253 - O Rebelde
Quando o internaram no Colégio já havia sido expulso da Escola Pública. Interessava-o tudo o que não fosse matéria de estudo. Gostava de fazer pontaria ao que pudesse. Quebrou à fisgada todos os anões do jardim da vizinha, peças de barro vidrado com as quais ele sempre embirrou. A aventura valeu uma sova do pai que teve de pagar o estrago. Em todo o caso o mundo ficou livre dos monstrinhos e, ainda, de uma fileira de andorinhas, igualmente de barro, que ele abateu uma a uma. Se D. Otília não queria andorinhas no beiral da casa porque sujavam tudo e davam cabo da beleza da habitação, por que as queria na parede? Nesta guerra também houve dois vidros do candeeiro da entrada dados como partidos embora um deles já estivesse quebrado. No Colégio foi recebido pelo Director que, sem nunca alterar a voz, lhe disse que tinha de estudar e aprender ou de ficar sem almoço ou jantar, sem recreio e convívio, além de horas de joelhos voltado para a parede. Tudo simples. Penduraram a fisga num prego alto e o irmão que a pôs lá, disse-lhe que a devolveriam quando chegassem as férias se houvesse bom comportamento. Está visto que ganharam os padres. Ainda tentou manter as antigas rebeldias mas isso foi só no começo. O mundo, disseram-lhe, admite excepções a quem tem força e saber o que não era o caso dele. Todos os outros rebeldes que por ali andavam desistiram ao rigor do preço a pagar. Voltou uns anos depois transformado. Asseado, bem vestido, calmo, interessado em saber coisas. – Vejo, senhora D. Otília, que desistiu de ter anões no jardim. Que pena. Vim disposto a parti-los de novo e antes que a vizinha pudesse dizer do seu desaforo, depois de lha mostrar, guardou a fisga no bolso do casaco.