O SÍTIO

Sidney China

Era o fim do ano letivo, no colégio Professor Romualdo Ludovico Macário, final de Novembro e somente alunos que ficaram em recuperação, ainda permaneciam frequentando. O professor de literatura, Sergio Doiana e a sua esposa, a professora de arte, Edna Doiana, tinham herdado um Sítio num povoado 200km distante da cidade e planejavam levar a turma do 9º ano, concluintes do Ensino Fundamental, para passar um final de semana de lazer e confraternização. Apenas quinze alunos foram liberados pelos pais, para esse passeio ao sítio, entre eles havia uma garotinha metida a esperta, que se chamava: Maria Letícia, muito falante e imaginativa ela não parava de fazer planos e sugerir brincadeiras para realizarem no passeio.

- Como vamos passar a noite no sítio, vamos promover uma festa à fantasia, comunicou ela.

- Então vamos combinar com a turma, para que levem tudo que tiverem, que possa servir de fantasia, completou Marize, a sonhadora.

- posso levar maquiagem e perucas? pergunta Sofia, a organizada.

- Claro que sim Sofia, respondeu Maria Leticia, feliz.

Os garotos estavam reunidos na quadra de Esportes.

- João Manoel! João Manoel! grita Maria Letícia

- Diz aí Lethy, em que posso te ajudar? pergunta João Manoel, todo solícito

- Avisa aos outros garotos, que manhã à noite no Sítio, vamos organizar uma festa à fantasia, ok?

- Tudo bem Lethy, vou falar com eles.

João Manoel era o típico adolescente “descolado”, muito educado e líder natural, tinha no Vicente, seu melhor amigo e o Vicente por sua vez, era um CDF característico.

- Não vai dar certo! resmungou o Silvio, o garoto do contra, o pessimista

- talvez seja até interessante, pondera Arthur, o galãzinho

- Eu topo qualquer parada, se entusiasma Samuel, cheio de segundas intenções: sonhando de máscara de pierrot, dançando com a Ângela, a princesa do “pedaço”

A euforia tomava conta de todos, havia uma expectativa muito grande, para essa, que seria para a grande maioria, a primeira grande aventura. Maria Leticia, transpirava ansiedade, era tão gritante a sua inquietação, que chamava a atenção das suas colegas

- Calma amiga, vai dar tudo certo! sussurrava Ângela, tentando acalmar a Lethy, que era assim que todos chamavam, a Maria Letícia.

Ana Estela e a Thelminha, eram primas quase irmãs e confidentes, garotas inteligentes, sarcásticas e com grande dificuldades em matemática, por isso, ficavam em recuperação todos os anos

- E aí Lethy, tudo pronto? indaga Thelminha

- Será que lá no sítio, tem muitos insetos? Preocupa-se Ana Estela

- Quase pronto Thelminha, vou fechar com a professora os últimos detalhes e quanto a sua preocupação, Ana Estela, seria bom levar repelentes para prevenção em caso de mosquitos.

Nesse momento chegam para se juntar a turma, Simone, Luiza, Joana e a Raquel

- Será que é verdade que o sítio fica em um lugar muito isolado? Pergunta Raquel, sempre muito receosa

- Tudo “fake” grita Joana e continua, os invejosos de outras turmas , que não foram convidados, ficam espalhando mentiras nos grupos de Whatsapp

- Tenho medo de escuro, fala Luiza, toda medrosa

- Não se preocupem colegas, o professor falou que lá além da energia elétrica normal, ainda tem um grupo gerador de emergência, para ser acionado caso aja pane na rede elétrica, tranquiliza, Simone, a otimista.

- Tá bom turma, amanhã as 16;00 horas, embarcaremos no micro- ônibus do seu China, que já foi contratado pelos professores: Sergio Doiana e Edna Doiana, a saída está prevista para as 16;30 dessa sexta-feira ou seja amanhã, dia 13, galera!!-

- Uhuuuu, se empolgou Maria Letícia. Se despediram e saíram em seus pequenos grupos de sempre, em direção às suas residências.

De tanta ansiedade a Maria Letícia, passou a noite em claro e às cinco da manhã, Dona Zuleide, sua mãe, se surpreende com a sua dormióca, de pé tão cedo.

