O COVEIRO

Eis que lhe faço agora essa confissão

Da mente que se perdeu sã,

Que leva no íntimo d’um vil coração

A imagem macabra de Satã

Perdoe-me se a eloquência,

Se oculta por detrás destes desesperos

Que nesta frívola demência

Devorou-me estes grisalhos cabelos!

Debalde casei-me com a mulher

Ela levava a existência muito brejeira,

Senti por um instante qualquer

Apaixonar-me por esta maldita faceira

Após longo tempo de namoro,

Da qual me transformei em ser santo,

Amando-a em divino decoro,

Todo o amor foi-se no amargo pranto

Era uma promíscua por dizer,

Vivia ébria tanto a noite quanto de dia,

Custava-me fazê-la entender

Que essa infâmia era uma cruel vilania

Cansado de ser tanto ofendido

Planejei por longos meses assim matá-la

Tendo o meu orgulho tão traído

Tive a missão macabra de então ocultá-la

Ria para mim mesmo dizendo

A lápide fria do cemitério lhe aguarda

O ódio em mim ia-se crescendo

Como a nódoa impregnada numa farda

Quando ela adormeceu ao leito

Apunhalei-a com um golpe de machado,

Terminara o respirar deste seio

Junto ao corpo finalmente desmembrado

Lavei o sangue que ainda escorria,

Por dentre o lençol que estava quente,

Só a lua era fora testemunha e via

Essa minha loucura imposta na mente

Enterrei-a próxima de meu jardim

Onde floresceu certo e mórbido gerânio

Do perfume dela lembro assim,

Pois deste meu amor guardei seu crânio!

rodrigokurita
Enviado por rodrigokurita em 18/05/2020
Código do texto: T6951226
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