Correntes de Turbidez – CLTS 12
— Descoberta —
— Mas... o que é aquilo? — Jade apontou.
Dimas olhou, esperando ver outra lancha.
— O que é o quê?
— Aquilo...
— Não estou vendo nada — o rapaz colocou a mão acima dos olhos e estreitou-os para tentar ver para onde ela apontava:
— Vê algo brilhando ali?
— Ei, espera aí... Um periscópio? Sei lá. Quer dar uma olhada, não quer? — Dimas ficou curioso.
Jade deu de ombros.
O barco rodeou o local. A água era turva, como se lama do fundo do mar tivesse subido para ver quem havia ousado incomodar fantasmas.
— Parece que estou vendo algo que não devia. Particular — a moça sussurrou.
— Está sentindo esse cheiro? — Dimas perguntou. — Fedor de coisa abandonada.
— ...de velhice! — Um peixe flutuava de lado. Morto — pensou Jade. Mas parecia que olhava para ela. Será que tinha algo de errado com a água? A questão era mais o olhar do peixe, como se realmente tivessem feito contato.
Quando Dimas a chamou, retrucou:
— O que foi? — ...assustada.
— Está sentindo esse cheiro? — Dimas perguntou. — Fedor de coisa abandonada.
— ...de velhice! — Um peixe flutuava de lado. Morto — pensou Jade. Mas parecia que olhava para ela. Será que tinha algo de errado com a água? A questão era mais o olhar do peixe, como se realmente tivessem feito contato.
Quando Dimas a chamou, retrucou:
— O que foi? — ...assustada.
Ele olhava fixamente para a superfície, olhos arregalados.
— Ai, meu Deus! — Jade viu a carcaça.
— Ai, meu Deus! — Jade viu a carcaça.
— Aquilo é ... — começou o rapaz, mas não conseguiu terminar.
— ...um submarino — completou a garota.
— ...um submarino — completou a garota.
Era verdade. Um submarino. Destroçado. Um periscópio sapateando ao sol. À luz era uma cortina cintilante, de boas-vindas, ou não, que contrastava com a escuridão abaixo...
Ficaram à deriva, por cima daquela revelação. O tubo metálico se encrespava com ondas ocultas, o bailado das águas. Conforme se inclinava, as beiradas desapareciam nas sombras escuras. Um movimento uniforme, como se fosse a superfície da água que criava uma ilusão, uma sensação sombria que arrepiava.
Haviam descoberto uma coisa doida o suficiente para chamar de mágica. Entreolharam-se... aceitando o rumo que a tarde havia tomado. Nenhum ser que se prezasse podia remar para longe daquilo. Dimas foi quem se recompôs primeiro:
— Equipamento de mergulho?... — Ele já se imaginava entrando na água; seu corpo sendo engolido.
— Será que tem alguma coisa lá dentro? — Jade também se aprontava.
— Preparados ou não... aqui vamos nós — um fluxo de água fria passou pelas costas deles e os abraçou. Afundaram, seguindo as estruturas, as marolas formando uma parede nebulosa de espuma branca e bolhas. O mar pulsava.
— Juntos —
No fundo, sentiram os pés na areia grossa e macia. Salpicos flutuavam como poeira de uma estrada de terra; passos invisíveis os faziam subir, dando-lhes vida. As lanternas ressaltavam a escuridão.
Estavam de pé ao lado da embarcação, por mais impossível que parecesse. Esticaram os braços para dentro do negrume, espalmaram as mãos nas paredes escorregadias e empurraram-nas para testá-las. Era real. Não havia dúvidas.
Contornando a lateral, Dimas desprendeu a lanterna e a aproximou da estrutura. Em volta do feixe, era tão negro quanto um sepultamento. Escuro demais para ver alguma coisa. Na verdade, a luz só se refletia, formando um segundo círculo brilhante. Borrões incompreensíveis.
O rapaz conferiu se Jade estava perto. Uma cabeça gigantesca, olhava para ele dentro da água, vindo em sua direção. Juntos atravessaram um jardim de algas.
Nos destroços, uma placa balançava com as ondas imperceptíveis mostrando o interior: o desconhecido.
Venham, a nave parecia dizer. Entrem. E o pensamento lhes ocorreu de forma natural: por que não entrarem?
Usando uma pedra cheia de musgo e escorregadia como trampolim, Dimas dobrou os joelhos e deu impulso para o ventre do monstro. Enquanto cortava a água, teve uma visão horrível de si mesmo: um cadáver. Jade gritando, conforme ele apodrecido e descamado balançava na água. Fechou os olhos. Quase sentiu a mudança ocorrendo, da vida para morte: morrer enquanto se movia: o enrugamento acelerado da pele, o encolhimento dos pulmões, da bexiga, do coração...