- Vá dormir menina! isso é hora de você levantar? Reclama D. Zuleide

- Não mãe! tenho muita coisa para arrumar, responde nervosa Mª Letícia

- Maria Letícia, É só um final de semana, não há necessidade de tanta coisa!

- Ah mãe! é minha primeira viajem e vou fazer a maior farra.

Era sexta-feira, 13 de Novembro, um belo dia de sol e calor e parecia ser, um inicio de final de semana maravilhoso .

Maria Letícia, tomou seu café da manhã, com a sua mãe, Dona Zuleide e o seu pai, Seu Sidney, um Jornalista Mediano de um pequeno jornal da cidade.

- Filha, só nos veremos agora na segunda-feira, vou chegar do jornal mais tarde e provavelmente, você já esteja a caminho do Sítio, juízo e responsabilidade, ok filha?

- Claro Papi, sorriu Maria Letícia abraçando seu querido Papi, que era assim que o chamava, desde que aprendeu a falar.

- Boa viajem e aproveite, disse-lhe seu Sidney, beijando-lhe o rosto.

Naquele dia, Maria Letícia e a sua Mãe Dona Zuleide, almoçaram mais tarde e a Dona Zuleide, sugeriu que Maria Letícia, dormisse um pouco, antes da viajem, já que passara a noite anterior em claro, mas, a Maria Letícia retrucou, dizendo que não era preciso, pois estava muito bem disposta.

- Disposta o que? com essa cara de sono? insistiu inutilmente, Dona Zuleide.

As 15:30 horas, Maria Letícia se despede da sua mãe.

- Tchau Mami! até segunda-feira!

- Vai com Deus minha filha!

Maria Letícia chega ao colégio exatamente as 16:00 horas, pois sua casa ficava a cinco quadras do colégio, ainda não havia ninguém no colégio, Maria Letícia falou com o porteiro para ficar esperando a turma dentro da escola, mais precisamente na quadra de esportes, sentou na arquibancada, retirou da mochila o celular e resolveu checar as mensagens, enquanto esperava o pessoal.

- Embarquem! gritou o seu China

Em poucos minutos todos já estavam à bordo do “Jurásic Móvel” apelido dado ao micro-ônibus por João Manoel,

Maria Letícia, estava realmente assustada com o estado do micro-ônibus e o estado físico do próprio seu China, já que o veículo sempre foi muito bem conservado e o seu China, era um militar da reserva que se mantinha sempre em boa forma, e não fazia tanto tempo assim que os vira muito bem. O carro estava em péssimo estado, sem pintura e muito amassado e o seu China, muito envelhecido, com grandes olheiras e uma palidez cadavérica.

Nada poderia estragar aquela aventura, pensava Maria Letícia, o que mais importava era a farra que fariam, durante a viagem e ao chegarem ao sítio.

- Vem Lethy, chamou Raquel

- Vamos cantando até ficarmos sem voz, gritou Angela

Que coisa! pensou Maria Letícia, até os meus amigos estão meios estranhos, deve ser a euforia, considerou ela, todos muito exaltados, cantavam, riam e dançavam loucamente.

O professor Sergio Doiana, ligou para Maria Letícia e avisou que ele e a esposa iriam de carro e chegariam mais tarde

Finalmente chegaram ao sítio, um lugar oásico em meio ao nada e muita estrada de barro, era um local cheio de arvores frutíferas e mata virgem e um lago ao fundo, a casa era um sobrado de dois andares em estilo Gótico e aspecto chocante, antes porém antes do desembarque, despencou o maior toró, chuva com muito vento e direito à raios e trovões.

- Como assim? Não havia previsão de chuva para essa região, protestava Luiza

- Desembarquem e se abriguem na casa, ordenou seu China, a Maria Letícia está com a chave, completou.

- venha também seu China, pediu Maria Letícia.

- Não se preocupem comigo, eu ficarei na viatura, falou seu China.

Aos poucos todos entraram no sobrado, que por dentro era tão desagradável como por fora, paredes escuras, janelas antigas, lustres velhos e uma escada de madeira que dava para o andar superior, lá fora, trovões e raios cortavam os céus e a garotada vibrava em êxtase, com todo aquele momento de suspense e mistério.

