O COVEIRO
Eis que lhe faço agora essa confissão
Da mente que se perdeu sã,
Que leva no íntimo d’um vil coração
A imagem macabra de Satã
Perdoe-me se a eloquência,
Se oculta por detrás destes desesperos
Que nesta frívola demência
Devorou-me estes grisalhos cabelos!
Debalde casei-me com a mulher
Ela levava a existência muito brejeira,
Senti por um instante qualquer
Apaixonar-me por esta maldita faceira
Após longo tempo de namoro,
Da qual me transformei em ser santo,
Amando-a em divino decoro,
Todo o amor foi-se no amargo pranto
Era uma promíscua por dizer,
Vivia ébria tanto a noite quanto de dia,
Custava-me fazê-la entender
Que essa infâmia era uma cruel vilania
Cansado de ser tanto ofendido
Planejei por longos meses assim matá-la
Tendo o meu orgulho tão traído
Tive a missão macabra de então ocultá-la
Ria para mim mesmo dizendo
A lápide fria do cemitério lhe aguarda
O ódio em mim ia-se crescendo
Como a nódoa impregnada numa farda
Quando ela adormeceu ao leito
Apunhalei-a com um golpe de machado,
Terminara o respirar deste seio
Junto ao corpo finalmente desmembrado
Lavei o sangue que ainda escorria,
Por dentre o lençol que estava quente,
Só a lua era fora testemunha e via
Essa minha loucura imposta na mente
Enterrei-a próxima de meu jardim
Onde floresceu certo e mórbido gerânio
Do perfume dela lembro assim,
Pois deste meu amor guardei seu crânio!