Foi então que realmente sentiu algo como fios grossos de macarrão ao longo de toda a lateral do seu corpo, do peito aos dedos dos pés. Correntes marítimas. Abriu os olhos e viu que estava passando pelo quadro escuro de outra abertura na carena.
Jade o seguia sem hesitar. Com medo ou não, era emocionante. Nadou mistério adentro, criando uma passagem de luz. Pensou, por um instante, que não era diferente de entrar em uma casa abandonada.
A sensação de ser observada a fez voltar-se e iluminar a abertura atrás de si, apavorada viu uma forma de pé no degrau cheio de musgo:
— Quem deixou você entrar? — uma voz grave ecoou em sua mente. Mas quando levou a cabeça para frente de novo, a lanterna lhe mostrou apenas uma mesa. De pé, ereta, como se ignorasse os milhares de litros de água e ondas envolvendo-a. Não balançava, nem flutuava, nem mesmo estava inclinada: uma peça que não parecia estragada por estar no fundo do oceano.
A pele de Jade estava tão pálida quanto as cortinas de um necrotério, cabelos flutuando feito cobras marinhas acima do rosto assustado, mas curioso. Dois pares de bolhas idênticas saíam de suas narinas. Estava muito frio e esfriava ainda mais conforme avançava. Sentiu alguém atrás dela e virou-se rapidamente. O rosto distorcido do namorado estava a centímetros de distância.
Tiveram o mesmo pensamento ao alcançarem a escadaria que mais parecia um poço: um túnel em ângulo vertiginoso. Mas antes de mergulhar de vez no nível subterrâneo, a jovem parou. Uma ideia a preocupou: presos. Ao nadar para baixo, não teriam apenas as águas acima deles. Teriam a máquina também. A passagem era estreita, e ela ia raspando nas laterais do cilindro de aço. Mais rechonchuda, certamente entalaria. Mais medrosa, nem tentaria.
Dimas observou os pés de pato dela desaparecerem além do alcance do seu feixe de luz. Foi atrás. E continuaram, mais para o fundo...
Jade sentiu a presença de alguma coisa à direita e se virou depressa. Levou a mão até a boca para sufocar o ar que soltou, mas seus dedos bateram no visor e ela ficou observando algo flutuar. Deu um passo para trás e se encostou nas paredes compactamente encaixadas.
— OLHE! — ela tentou dizer. Mas sua voz foi abafada pela máscara.
Como se compreendesse em câmera lenta e se movesse mais devagar que o sentimento de pavor que o consumia por dentro, Dimas olhou para onde Jade apontava a lanterna de forma frenética:
Uma sombra flutuava acima deles. A veste tremulava com as ondas invisíveis. Mas foi sua posição o que mais amedrontou. Como se alguém ondulasse pelas águas turvas.
Os jovens não se mexeram. Apenas olharam fixamente. O vulto começou a afundar na direção deles. Observaram aquilo se dobrar ao meio e se torcer de uma maneira que nenhuma pessoa conseguiria. Queriam acreditar que a aparência daquilo, a maneira como se movia, era fruto do acaso. Como se uma criatura estivesse ali, deslizando com os braços esticados, na intenção de abraçá-los.
Então ouviram algo mais alarmante: rangidos. O que era aquele som gorgolejante? Como tudo o mais ali, o som era distorcido, tinha o dobro da amplitude natural. E, então, risadas??... Tão pervertidas quanto o rincho, gargalhadas de um só tom. Seria possível?
Dimas balançou a cabeça de forma negativa. Foi o ponto de ruptura, a única coisa mais impossível do que a existência da embarcação naufragada tão próxima da costa...
O rangido continuava acima deles. Pancadas lá em cima. Lentas. Deliberadas. E a risada andrógina também persistia. Tem alguém aqui dentro?...
O rapaz agarrou o pulso da namorada. Olharam juntos para cima, para o som do aço rangendo. Seguiram o som com os olhos, deslocando-se, à medida que os passos largos que rangiam se afastavam mais, dirigindo-se, pelo que parecia, para onde se encontravam.
— PARA CIMA — Dimas gesticulou. Jade assentiu, nadando na direção do som. O que quer que estivesse naquele lugar se aproximava, chegava perto, e por mais que os dois tivessem concordado em estar ali, descobriam que foram insanos. Quando ela se virou para encará-lo, viu obsessão nos olhos dele.
— Jade —
A jovem desapareceu escada acima. Na área superior, ela fechou os olhos e voltou a abri-los, buscando Dimas. Ouvia-o, de algum lugar, na mesma massa d’água infinita.
As pancadas continuavam... Um eco cortante, agudo. Ainda assim, o que veio em seguida era a única coisa que poderia tê-la assustado mais ainda. Era a mais assustadora que podia acontecer dentro de um gigante submerso, no fundo do mar: as luzes se acenderam. Não a lanterna. Luzes nas águas. Alarmantes luzes vermelhas iluminaram o ambiente, como num filme de ação. Ou de terror...