Maria Letícia estava vibrante e entusiasmada, porque a estada no sítio estava prometendo muita emoção e ela que sempre gostou de filmes de terror e tudo que se referia a esse gênero. Havia ao todo oito suítes, três no andar superior e cinco no térreo e ficou resolvido que os meninos ficariam no andar superior e as meninas no térreo, João Manoel ficou com a suíte do lado norte, com vista para o lago , o Vicente e o Silvio, com a suíte do lado sul, com vista para a floresta, já o Arthur e o Samuel, ficaram no quarto ao lado da escada, a vista era só a estrada e o portão do Sitio, era espaçoso e também tinha banheiro, aliás, todos os aposentos eram suítes, pois no passado essa casa fora um hotel fazenda muito procurado, até que tudo mudou depois daquele horrível acontecimento, que não vem ao caso agora.

As meninas também se agruparam em dois grupos de duas e dois grupos de três meninas, Thelminha escolheu ficar com a sua prima Ana Estela, Maria Letícia ficou com a sonhadora Marize, Sofia, Angela e Simone se juntaram em outro quarto e por fim, Luiza, Joana e Raquel, ficaram no último quarto disponível, pois o de número cinco do térreo, estava fechado e reservado para os proprietários, os professores: Sergio Doina e a Edna Doiana sua esposa.

- Atenção galera, as 20:00 horas vamos fazer uma reunião e em seguida faremos o nosso jantar!!! Gritou Maria Letícia, ao pé da escada.

Houve a maior gritaria confirmando que estavam cientes. A chuva continua aumentando, com o vento gruindo, feito um animal ferido e os raios e trovões sinalizando uma grande tempestade, ao longe se ouvia o som do grupo gerador, parecia um lamento distante, suplicando clemência.

Ás vinte horas pontualmente, Maria Leticia estava ao pé da escada, chamando os retardatários, que chegavam aos atropelos.

- Bem, estamos todos aqui? Pergunta Maria Leticia.

- Sim, não falta mais ninguém, Lethi, sorriu Marize

- Já tiramos a comida do forno, avisou Sofia

- ok! Já estamos todos instalados, vamos jantar e esperar os professores, eles já devem está chegando, tranquiliza Maria Leticia.

- já deviam ter chegado, o temporal deve ter atrapalhado a viagem deles, falou Silvio, o pessimista.

Jantaram com a mesma algazarra que sempre faziam em qualquer atividade, fizeram um sorteio para saber quem lavaria as louças, Luiza e Raquel tiraram “a sorte grande”, João Manoel e Samuel, prontificaram-se a secar a louça.

- Essa TV não pega, o sinal foi afetado pelo clima, só pode, reclama o Vicente.

- Também não há sinal no telefone e nem Internet, estamos isolados do mundo, grita Arthur, irritado.

- Vamos ter calma, uma hora a chuva cessa e tudo volta ao normal, apazigua, João Manoel.

Mas, a tempestade parecia enfurecida com aquele lugar, e só aumentava, o vento agora sussurrava uma melodia sobrenatural, de repente as luzes se apagaram, deu-se inicio a um silencio tenebroso e uma escuridão que parecia os devorar lentamente, o silêncio foi interrompido pelos gritos desesperados dos jovens em pânico, o Grupo gerador calou-se e como regesse o tempo, cessaram a chuva e o vento, instantaneamente, restando apenas a escuridão e o medo.

- Calma gente, muita calma nessa hora, se reúnam em turmas de quatro e acendam velas e as lanternas dos celulares, e vamos esperar o seu China religar o gerador, pedia Maria Leticia.

O tempo se arrastava dolorosamente e nada de gerador e nada do seu China, a escuridão era sinistra, de vez em quando riscada por pontos de luzes, das lanternas dos celulares e das velas. Já impacientes, João Manoel e Maria Leticia resolvem irem até o gerador para verificar o que estava acontecendo e o porquê do não funcionamento, correram pelo jardim e em poucos segundos chegaram à Casa de Força, onde era abrigado o Gerador de Energia, empurraram a grande porta de madeira, causando um rangido horripilante e mais horripilante ainda foi a cena com a qual se depararam, causando um grito de terror uníssono dos dois amigos, o velho China estava com o rosto desfigurado, os olhos haviam saltado e a cabeça esmagada.

