Silêncio. Nada se ouve. Não há passos nem conversas, não há choro nem sussurros. Ninguém canta ou reza. Há apenas vazio. Pelas grades de ferro eles observam as pessoas caminhando de um lado para o outro, algumas passam apressadas, outras apenas andam como se não tivessem direção. Estão vivas, mas há algo diferente naqueles rostos, algo que aqueles que estão ali dentro não sabem identificar, pois desconhecem totalmente. Algo que não fez parte de suas existências, nem mesmo de seus pesadelos.
Muitos deles não recebem visitas há de anos, mas sentem falta das visitas que os outros recebiam. As flores que enfeitavam o lugar há muito desvaneceram, murcharam enchendo o ar de um cheiro adocicado sem que fossem substituídas por outras. As velas se apagaram e ninguém apareceu para acendê-las outra vez. Eles não entendem porque a cada novo dia os portões continuam fechados impedindo que os de fora possam entrar. Um ou outro tenta se comunicar com os que passam pelo lado de fora em busca de informações, mas são poucos os que podem ouvi-los e a maioria destes prefere fingir que não os escuta. O lugar está em completo silêncio.
Do outro lado dos portões, o mundo continua em quarentena, mas eles nada sabem sobre isso. Nada sabem sobre o vírus que há meses paira sobre os vivos, nada sabem sobre a pandemia que atormenta os que estão do lado de fora.
Os mortos sabem apenas que há muito tempo estão ali, esquecido por todos.