Pela primeira vez, Jade vivenciou a embarcação como era, sem ela e Dimas, como era antes da chegada deles.
Não conseguia encontrar Dimas. Achou que ele devia estar por perto. Nadou depressa na direção de uma escotilha. Trancada. Seguiu pelos camarotes, evitando os objetos, até parecer uma dança, um movimento intencional, entre ela e outro ser. Para dentro, para fora; depois perto do chão, então para cima, passeando em quadrantes.
Como a luz milagrosa estava enfraquecendo, ela não conseguia ver os cantos a menos de dois metros. E o lugar parecia estar ficando diferente, mais indistinto, estabelecendo um clima proposital. Tudo isso em partes oscilantes, visões que intensificavam o cinza, próximo da escuridão. Nadou, as mãos esticadas para a frente. Percebeu que estava onde uma única escotilha balançava, abrindo-se à frente.
Então as luzes se apagaram. Em todos os lugares. Desconcertante, Jade se abaixou, levando o pé de pato até o chão, mas não encontrou nada. Nadou mais para baixo, mais para o fundo, mas não achou nada ali também.
Onde está a escada? Onde está o chão?
Ainda assim... uma luz muito acima dela. Uma única luzinha subindo, aumentando de tamanho, vindo em sua direção até ela entender que aquela luz era o sol mortiço da tarde, sangrando no horizonte. A claridade ofuscava...
O mar se acalmava levemente. Havia um vento forte, mas nada como a agitação de instantes atrás. No horizonte, nuvens escuras se moviam, partindo.
Apontou a lanterna para baixo. O feixe não revelou nada. O periscópio sumiu. Tudo sumiu. Nada de aço. Nada mais... A carcaça do submarino? Não mais. Um viciado em drogas fungaria. Um alcoólatra faria um muxoxo com os lábios secos. Mas o que faria uma pessoa que viu uma embarcação sumir? Sua bússola interna tinha sido arrancada da cabeça pelo impacto.
Quando Jade irrompeu pela superfície, puxou o ar demoradamente e viu que a lancha estava muito mais longe do que pensava. Olhou ao redor, estava nadando em águas muito escuras. Arfou e a bolha que escapou da sua boca pareceu-lhe ser o último fôlego que tinha. Deu uma olhada no regulador do tanque e se preocupou: cadê Dimas?
— Dimas —
Paralisado pela indecisão, Dimas observou Jade nadar. Seu medo aumentou. Mesmo naquele momento, enquanto ia na direção do som, da batida que personificava o horror que ele sentia, não quis ficar sozinho. Foi atrás dela, para pegá-la, alcançá-la, consciente do espaço aberto, do espaço crescente.
Era um pensamento assustador estar em um submarino impossível no fundo do mar. De repente parecia provável, que alguma coisa morta pudesse estar ali, flutuando. Algo se desfazendo em pedaços, desmembrado, vindo na direção dele, um ex-ser-vivo sem controle. Era uma sensação esquisita.
Alcançou o pavimento superior e se pôs a procurar a moça, contornando paredes revestidas com um mar de válvulas, registros, manômetros e tubos salientes. Entrou em um camarote...
Feito um astronauta, rodeou uma cadeira e abriu uma escotilha. Como não apontava o feixe de luz para a frente, não viu nada. No compasso de completa escuridão, ele sentiu como se estivesse entrando no vazio da morte, um verdadeiro fim, um lugar onde nunca mais seria encontrado, nunca mais teria calor, confiança ou razão.
Não entre neste cômodo — um pensamento sombrio para se ter no vão escuro de uma porta. Mas ele entrou. Iluminou ao redor, vendo detalhes como via qualquer coisa naquela embarcação: em pedaços. Como se tivessem deixado cair um quebra-cabeças, há muitos anos e agora ele estivesse ali para montá-lo.
As pancadas persistiam; os passos, martelando em sua cabeça, em seus ossos; a batida de peles mortas bem esticadas em tambores de aço feitos com as partes de uma canoa quebrada.
Ergueu a lanterna e gritou, sílabas involuntárias atingindo os óculos:
Um rosto pálido sob a luz da lanterna. Encarando-o nos olhos. Um homem? Não. Uma mulher? (Homem, mulher, não fazia diferença ali embaixo.)
Antes que pudesse reconhecer o que era, sua lanterna morreu. Desajeitadamente, apertou o botão ligar/desligar.
O que estava acontecendo? Onde estava Jade? Sacudiu a lanterna e então a bateu no quadril. Inútil. Deixou os braços caírem ao lado do corpo. Sem luz.
Esticou a mão, esperando encontrar a garota e puxá-la para longe do que quer que estivesse fazendo aquele som, do que quer que estivesse vindo...