João Manoel e Maria Leticia saíram aos prantos do compartimento do gerador em total desespero, nesse momento todos estavam na porta da casa em pânico e faziam perguntas ao mesmo tempo e os dois jovens lideres, tentavam descrever o que viram.

- Meu Deus! Quem fez isso com o velho? Perguntava para si mesmo o Arthur.

- Muita maldade, esmagaram a cabeça daquele pobre senhor, lamentava o Silvio.

A escuridão ainda reinava, salvo alguns pontos piscando nas mãos tremulas daqueles assustados jovens, que mais pareciam vagalumes em romaria, naquela medonha noite. Uma hora depois, todos já estavam mais calmos, na tentativa de vencer a eterna noite, tinham se recolhidos aos seus respectivos quartos, quando em determinado momento, um grito de horror, vindo do andar de cima, estremeceu todo o casarão,

- De onde veio esse grito? Pergunta a Lethi, olhando assustada para todos aqueles horrorizados olhos, que já estavam todos, em um só grupo.

- Veio do quarto do Vicente e do Silvio, falou Thelminha.

- Vicente! Silvio! Chamou a Leticia, na esperança de ouvir resposta, mas, ninguém respondeu, alguns soluçavam, outros choravam baixinho. Não houve resposta e alguns começaram a rezar baixinho e houve nesse momento, um abraço coletivo, pareciam pinguins que se reúnem para enfrentar as tempestades geladas. João Manoel convocou os amigos: Arthur e Samuel,

- Vamos lá gente, vamos ver o que aconteceu, ordenou o João Manoel.

João Manoel armou-se de faca, Arthur, com uma “mão de pilão” que encontrou num canto de parede e Samuel, com um velho facão que estava na cozinha, e foram em direção à suíte do lado sul, no andar de cima, subiram as escadas lentamente e chegando à porta perceberam que a mesma estava fechada e resolveram arrombar, bateram, deram ponta pés, forçaram com os ombros e depois de muita luta, conseguiram abrir aquela porta de madeira maciça, parados e como petrificados ficaram alguns segundos de olhos arregalados, de horror e espanto, a janela que dava para a floresta, estava aberta, o Vicente estava ajoelhado, com o tronco deitado sobre a cama, parecia que antes do golpe fatal, havia pedido por sua vida, a cabeça estava esmagada e os olhos haviam saltados das orbitas, o Silvio, morto da mesma forma, estava debaixo da mesa de centro da suíte, passando muito mal, os três jovens desceram as escadas lentamente.

- Foram mortos da mesma forma do seu China, sentenciou o João Manoel,

- Meu Deus! Quem será o assassino e porque escolheu logo nós, estudantes adolescentes? Indagou Marize.

- Os professores não chegam e sem energia, estamos no mato sem cachorro! Gemeu Telminha.

De repente a chuva volta em toda a sua intensidade e com muito vento novamente, todos sentaram no hall de entrada, não tinham mais coragem de voltarem aos quartos,

Chovia muito forte, com muitos trovões e relâmpagos e um vento de fúria sobrenatural. Maria Letícia e João Manoel sentaram ambos, no segundo degrau da escada que leva ao andar superior, Arthur e Samuel sentaram em um banco ao lado da escada, Ângela, Simone e Luiza sentaram ao lado esquerdo da porta de entrada, para quem sai, do lado direito da porta, sentaram a Ana Estela e a Thelminha, primas e inseparáveis, Sofia, Marize, Joana e Raquel, sentaram ao centro do circulo formado pelos jovens, num salto de puro reflexo, João Manoel fica de pé e grita, eu vi, eu vi um vulto passar em frente a porta.

- Vamos fechar a porta, rápido! Aconselhou Maria Letícia.

