O ESPELHO DOURADO PARTE 3

Aquele era um dia de inverno no Rio Grande do Sul, Alice usava calça de sarja preta, jaqueta de couro, coturno de salto baixo e lenço rubro.

Sobre sua mesa tinha um fichário com tudo o que sabia até aquele momento, sua vida girava em torno do sumiço de seu irmão, estava obisecada em encontrá-lo.

No decorrer dos meses gastou seu tempo tentando descobrir quem era os homens das fotos que tinha encontrado e como tinha o nome de cada um escrito a caneta ficou mais fácil. Conversou com a família deles, dizendo a eles que tinha um irmão desaparecido e queria reunir forças pra seguirem a busca, o que não deixava de ser verdade.

Tinha marcado de conversar com o irmão de um dos desaparecidos naquela tarde.

Penteou o cabelo liso e castanho em frente ao espelho se preparando para sair encontrar o rapaz chamado Felipe. Pegou o fichário para levá-lo junto.

Estacionou o Opala que agora lhe pertencia na frente da casa.

Saiu da casa um rapaz bonito, magro, cabelo castanho escuro e olhos verdes como esmeraldas.

__ Boa tarde. __ Felipe?

    Perguntou ao rapaz que estava sentado no muro da casa.

__ Sim.

__ Eu sou Alice, queria falar contigo sobre o seu irmão, se tu quiser falar.

    Ele colocou as mãos nos bolsos e enclionou o corpo para frente.

__ O que tu quer saber sobre ele?

__ Quero saber como ele é, o que aconteceu antes do desaparecimento.

    Sua face mudou, tinha tristeza no olhar.

__ Talvez eu possa ajudar.

    Falou tentando convencê-lo de falar. Descobrir o que tinha acontecido agora era sua missão de vida.

__ Não sei se alguém pode.

    Disse com a voz falha. Respirou fundo fazendo com que as lágrimas desistissem de sair.

__ O meu irmão também está desaparecido e tenho esperança de encontrá-lo,  não podemos desistir.

__ Ele tinha problemas, tinha tentado suicídio outras vezes, mas eu achei que tivesse melhorado.

Disse reflexivo.

__ Eu tenho motivos para acreditar que não foi isso que aconteceu.

     Suas pupilas dilataram, aquelas eram as palavras mais agradáveis que tinha escutado nos últimos seis meses.

__ Tu o conhecia?

     A esperança brotava no rapaz.

__ Pessoalmente não, mas pesquisei sobre ele.

    Felipe estava curioso.

__ Tu é algum tipo de detetive?

    Alice o observava sem saber o que responder, não queria falar a verdade, mas se sentia tão pesada guardando o segredo só pra si.

__ Se tu sabe alguma coisa sobre ele me conta, eu preciso saber. Depois que ele sumiu assim do nada, minha vida nunca mais foi a mesma.

    Alice teve a sensação que o rapaz a sua frente era confiável e estava ansioso por respostas tanto quanto ela.  Ele poderia achar que sua história era mentira, não tinha certeza se era uma boa idéia contar, mas duas cabeças pensando junto era melhor que uma.

__ Seja o que for.

    Argumentou tentando tirar respostas de Alice.

__ Vou buscar uma coisa no carro.

    Alice decidiu seguir o seu instinto e dividir o seu segredo.

    Ela pegou o fichario no Opala e voltou até o muro onde ele ainda estava sentado.

__ Podemos usar sua mesa?

    Felipe prontamente se levantou e conduziu Alice até a sala da casa, onde estava a mesa de madeira sem toalha, onde foi colocado o fichario.

    Alice tirou do meio do fichario as fotos dos desaparecidos as entregando a Felipe.

    Ele foi olhando uma a uma sem dizer nada, até chegar a foto de seu irmão.

__ Que estranho.

__ O que?

__ É que está foto foi tirada no dia que meu irmão desapareceu.

__ Como sabe disso?

    Um sorriso brotou no rosto de Felipe.

__ O meu irmão adquiriu esse machucado no dia do desaparecimento, em uma briga e isso que ele nem é de briga.

    Alice tentava pensar sobre o que aquilo significava.

___ O lugar que tirou a fotografia talvez saiba alguma coisa.

    O metamorfo tinha tirado uma foto de cada uma para guardar como troféu. Era um psicopata.

__ Como vamos descobrir onde foi tirada?

__ Tem o nome da empresa atrás como marca d' água.

Disse Felipe virando a foto e mostrando a Alice.