Observou a escuridão à frente, sentiu o frio da escuridão atrás. Podia estar em qualquer lugar. Do lado de fora. De dentro. O submarino podia ser imaginação.
Ficaram à deriva, por cima daquela revelação. O tubo metálico se encrespava com ondas ocultas, o bailado das águas. Conforme se inclinava, as beiradas desapareciam nas sombras escuras. Um movimento uniforme, como se fosse a superfície da água que criava uma ilusão, uma sensação sombria que arrepiava.
Haviam descoberto uma coisa doida o suficiente para chamar de mágica. Entreolharam-se... aceitando o rumo que a tarde havia tomado. Nenhum ser que se prezasse podia remar para longe daquilo. Dimas foi quem se recompôs primeiro:
— Equipamento de mergulho?... — Ele já se imaginava entrando na água; seu corpo sendo engolido.
— Será que tem alguma coisa lá dentro? — Jade também se aprontava.
— Preparados ou não... aqui vamos nós — um fluxo de água fria passou pelas costas deles e os abraçou. Afundaram, seguindo as estruturas, as marolas formando uma parede nebulosa de espuma branca e bolhas. O mar pulsava.
— Juntos —
No fundo, sentiram os pés na areia grossa e macia. Salpicos flutuavam como poeira de uma estrada de terra; passos invisíveis os faziam subir, dando-lhes vida. As lanternas ressaltavam a escuridão.
Estavam de pé ao lado da embarcação, por mais impossível que parecesse. Esticaram os braços para dentro do negrume, espalmaram as mãos nas paredes escorregadias e empurraram-nas para testá-las. Era real. Não havia dúvidas.
Contornando a lateral, Dimas desprendeu a lanterna e a aproximou da estrutura. Em volta do feixe, era tão negro quanto um sepultamento. Escuro demais para ver alguma coisa. Na verdade, a luz só se refletia, formando um segundo círculo brilhante. Borrões incompreensíveis.
O rapaz conferiu se Jade estava perto. Uma cabeça gigantesca, olhava para ele dentro da água, vindo em sua direção. Juntos atravessaram um jardim de algas.
Nos destroços, uma placa balançava com as ondas imperceptíveis mostrando o interior: o desconhecido.
Venham, a nave parecia dizer. Entrem. E o pensamento lhes ocorreu de forma natural: por que não entrarem?
Usando uma pedra cheia de musgo e escorregadia como trampolim, Dimas dobrou os joelhos e deu impulso para o ventre do monstro. Enquanto cortava a água, teve uma visão horrível de si mesmo: um cadáver. Jade gritando, conforme ele apodrecido e descamado balançava na água. Fechou os olhos. Quase sentiu a mudança ocorrendo, da vida para morte: morrer enquanto se movia: o enrugamento acelerado da pele, o encolhimento dos pulmões, da bexiga, do coração...
Foi então que realmente sentiu algo como fios grossos de macarrão ao longo de toda a lateral do seu corpo, do peito aos dedos dos pés. Correntes marítimas. Abriu os olhos e viu que estava passando pelo quadro escuro de outra abertura na carena.
Jade o seguia sem hesitar. Com medo ou não, era emocionante. Nadou mistério adentro, criando uma passagem de luz. Pensou, por um instante, que não era diferente de entrar em uma casa abandonada.
A sensação de ser observada a fez voltar-se e iluminar a abertura atrás de si, apavorada viu uma forma de pé no degrau cheio de musgo:
— Quem deixou você entrar? — uma voz grave ecoou em sua mente. Mas quando levou a cabeça para frente de novo, a lanterna lhe mostrou apenas uma mesa. De pé, ereta, como se ignorasse os milhares de litros de água e ondas envolvendo-a. Não balançava, nem flutuava, nem mesmo estava inclinada: uma peça que não parecia estragada por estar no fundo do oceano.
A pele de Jade estava tão pálida quanto as cortinas de um necrotério, cabelos flutuando feito cobras marinhas acima do rosto assustado, mas curioso. Dois pares de bolhas idênticas saíam de suas narinas. Estava muito frio e esfriava ainda mais conforme avançava. Sentiu alguém atrás dela e virou-se rapidamente. O rosto distorcido do namorado estava a centímetros de distância.
Tiveram o mesmo pensamento ao alcançarem a escadaria que mais parecia um poço: um túnel em ângulo vertiginoso. Mas antes de mergulhar de vez no nível subterrâneo, a jovem parou. Uma ideia a preocupou: presos. Ao nadar para baixo, não teriam apenas as águas acima deles. Teriam a máquina também. A passagem era estreita, e ela ia raspando nas laterais do cilindro de aço. Mais rechonchuda, certamente entalaria. Mais medrosa, nem tentaria.
Dimas observou os pés de pato dela desaparecerem além do alcance do seu feixe de luz. Foi atrás. E continuaram, mais para o fundo...
