto estava ali todo esguio, bonito mesmo, de olhos azuis, cabelos loiros encaracolados, sarado de academia, e pinta de playboy.

O defunto estava extrovertido e pediu ao advogado que o acompanhasse no caso, e depois o ajudasse a fazer um testamento, porquanto desejava dividir seus bens com esposa e filhos, enquanto vivo fosse.

O advogado ficou assombrado, e desfaleceu.

Chamaram correndo no hospital alguém para aferir a pressão do advogado.

Veio ideia de aferir a pressão do defunto.

(12 por 8)

Era o defunto mais saudável que se tem notícia.

O Delegado de Polícia acompanhou o defunto até a cela, aonde se encontrava recolhido o “parça”.

edras josé
Enviado por edras josé em 04/09/2020
Código do texto: T7054413
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