A dívida sobrenatural - IV
Aceitada a oferta, o demônio sorriu em satisfação, baixou o garoto e o soltou, ele já não sentia tanto medo, tudo que lhe foi contado deve ter mexido com o seu psicológico de forma que já não se importava tanto com a presença diabólica, porém, tinha uma dúvida...
- Como hei de fazer isto? Provavelmente não deixarão-me ir. Além de que meu pai pode não ser um homem muito forte, ainda sim há de vencer uma luta corporal contra eu com facilidade, estou em desvantagem nisso...
- Não pense nos empecilhos, eu abrirei os caminhos para que você consiga chegar até seu pai, lhe guiarei. Quanto ao assassinato daquele bruxo fracassado, não se preocupe, apenas confie em mim.
Disse o monstro, que o encarou e transformou-se num redemoinho negro, sumindo em seguida e deixando alguns pedregulhos pequeninos de cor escura e fedidas, como se fossem carvões.
Felipe, após tudo isso ter acontecido, caiu no chão, descrente com tudo que ouviu e viu. Conversou e foi tocado por um demônio, seus pais eram bruxos e o ofertariam num ritual...
E o pior, se agora não acatar a ordem demoníaca, será levado ao inferno como pagamento pelo pacto dos pais.
Um ruído na parede o tirou dos devaneios, como se fossem arranhões. Na parede de seu cômodo epsicopal estava escrito, em sangue:
"Você tem apenas seis horas para, ao menos, ter seu pai em mãos, caso não consiga já sabe o que lhe ocorrerá".
O lado ruim de fazer um pacto com Satanás, ele não aceita rescisão... Uma hora ou outra cobrará a alma vendida. Se não der a do pai, dará a própria.
Tinha que se apressar, levantou-se, eram 17:33, pegou sua mochila e saiu do dormitório, foi de encontro ao reitor. Pediria a ele que o autorizasse ir a casa do pai.
Chegou a sala do padre Gabriel Antoni, estremeceu, por algum motivo.
- O que desejas?
- Preciso sair para ir à casa de meu pai - falou em meio a gaguejos - ele quer me entregar algo, com urgência, preciso ir logo.
O padre pensou um pouco, sabia que algo não estava certo e que ele mentia, além de que sua casa não era perto.
- E você irá a pé até lá?
- Pegarei o primeoro táxi que surgir, meu pai pagará a viagem quando chegar lá.
Gabriel suspirou e liberou a saída do garoto, não soube o porque permitiu mesmo desconfiando de Felipe, mas ainda assim o deixou ir, como se fosse obrigado a fazer isso.
E ele foi, vagarosamente saiu da sala, sorrindo, fechou a porta e logo apertou o passo.
- Tudo está dando certo - falou baixo, para si mesmo.
- Tudo dará certo... - a voz do ser ecoou em sua mente.
Ele estava ali, consigo...
Mentiu sobre o táxi, não passava nenhum por lá, a voz mandou que fosse a pé, mesmo ponderando sobre a demora no percurso, o monstro insistiu que continuasse a caminhada, assim prosseguiu.
Num determinado local da estrada, que ao lado direito era cercada por uma floresta densa e do outro lado um vão, pois era um planalto, a voz demoníaca aconselhou que entrasse na mata.
- Mas não há nada aqui, pararei num lago...
- Vá! Estou mandando, me obedeça!
Disse com firmeza e logo foi acatada sua ordem. Felipe adentrou a mata e seguiu, porém algo estranho ocorria. A voz dizia em sua mente as palavras:
Einti aden dzina malifus poner gia...
E repetindo os dizeres, ao chegar no fim da floresta, invés de parar frente ao conhecido lago, parou na rua da casa de seu pai.
- É agora...