Jade sentiu a presença de alguma coisa à direita e se virou depressa. Levou a mão até a boca para sufocar o ar que soltou, mas seus dedos bateram no visor e ela ficou observando algo flutuar. Deu um passo para trás e se encostou nas paredes compactamente encaixadas.
— OLHE! — ela tentou dizer. Mas sua voz foi abafada pela máscara.
Como se compreendesse em câmera lenta e se movesse mais devagar que o sentimento de pavor que o consumia por dentro, Dimas olhou para onde Jade apontava a lanterna de forma frenética:
Uma sombra flutuava acima deles. A veste tremulava com as ondas invisíveis. Mas foi sua posição o que mais amedrontou. Como se alguém ondulasse pelas águas turvas.
Os jovens não se mexeram. Apenas olharam fixamente. O vulto começou a afundar na direção deles. Observaram aquilo se dobrar ao meio e se torcer de uma maneira que nenhuma pessoa conseguiria. Queriam acreditar que a aparência daquilo, a maneira como se movia, era fruto do acaso. Como se uma criatura estivesse ali, deslizando com os braços esticados, na intenção de abraçá-los.
Então ouviram algo mais alarmante: rangidos. O que era aquele som gorgolejante? Como tudo o mais ali, o som era distorcido, tinha o dobro da amplitude natural. E, então, risadas??... Tão pervertidas quanto o rincho, gargalhadas de um só tom. Seria possível?
Dimas balançou a cabeça de forma negativa. Foi o ponto de ruptura, a única coisa mais impossível do que a existência da embarcação naufragada tão próxima da costa...
O rangido continuava acima deles. Pancadas lá em cima. Lentas. Deliberadas. E a risada andrógina também persistia. Tem alguém aqui dentro?...
O rapaz agarrou o pulso da namorada. Olharam juntos para cima, para o som do aço rangendo. Seguiram o som com os olhos, deslocando-se, à medida que os passos largos que rangiam se afastavam mais, dirigindo-se, pelo que parecia, para onde se encontravam.
— PARA CIMA — Dimas gesticulou. Jade assentiu, nadando na direção do som. O que quer que estivesse naquele lugar se aproximava, chegava perto, e por mais que os dois tivessem concordado em estar ali, descobriam que foram insanos. Quando ela se virou para encará-lo, viu obsessão nos olhos dele.
— Jade —
A jovem desapareceu escada acima. Na área superior, ela fechou os olhos e voltou a abri-los, buscando Dimas. Ouvia-o, de algum lugar, na mesma massa d’água infinita.
As pancadas continuavam... Um eco cortante, agudo. Ainda assim, o que veio em seguida era a única coisa que poderia tê-la assustado mais ainda. Era a mais assustadora que podia acontecer dentro de um gigante submerso, no fundo do mar: as luzes se acenderam. Não a lanterna. Luzes nas águas. Alarmantes luzes vermelhas iluminaram o ambiente, como num filme de ação. Ou de terror...
Pela primeira vez, Jade vivenciou a embarcação como era, sem ela e Dimas, como era antes da chegada deles.
Não conseguia encontrar Dimas. Achou que ele devia estar por perto. Nadou depressa na direção de uma escotilha. Trancada. Seguiu pelos camarotes, evitando os objetos, até parecer uma dança, um movimento intencional, entre ela e outro ser. Para dentro, para fora; depois perto do chão, então para cima, passeando em quadrantes.
Como a luz milagrosa estava enfraquecendo, ela não conseguia ver os cantos a menos de dois metros. E o lugar parecia estar ficando diferente, mais indistinto, estabelecendo um clima proposital. Tudo isso em partes oscilantes, visões que intensificavam o cinza, próximo da escuridão. Nadou, as mãos esticadas para a frente. Percebeu que estava onde uma única escotilha balançava, abrindo-se à frente.
Então as luzes se apagaram. Em todos os lugares. Desconcertante, Jade se abaixou, levando o pé de pato até o chão, mas não encontrou nada. Nadou mais para baixo, mais para o fundo, mas não achou nada ali também.
Onde está a escada? Onde está o chão?
Ainda assim... uma luz muito acima dela. Uma única luzinha subindo, aumentando de tamanho, vindo em sua direção até ela entender que aquela luz era o sol mortiço da tarde, sangrando no horizonte. A claridade ofuscava...
O mar se acalmava levemente. Havia um vento forte, mas nada como a agitação de instantes atrás. No horizonte, nuvens escuras se moviam, partindo.
Apontou a lanterna para baixo. O feixe não revelou nada. O periscópio sumiu. Tudo sumiu. Nada de aço. Nada mais... A carcaça do submarino? Não mais. Um viciado em drogas fungaria. Um alcoólatra faria um muxoxo com os lábios secos. Mas o que faria uma pessoa que viu uma embarcação sumir? Sua bússola interna tinha sido arrancada da cabeça pelo impacto.
