A GAROTA DO BANHEIRO - CLTS 11
A GAROTA DO BANHEIRO - CLTS 11
by: Johnathan King
Colégio Iron Hill.
Califórnia, Estados Unidos.
17h30m
Eddie entrou no banheiro escolar.
O lugar estava deserto.
Após urinar, o adolescente de 16 anos dirigiu-se até a pia, lavou as mãos e borrifou um pouco de água no rosto, procurando ficar mais alerta. Enquanto enxugava o rosto e as mãos, a porta do banheiro abriu-se, rangendo, atrás dele. Ele girou nos calcanhares.
Ninguém!
Eddie continuou parado junto a pia, olhando na direção da porta, atômico, tinha certeza que ela havia sido aberta.
De repente, atrás dele, uma imagem chocante.
O cadáver de uma garota nua jazia no chão do banheiro. Eddie sentiu um arrepio profundo. O cadáver pálido encontrava-se jogado numa impiedosa poça de sangue. Eddie ficou mudo.
Os olhos da garota morta se abriram, encarando Eddie.
O estudante caiu para trás, apavorado. A garota lançou um olhar vidrado para ele, e começou a se arrastar de forma grotesca na direção de Eddie.
Tremendo de medo, ele apenas gritou.
A noite havia caído.
Eddie estava numa cama de hospital, paralisado em estado de choque, os olhos abertos encarando o vazio.
Os seus pais encontravam-se do lado de fora do quarto, também em choque. Perdidos e sem entender nada do que poderia ter acontecido com o filho deles.
No dia seguinte, o assunto que dominava as rodas de fofoca do colégio era o incidente com Eddie no banheiro. Todos tinham uma teoria para o que teria ocorrido de fato.
Mais nenhuma delas passava pelo sobrenatural.
No final da tarde, Broker, um estudante de 15 anos adentrou o banheiro masculino e ficou parado por um instante, esquadrinhou o ambiente, como se estivesse procurando algo.
Balançando a cabeça, ele entrou no mictório.
Saiu e foi lavar as mãos. E depois pôs-se na frente do espelho, onde ficou dando pequenas ajeitadas no cabelo.
Broker era um garoto vaidoso.
Enquanto fazia isso, o estudante ouviu um gemido baixo, assustadoramente próximo. Ele olhou para trás.
Nada.
Quando voltou a encarar o espelho, o espanto.
Em pé, atrás dele, uma garota nua de aspecto fantasmagórico, lhe encarava com olhos fanáticos. O estudante sentiu uma torrente de adrenalina na circulação.
Depois, gritou!
Quando ele foi encontrado, estava caído no chão do banheiro, vivo, mas paralisado pelo horror. Seus olhos encaravam o nada.
Todos, sem exceção, ficaram assombrados com a cena digna de um filme de terror.
Naquela semana, nenhum novo incidente ocorreu. Mesmo assim, todos, sem exceção, sentiam medo dos banheiros da escola. Quando era preciso ir, os alunos sempre iam em pequenos grupos de três ou quatro pessoas.
Eddie e Broker continuavam internados, sem nenhuma melhora aparente.
Freddy, Carl e Matt, colegas de classe de Eddie e ambos com a mesma idade, 16 anos, se aproximaram do banheiro escolar masculino e ficaram lá parados, encarando a entrada do lugar.
Eles haviam bolado um plano e pretendiam colocá-lo em prática assim que a noite caísse. Os três então voltaram para a sala de aula e ficaram aguardando.
Vez ou outra, Matt espiava de relance o relógio pendurado na parede, acima do quadro.
Já era hora.
Os três amigos ficaram agachados no fundo da sala, protegidos atrás de algumas cadeiras, até que todos saíssem. O vigia do lugar então olhou atentamente em todas as direções e não vendo ninguém, trancou o portão, deixando ele e os três estudantes presos lá dentro.
Freddy e os outros dois aguardaram mais um tempo escondidos, enquanto o vigia dirigiu-se até sua salinha de repouso, nos fundos da escola.
A noite caiu!
Os amigos emergiram das sombras e saíram para fora.
