O CORAÇÃO DELATOR
[livre adaptação do conto homônimo de Edgar Allan Poe]
Dizem para mim que sou louco
Mas não parei para pensar,
Que desajustado seja um pouco
E tive um motivo de matar
Desde a juventude fui o serviçal
Que servia para meu senhor,
Sempre respeitado e profissional
Tratando-o com certo amor
Agora nesta idade muito avançada,
Noto aquele olho de catarata
Que incita uma repulsa incontrolada
E quero arrancar com a faca!
O velhaco agora jaz bem adormecido
Sentiu minha presença no escuro,
Com meu golpe fatal morrera abatido,
Arranquei seu olho em um furo!
Seu coração batia ainda tão ofegante
Pulsava em lenta respiração
Eu perdi-me neste devaneio delirante
Ouvindo do velho o coração!
Alguns dias depois vieram os policiais
Analisarem esse estranho sumiço
Debaixo desta cama seus restos mortais
Causaram em mim louco rebuliço
Mas ainda ouço as batidas do coração
Do velho gemendo ofegante,
Para a polícia darei a minha confissão
Mas calem a batida pulsante!