Quando Jade irrompeu pela superfície, puxou o ar demoradamente e viu que a lancha estava muito mais longe do que pensava. Olhou ao redor, estava nadando em águas muito escuras. Arfou e a bolha que escapou da sua boca pareceu-lhe ser o último fôlego que tinha. Deu uma olhada no regulador do tanque e se preocupou: cadê Dimas?
— Dimas —
Paralisado pela indecisão, Dimas observou Jade nadar. Seu medo aumentou. Mesmo naquele momento, enquanto ia na direção do som, da batida que personificava o horror que ele sentia, não quis ficar sozinho. Foi atrás dela, para pegá-la, alcançá-la, consciente do espaço aberto, do espaço crescente.
Era um pensamento assustador estar em um submarino impossível no fundo do mar. De repente parecia provável, que alguma coisa morta pudesse estar ali, flutuando. Algo se desfazendo em pedaços, desmembrado, vindo na direção dele, um ex-ser-vivo sem controle. Era uma sensação esquisita.
Alcançou o pavimento superior e se pôs a procurar a moça, contornando paredes revestidas com um mar de válvulas, registros, manômetros e tubos salientes. Entrou em um camarote...
Feito um astronauta, rodeou uma cadeira e abriu uma escotilha. Como não apontava o feixe de luz para a frente, não viu nada. No compasso de completa escuridão, ele sentiu como se estivesse entrando no vazio da morte, um verdadeiro fim, um lugar onde nunca mais seria encontrado, nunca mais teria calor, confiança ou razão.
Não entre neste cômodo — um pensamento sombrio para se ter no vão escuro de uma porta. Mas ele entrou. Iluminou ao redor, vendo detalhes como via qualquer coisa naquela embarcação: em pedaços. Como se tivessem deixado cair um quebra-cabeças, há muitos anos e agora ele estivesse ali para montá-lo.
As pancadas persistiam; os passos, martelando em sua cabeça, em seus ossos; a batida de peles mortas bem esticadas em tambores de aço feitos com as partes de uma canoa quebrada.
Ergueu a lanterna e gritou, sílabas involuntárias atingindo os óculos:
Um rosto pálido sob a luz da lanterna. Encarando-o nos olhos. Um homem? Não. Uma mulher? (Homem, mulher, não fazia diferença ali embaixo.)
Antes que pudesse reconhecer o que era, sua lanterna morreu. Desajeitadamente, apertou o botão ligar/desligar.
O que estava acontecendo? Onde estava Jade? Sacudiu a lanterna e então a bateu no quadril. Inútil. Deixou os braços caírem ao lado do corpo. Sem luz.
Esticou a mão, esperando encontrar a garota e puxá-la para longe do que quer que estivesse fazendo aquele som, do que quer que estivesse vindo...
Observou a escuridão à frente, sentiu o frio da escuridão atrás. Podia estar em qualquer lugar. Do lado de fora. De dentro. O submarino podia ser imaginação.
Testou a lanterna de novo. Ligar/desligar. Funcionou.
Um movimento atrás e Dimas se virou mais uma vez, depressa: um presságio sombrio, algum tipo de delírio. Concentrou a atenção no barulho que se aproximava gradativo e resoluto. A vibração desagradável que aquilo emitia provocava arrepios.
Viu, assombrado, a estrutura lateral se elevar lentamente, como se estivesse prestes a ruir. A súbita aparição trouxe-lhe um misto de surpresa e susto. A parede se abriu em sulcos, e surgiu o que parecia ser um rosto sem traços. Sem cabelo. Sem ossos. Ainda assim se mexia, levantando o braço de tal maneira que o rapaz entendeu que estava de frente para uma corporificação. A pele mais cinzenta do que o cinza do aço. Os olhos roxos ganhando foco, aquosos, arregalados. Lábios que se avolumavam.
Dimas não tirou os olhos daquilo. Garras cavavam o metal com força e, quando o eixo por fim se abriu, uma criatura despontou, deixando escorrer de si um líquido vermelho semelhante a lágrimas. Emergida das profundezas, absorvia a energia do rapaz. Um efeito incrível e preocupante.
O que aquilo queria? Deixou a lanterna cair. Bateu os pés na direção do chão, esticando a mão para a luz que afundava. Afundava... Batia no chão. Ficava preta.
Enlouqueci, Dimas pensou ao escutar os movimentos da forma. Apesar de não poder vê-la, podia senti-la afundando rente ao chão, um contato tão leve quanto um carinho. Tentou deter o impulso do seu corpo para a frente. Mas as ondas invisíveis o impulsionaram. A coisa disforme levantou seu toco de braço alto o suficiente para que ele esperasse o abraço ondulante.