Os três encontravam-se agora parados na frente do banheiro masculino. Por um momento, Carl pensou ter ouvido algo vindo lá de dentro, mas depois achou ser coisa da sua imaginação... ou medo.
Os garotos entraram no banheiro e acenderam a luz.
O lugar estava incrivelmente gelado!
O trio começou a andar pelo local, procurando algo. De repente, a luz começou a oscilar e se apagou. Os garotos ficaram assustados e ensaiaram uma espécie de grito apavorado. Lentamente, Freddy colocou a mão no bolso e tirou uma lanterna, e a acendeu.
Ele caminhou até o interruptor na parede e percebeu que a luz do banheiro havia queimado. Matt e Carl queriam ir embora daquele lugar, o mais novo aspecto daquele mistério estava ficando profundamente perturbador, mas Freddy queria ficar, e a decisão dele prevaleceu diante dá dos colegas.
Parados na escuridão, o trio viu às horas passando e a madrugada chegando. E a fome bateu.
Os garotos resolveram então assaltarem a lanchonete do colégio, mas só podiam ir dois, um teria que ficar de vigia no banheiro.
Freddy prontificou-se a ficar.
Matt e Carl saíram do banheiro na direção da lanchonete, a noite estava silenciosa como um túmulo, e o único sinal de vida eram os grilos que faziam aquele som irritante. Enquanto caminhavam em silêncio, os amigos iam sentindo uma inquietação que os incomodava.
Sozinho no banheiro, Freddy por um momento teve a nítida impressão de ter ouvido uma respiração profunda e cansada, assustadoramente próxima. O garoto mirou a luz da lanterna por todo o banheiro, nada.
Ele relaxou.
Uma gélida voz soou, tomando conta de todo o ambiente.
Sentado no chão, Freddy paralisou-se, virando a cabeça devagar. Apontando a luz da lanterna para o fundo do banheiro, Freddy viu, a cinco metros, diante dele, a silhueta monstruosa de uma garota nua jogada numa poça de sangue lhe encarando com olhos de demônio.
Caindo para trás no piso gelado, tomado pelo horror mais indescritível, Freddy gritou e suas pálpebras estremeceram.
Voltando para junto do amigo com comida, Matt e Carl pararam bruscamente quando ouviram um terrível berro em face da morte. Desnorteados, eles largaram a comida no chão e saíram correndo.
Chegando na entrada do banheiro, eles encontram a porta aberta e a luz acesa. Eles travaram.
O vigia do colégio encontrava-se no local, ele virou-se para encarar os dois amigos quando os viu se aproximando.
Freddy estava caído no chão, perfeitamente imóvel, a não ser pelo brilho de seus olhos fantasmagóricos, que encaravam o fundo do banheiro.
Já era manhã do dia seguinte quando Matt e Carl encontravam-se na sala do diretor Amber, um homem grande e de ombros largos, que lembrava um boi furioso. Ele pegou um caderninho, uma caneta e apontou para duas cadeiras a sua frente, sinalizando para que Matt e Carl sentassem. Os dois obedeceram, sentindo ambos uma agitação interior que ia crescendo pouco a pouco.
O diretor os encarou atentamente por longos segundos, que pareceram uma eternidade para os dois garotos, com olhos inquisidores, e começou a perguntar da noite passada, com voz cavernosa.
Ele queria saber a verdade... toda a verdade.
Matt e Carl empalidesceram.
A única verdade que eles conheciam era a que já haviam contato antes aos seus pais e aos de Freddy. Que eles estavam no colégio tentando desvendar o intrigante mistério do banheiro masculino, e que numa determinada hora da madrugada, Freddy ficou sozinho e então tudo aconteceu. Que eles não viram e que não sabem de nada.
Já era o terceiro caso de alunos atacados misteriosamente no banheiro masculino, e as famílias exigiam uma explicação para os bizarros fenômenos.
Matt e Carl narraram tudo exatamente como aconteceu, e o diretor ia anotando cada detalhe em seu caderninho. Eles notaram que o homem não estava entendendo nada.
Eles também não.
Amber mandou os pais dos dois entrarem na diretoria e eles assinaram uma carta de advertência dos filhos por invasão de propriedade privada. Enquanto deixavam o colégio, Matt e Carl podiam notar uma placa na entrada onde se lia: aulas suspensas temporariamente.
