Tall Man

Parecia uma espécie de liturgia satânica, com sua essência puramente voltada para o mal. Foram inúmeras noites, algumas sequer, nem conseguia lembrar, apenas flashs surgiam à mente, em torno de todo aquele clima de terror, um experimento muito pior e violento que uma mera noite macabra!

Nas trevas, fugindo incansavelmente de meu maior pesadelo, enfrentando a necedade intempestiva de certo vagabundo. Sádico homicida, pelo seu porte alto, recebia a alcunha de Tall Man. Era uma figura assustadora, deveras horripilante, seu terno preto denunciava ser uma espécie de emissário, de alguma coisa ainda pior que a maldade. Por cima dos longos cabelos brancos, usava um chapéu preto, conjunto que gerava um perfeito contraste amedrontador, centrado naquela figura emblemática.Exibia constantemente um olhar soturno, sorriso nefasto acompanhado sempre por uma feição macabra. Sua origem era completamente desconhecida, imaginava-se ser uma espécie de expurgo do inferno, a sombra do mal em forma de um misterioso ladrão de túmulos, que usava sorrateiramente as astúcias de suas esferas fatais para devastar e promover o caos.

Sequer recordo o instante quando tudo começou... Meses ou anos, já nem me lembro mais. Em cada um de nossos encontros, parecia mais forte, não importa quantas vezes o mate, misteriosamente, ele sempre volta, parece ter controle sobre o tempo, habitar em alguma fenda além do espaço. Já não me faço capaz de conter suas investidas, chego a pensar em abortar a luta e enfim seguir seus passos, deixar com que me guie por entre o seu estranho mundo de sangue, nesse íngreme caminho inseguro.

Em cada um de nossos encontros, os locais que percorria pareciam mais vazios. O mundo lentamente se rendia a um novo líder. Gradativamente os que lhe opunham quando não eram enviados para o além túmulo, transformavam-se em escravos fiéis. Existiria forma de combater sua devassa, um agente funerário sobrenatural e sádico capaz de transformar os mortos em zumbis anões para fazer sua oferta e dominar o mundo?

Durante inúmeras batalhas, não costumava proferir qualquer palavra, apenas se utilizava de uma balburdia, “BOY!”, bradava como uma espécie de jargão, que mais parecia um prenúncio quanto a sua chegada. “BOY!”, de longe era possível ouvir. Bastava um simples olhar para derrubar muros, desconstruir o amor que imperava entre as pessoas. Superior ao prazer de concretizar seus anseios estava puramente a satisfação de matar para fortalecer seu exército. Pensava sempre em tudo, demonstrava impressionante poder em presumir todas as nossas cartadas, fazia da luta um mero jogo perigoso, éramos reles diversão barata, aniquilar em demasia sem sentir absolutamente nada, dentro de um murmúrio num ritmo fora de qualquer preceito harmonioso.

Enquanto corria era possível ouvi-lo a bradar, “BOY!”. Sentia que dessa vez iria padecer, a vindita enfim seria concretizada. Não havia qualquer hipótese de triunfar, ninguém para me ajudar agora, sequer armas para atacá-lo. Corria o máximo que podia, por entre aquela paisagem obscura, becos sem saída, tonéis em chamas, uma profusão de cor vermelha espalhada pelas paredes e por todo o solo. Prenunciado que estava perto, a luta se transformava em prazer, a pura emoção da aventura, o último ato, a morte era a única esperança, na treva mais intensa, a dor mais profunda...Em uma velocidade exorbitante, algo se aproximava, a cada segundo estava mais perto. Certamente havia lançado uma de suas esferas contra mim, quando me alcançasse, fatalmente teria meu cérebro perfurado, jorraria sumo venoso por todos os lados. Entrava em várias casas, adentrando em cômodos, portas e paredes eram fatalmente oprimidas, apenas conseguiram retardar o ataque. Após seguir por um beco sem saída, tinha as forças extenuadas, as esferas estavam ali a flutuar, irradiavam um brilho intenso, das laminas que dilaceraram tantas vítimas. Sentado aguardando a agonia, via uma sombra enorme a se aproximar, era ELE vindo me buscar. Pensava em uma solução, uma última tentativa, o Tall Man se aproximava, as esferas desapareceram subidamente, poucos segundos antes de cravar suas mãos em mim, meus olhos se abriram e enfim, despertei!Muito mais do que assustado, estava feliz por interromper o pesadelo. Sentado na cama, logo tratei de sorrir, afinal, não foi dessa vez que o Tall Man me pegou, até a próxima noite desgraçado. Tratei de ir até a pia do banheiro, lavar o rosto, precisava de um banho, estava ensopado de suor, assim como no sonho, parecia que corri durante horas. Acionei a precária iluminação do banheiro, tão tênue que para minha felicidade, não pude ver através do espelho. De súbito, ouvi apenas um grito estarrecedor...

- BOYYYYYYYYYYYYYYYY!

PS: Tall Man é um personagem criado pelo diretor Don Coscarelli na série de filmes Phantasm. No Brasil traduzido como Noite Macabra.

Rafinha Heleno
Enviado por Rafinha Heleno em 05/06/2020
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