Viu, assombrado, a estrutura lateral se elevar lentamente, como se estivesse prestes a ruir. A súbita aparição trouxe-lhe um misto de surpresa e susto. A parede se abriu em sulcos, e surgiu o que parecia ser um rosto sem traços. Sem cabelo. Sem ossos. Ainda assim se mexia, levantando o braço de tal maneira que o rapaz entendeu que estava de frente para uma corporificação. A pele mais cinzenta do que o cinza do aço. Os olhos roxos ganhando foco, aquosos, arregalados. Lábios que se avolumavam.
Dimas não tirou os olhos daquilo. Garras cavavam o metal com força e, quando o eixo por fim se abriu, uma criatura despontou, deixando escorrer de si um líquido vermelho semelhante a lágrimas. Emergida das profundezas, absorvia a energia do rapaz. Um efeito incrível e preocupante.
O que aquilo queria? Deixou a lanterna cair. Bateu os pés na direção do chão, esticando a mão para a luz que afundava. Afundava... Batia no chão. Ficava preta.
Enlouqueci, Dimas pensou ao escutar os movimentos da forma. Apesar de não poder vê-la, podia senti-la afundando rente ao chão, um contato tão leve quanto um carinho. Tentou deter o impulso do seu corpo para a frente. Mas as ondas invisíveis o impulsionaram. A coisa disforme levantou seu toco de braço alto o suficiente para que ele esperasse o abraço ondulante.
E aquela risada... De onde vinha?
De que idade? Eterna.
Pancadas fortes e surdas. Batidas e sons de rachaduras ecoavam martelando A nave se encheu de um som parecido com um trovão, deixando o rapaz surdo. O moço nadou em direção a uma das escotilhas. Parou. (A água passou por ele.) Virou-se. (A água se virou com ele.) Nadou na outra direção. Era um reflexo, enroscado, flutuando, com medo. Não era mais o medo apenas da embarcação. Era mais profundo. Era o perigo.
E Dimas também viu as luzes. Tudo ao redor se tornou de um vermelho doentio. Podia ver as vísceras do submarino expostas: fios, válvulas, tubos, mostradores. O corredor banhado, exposto, a cor vibrante e verdadeira da máquina. Luminescência? A maré vermelha...
Você está sob um poder maior, ainda pensou, sem se importar com o que isso significava.
Espectros chegavam de todos os lados. Vinham dos camarotes, da sala-de-máquinas atravessando as divisórias. Flutuavam num amplo círculo. Encurralaram-no como a um rato. Um ou dois quase ao alcance da mão dele. Foram homens. Estarei mesmo vendo isso? A tripulação da nave?
— Nã-não há como fugir — a coisa se pôs a falar, repetindo palavras como se ainda as aprendesse. Dimas sentiu o suor frio encharcar a pele. Dedos rachados pegaram suas mãos, puxando-as. Ele forçou de volta, mas não conseguiu se soltar. Seguro. Preso. Fechou os olhos e gritou porque sentia ser arrastado. Sentia a pressão do espaço crescente atrás dele. Seus braços e pernas formigavam, tendo certeza de que algo molhado, algo velho, estava prestes a dominá-lo por completo.
Não vou conseguir, pensou. Não vou conseguir SAIR DESTE LUGAR. Paralisado de medo, com o corpo enroscado e flutuando perto do teto, percebeu a impossibilidade. A mágica.
Dimas rompeu a paralisia. Fique calmo. Respire. Inspire, expire. Repetiu as palavras para si mesmo como um mantra, sentiu a respiração ficar mais lenta, e o rugido nos ouvidos diminuir um pouco. Foi rápido. Tudo estava uma confusão. A cabeça latejava e, no mesmo ritmo das pulsações, uma voz entrecortada dizia:
— Fique, Dimas — disse a criatura. — Fique comigo para sempre! Você é aquele que me faltava.
O seu braço foi puxado para trás e, por instante, ele teve a impressão absurda de haver levado um murro à distância. Então, sentiu a dor tomando todo o corpo, tão repentina e aguda que o mundo pareceu ficar cinzento. Um clarão ofuscante lhe rasgou a vista, e ele deslizou na escuridão...
— Regresso —
Uma bolha estourou ao lado de Jade, um som profundo, alcatroado. Ela sentiu que era o namorado, alguns segundos atrás dela. Ela se deteve por um momento, olhando para a pequena abertura de sol como se pudesse ousar ter esperanças.
Era apenas um peixe. Onde estava ele? Era pensar além da conta. Ainda assim, o que mais devia fazer? Aquela estrutura havia desaparecido, deixando-a em águas vazias, tão pouco mágicas quanto qualquer outro local no mundo, exceto pelo fato de que tinha sido diferente. Havia abrigado um submarino e nele... Dimas. Como explicar?
O rádio da lancha não quis funcionar. Jade tomou o leme e buscou socorro. A Guarda Costeira buscou por Dimas, dias seguidos, até que desistiu...