O diretor Amber ficou ali sentado em sua sala por um instante, pensativo, avaliando a situação. Oscilando, pôs-se de pé e saiu da sala, foi caminhando na direção do banheiro masculino, onde parou e ficou observando.
Em casa, Matt foi posto de castigo, e irritado, foi para seu quarto bufando. Ele jogou-se na cama e cobriu sua cabeça com um travesseiro.
De volta ao colégio, o diretor Amber fez menção de abrir a porta do banheiro dos meninos, mas hesitou, sentindo incerteza no que estava pretendendo fazer.
Matt despertou sobressaltado. Os olhos estavam brilhando. Ele correu até a mesinha do computador e ligou o aparelho. O garoto fez uma pesquisa rápida.
Matt abriu a boca, assombrado.
O diretor Amber encontrava-se dentro do infame banheiro masculino, ele sentiu um súbito desconforto. Dando meia volta para deixar o lugar, ele parou de repente. Um grunhido estranho vindo de trás dele, o fez virar-se. Um rosto de mulher, magro e pálido o encarava.
O homem ficou olhando, o horror agora mesclado com medo. A imagem era repulsiva e profundamente bizarra, trazendo-lhe uma sensação de pânico. O corpo do diretor Amber pareceu oscilar diante do terror. Então, como se estivesse cansado demais para ficar de pé mais um instante, ele se deixou cair no chão frio, o olhar parado fixo na mulher.
A noite havia caído.
Emergindo das sombras, Matt sorrateiramente se deslocou de trás de uma parede quando viu os pais indo para o quarto deles.
Ele desceu as escadas e ganhou a rua. Alguns metros adiante, escondido na escuridão, Carl lhe esperava ansioso e eufórico para saber que novidade tão surpreendente e assombrosa ao mesmo tempo o amigo teria para lhe contar. Matt pediu um pouco mais de calma ao amigo, que quando chegasse as duas pessoas que ele estava esperando, Carl saberia de toda a história.
O outro resmungou, emburrado.
Os amigos saíram andando. A um quilômetro e meio de distância, Matt avistou seus convidados.
Ele acenou.
Matt e Carl atravessaram a rua. Eles estavam na frente da escola onde estudam. Os convidados de Matt eram Barry e Lucy Duvivier, um casal famoso responsável por investigar fenômenos sobrenaturais.
Carl estava perdido.
Matt suspirou. E começou a falar.
Ele falava com autoridade inconfundível, como se fosse um mestre no assunto. De acordo com as recentes pesquisas feitas por ele e baseado numa história real ocorrida anos atrás no lugar onde hoje funciona o colégio de Iron Hill, ele acredita que eles estejam lidando com a verdadeira entidade conhecida em muitos lugares como "loira do banheiro".
Carl não pôde conter as gargalhadas.
Barry e Lucy permaneceram sérios.
Carl ergueu os olhos, agora sério, certo de ter interpretado mal o que ouvira.
Matt pegou na mochila uma pilha de papéis e entregou para o casal Duvivier.
Barry e Lucy leram tudo atentamente.
Carl puxou Matt para o lado e pediu uma explicação. O garoto detalhou para o outro toda a história. Nas suas investigações, ele fez uma descoberta no mínimo assustadora. Anos atrás, antes da existência do colégio, no terreno existia uma propriedade onde viviam uma família: pai, mãe e suas duas filhas. Marie e Roselyn, com 15 e 17 anos respectivamente.
Roselyn tinha um noivo, que terminou se envolvendo com a cunhada. Quando tudo foi descoberto, Roselyn não suportando a dor da dupla traição se suicidou. O noivo abandonou Marie quando descobriu que essa esperava um filho seu, deixando-a desnorteada.
Ninguém nunca soube o que aconteceu com Marie e os pais. E nem com o filho que ela esperava do cunhado.
Carl abriu a boca, surpreso.
Um barulho dentro do colégio deixou todos em alerta. Barry aproximou-se do portão, que estava apenas encostado. Matt e Carl trocaram olhares, desconfiados.