Por que apenas ela conseguiu voltar? Será que poderia continuar a vida normalmente após sentir diretamente o mal?
A emoção que Jade sentia não era alívio por regressar, por viver. Vinha de muito longe, como que emudecida por camadas de águas. Ela também sentia o espaço crescente. Mas não era apenas o espaço entre ela e Dimas. Era o espaço além deles, como se todo o mundo se esticasse, retrocedesse e se tornasse distante demais para ser visto.
Parecia tão errado abrir a mente para o desconhecido. Era como baixar todas as defesas, fechar os olhos e, conscientemente, forçar os músculos tensos a relaxarem. As águas podiam acobertar os medos e inseguranças, mantendo a ignorância do que esconde. Mas, a mágica fluiu. Não havia uma explicação lógica.
O quê? Encontrei um lugar perigosamente mágico. Mas o perdi. E com ele, meu amado... Assim simples.
TEMA: VIAGENS SUBMARINAS
E Dimas também viu as luzes. Tudo ao redor se tornou de um vermelho doentio. Podia ver as vísceras do submarino expostas: fios, válvulas, tubos, mostradores. O corredor banhado, exposto, a cor vibrante e verdadeira da máquina. Luminescência? A maré vermelha...
Você está sob um poder maior, ainda pensou, sem se importar com o que isso significava.
Espectros chegavam de todos os lados. Vinham dos camarotes, da sala-de-máquinas atravessando as divisórias. Flutuavam num amplo círculo. Encurralaram-no como a um rato. Um ou dois quase ao alcance da mão dele. Foram homens. Estarei mesmo vendo isso? A tripulação da nave?
— Nã-não há como fugir — a coisa se pôs a falar, repetindo palavras como se ainda as aprendesse. Dimas sentiu o suor frio encharcar a pele. Dedos rachados pegaram suas mãos, puxando-as. Ele forçou de volta, mas não conseguiu se soltar. Seguro. Preso. Fechou os olhos e gritou porque sentia ser arrastado. Sentia a pressão do espaço crescente atrás dele. Seus braços e pernas formigavam, tendo certeza de que algo molhado, algo velho, estava prestes a dominá-lo por completo.
Não vou conseguir, pensou. Não vou conseguir SAIR DESTE LUGAR. Paralisado de medo, com o corpo enroscado e flutuando perto do teto, percebeu a impossibilidade. A mágica.
Dimas rompeu a paralisia. Fique calmo. Respire. Inspire, expire. Repetiu as palavras para si mesmo como um mantra, sentiu a respiração ficar mais lenta, e o rugido nos ouvidos diminuir um pouco. Foi rápido. Tudo estava uma confusão. A cabeça latejava e, no mesmo ritmo das pulsações, uma voz entrecortada dizia:
— Fique, Dimas — disse a criatura. — Fique comigo para sempre! Você é aquele que me faltava.
O seu braço foi puxado para trás e, por instante, ele teve a impressão absurda de haver levado um murro à distância. Então, sentiu a dor tomando todo o corpo, tão repentina e aguda que o mundo pareceu ficar cinzento. Um clarão ofuscante lhe rasgou a vista, e ele deslizou na escuridão...
— Regresso —
Uma bolha estourou ao lado de Jade, um som profundo, alcatroado. Ela sentiu que era o namorado, alguns segundos atrás dela. Ela se deteve por um momento, olhando para a pequena abertura de sol como se pudesse ousar ter esperanças.
Era apenas um peixe. Onde estava ele? Era pensar além da conta. Ainda assim, o que mais devia fazer? Aquela estrutura havia desaparecido, deixando-a em águas vazias, tão pouco mágicas quanto qualquer outro local no mundo, exceto pelo fato de que tinha sido diferente. Havia abrigado um submarino e nele... Dimas. Como explicar?
O rádio da lancha não quis funcionar. Jade tomou o leme e buscou socorro. A Guarda Costeira buscou por Dimas, dias seguidos, até que desistiu...
Por que apenas ela conseguiu voltar? Será que poderia continuar a vida normalmente após sentir diretamente o mal?
A emoção que Jade sentia não era alívio por regressar, por viver. Vinha de muito longe, como que emudecida por camadas de águas. Ela também sentia o espaço crescente. Mas não era apenas o espaço entre ela e Dimas. Era o espaço além deles, como se todo o mundo se esticasse, retrocedesse e se tornasse distante demais para ser visto.
Parecia tão errado abrir a mente para o desconhecido. Era como baixar todas as defesas, fechar os olhos e, conscientemente, forçar os músculos tensos a relaxarem. As águas podiam acobertar os medos e inseguranças, mantendo a ignorância do que esconde. Mas, a mágica fluiu. Não havia uma explicação lógica.
O quê? Encontrei um lugar perigosamente mágico. Mas o perdi. E com ele, meu amado... Assim simples.
TEMA: VIAGENS SUBMARINAS