Àquela noite parecia especialmente ameaçadora. Agora, ao se aproximarem do banheiro masculino, Mart e Carl iam sentindo suas pernas fraquejando, e o suor escorrendo, mesmo estando fria a noite.
Um barulho no corredor atrás deles fez todos virarem. Não havia nada, a não ser sombras. Abrindo a porta do banheiro, os Duvivier não encontraram nada de imediato, foi somente ao acenderem a luz que todos se depararam com os corpos do diretor Amber e do vigia caídos no chão, imóveis, mas vivos.
Os dois encontrava-se iguais as outras vítimas, com os olhos arregalados, encarando algo que só eles conseguiam enxergar. Barry e Lucy aproximaram-se e abrindo ambos uma Bíblia, exigiram que o espírito que habitava o banheiro se manifestasse diante deles.
Matt e Carl deram um passo para trás.
Uma sombra escura, começou a emergir do chão, ganhando a forma de uma garota magra, pálida e nua. As mãos zangadas agarravam o chão como se estivessem impregnadas com o poder do próprio diabo. A besta bradou ferozmente.
A garota levantou-se e flutuou.
Os olhos de todos se arregalaram. A criatura começou a gritar horrorizada antes mesmo de Barry e Lucy iniciarem o exorcismo. Ela gritava chamando pelo filho. Nesse momento, Barry e Lucy estancaram. Matt e Carl também.
A garota morta diante deles era Marie e não Roselyn, como eles acreditavam a princípio.
A confusão tomou conta de todos.
Os Duvivier exigiram então saber a verdade da entidade. Gemendo de dor, ela relatou que seu noivo havia fugido com sua irmã lhe deixando grávida dele. Temendo a vergonha, seu pai resolveu lhe matar para assim manter o segredo. E de tempos em tempos ela volta para assombrar o local do seu assassinato.
Quando a garota terminou de falar, ela sorriu, diabólica.
O tempo pareceu parar, transformando-se em um sonho em câmera lenta. Lucy não sentiu quando a garota lhe atacou. Só sentiu a pancada na cabeça e o transtorno. Os olhos de Barry ergueram-se para o alto, para a garota que flutuava acima deles.
Matt e Carl ficaram agachados, com uma expressão de medo nos seus rostos. Os olhos de Barry demonstravam pânico agora, e a garota não pôde deixar de sorrir de forma grotesca. Ela avançou sobre ele. Erguendo-o até uma altura considerável, ela rodopiava com Barry no ar, gargalhando.
Matt correu até Lucy.
Ela sentia uma dor latente e o sangue escorrendo.
O garoto pegou a Bíblia de Lucy.
Concentrando todas as suas forças, Lucy tinha uma difícil tarefa diante de si, sabia, iria exigir todos os segundos de vida que lhe restavam.
Ela abriu a Bíblia e começou a recitar alguma coisa em latim.
A garota começou a gritar horrorizada, sentindo dor. Ela soltou Barry, que começou a cair em espiral, vindo a se chocar com o jardim de rosas do colégio.
O fantasma de Marie sentiu que estava queimando. Gritou alto, agoniada.
Ela sentia-se literalmente pegando fogo. Fechou os olhos e sentiu por fim a dor desaparecer, e junto ela.
Matt e Carl olharam fixamente para a garota no alto, e a viram desaparecer como uma névoa, se dissipando no ar, incrédulos. Enquanto isso, Lucy correu ao encontro do marido, caído no jardim de rosas. Ele estava bem, apenas zonzo.
Matt e Carl olharam na direção do banheiro, o diretor Amber e o vigia estavam inteiramente despertos.
Suas cabeças doíam, mas estavam bem.
Eles só não recordavam do que havia acontecido.
Todos acharam melhor assim, ninguém ficar sabendo. Matt sentiu algo vibrando dentro do bolso da calça, era seu celular. Ele atendeu, era a mãe de Eddie avisando que o filho e os outros haviam acordado. O garoto fingiu demonstrar surpresa.
O dia estava nascendo lá fora, e lentamente, a névoa da madrugada começou a dissipar-se.
Fim
Tema: ESCOLA