E assim foi feito e fecharam a pesada porta de madeira maciça. Chovia com muito vento lá fora, mas, dentro da casa o calor estava insuportável, mesmo assim, ninguém ousava abrir as janelas. A essa altura as velas estavam no fim e os celulares que serviam de lanternas, haviam descarregadas as suas respectivas baterias, as portas de todos os quartos estavam abertas, totalmente escancaradas.

- Esperem! silêncio! pede Luiza

- Vocês estão ouvindo? Indagou Joana.

- Isso mesmo joana, completou Luiza.

- Estão batendo na janela do nosso quarto, meninas! Grita Raquel.

Toc, toc, toc... As batidas vinham do lado de fora da janela do quarto.

- Será que são os professores? Viram a porta fechada e resolveram bater na janela? Pergunta Maria Letícia.

- Pode ser! Exclamou João Manoel.

Correram para o quarto e abriram a janela e surpresos viram que não havia ninguém, neste momento, gritos vindo do hall de entrada, chama a atenção da turma.

-Não!!!

- Não!!!

- Socorro!!!

Seguido de estrondo na porta principal, correram para o hall de entrada e ainda deu para ver as agitadas pernas da Luiza, antes da porta ser fechada novamente, e agora fechada por fora.

- Levaram as meninas! Gritou Maria Letícia.

De fato, A Luiza, a Joana e a Raquel, foram levadas de forma brutal e animalesca, arrastadas como animais caçados.

- Isso não vai ficar assim, temos que reagir, não devemos ficarmos acuados, esperando esse maldito assassino nos caçar, esbraveja João Manoel.

- Deve ser mais de um, não pode, um só assassino arrastar as três meninas de uma só vez, pondera Arthur.

- Pode ser três ou mais bandidos sedentos de sangue, salienta Samuel.

- Atenção gente, eu e o Samuel vamos lá fora, avisa João Manoel.

- Eu também vou, determina Maria Letícia.

- Ok! Vamos eu, Samuel e a Maria Letícia, fechem tudo, fiquem juntos e armem-se.

- Pode deixar, eu fico com as meninas, podem ir, resignou-se Arthur.

João Manoel, Samuel e Maria Letícia, saíram na escuridão chuvosa.

- Vamos fazer uma varredura em volta da casa, ordenou João Manoel.

Contornaram cuidadosamente toda a casa várias vezes e nada de estranho ou que pudesse ameaçar a segurança deles. Enquanto isso dentro da casa, Arthur liderava o grupo de meninas, Simone, Thelminha, Ana Estela, Ângela, Sofia e Marize. Nesse momento a chuva começou a parar, ficando apenas um chuvisco fininho, mas, o João Manoel, Maria Letícia e o Samuel, apesar de não terem nenhuma lanterna, continuavam a busca, mesmo sem saberem ao certo o que buscavam, depois de várias voltas em torno da casa, resolveram que iam ao lago e assim o fizeram.

- Vejam, nada de anormal nem estranho! Apenas um belo lago, de águas plácidas, brincou Samuel.

A chuva caía fininha no lago e como num truque de ótica, parecia que a chuva fina, subia do lago para o espaço.

- Bem, agora vamos até a floresta, falou em tom baixo o João Manoel.

- Não! Nunca que eu vou entrar na mata! Grita horrorizada Maria Letícia.

- Não vamos muito dentro da mata, apenas na parte da entrada, fala Samuel, e saíram os três jovens, os dois meninos, um pouco na frente e a Maria Letícia, receosa alguns metros atrás. Chegaram enfim diante da entrada da mata, árvores grandes e antigas como guardiãs da floresta, ficavam em todo o entorno, a chuva deu uma trégua, a lua surgiu esplendorosa e encheu de luz prateada a grande mata.

- Não dá para ver nada ainda, as árvores maiores ficam na frente, lembrou Maria Letícia.

- É por isso que temos que entrar um pouco, só um pouco, aconselha João Manoel.

- Não e não e não... Eu não vou, esbraveja Maria Letícia.

- Fique aí! Eu e o João Manoel entraremos.

Maria Letícia já tremia de frio, de medo e agora iria ficar sozinha em frente à mata, enquanto os meninos adentravam aquela pequena floresta, Maria Letícia gemia, tremula e desesperada, em poucos segundos eles sumiram mata adentro. Já se passara vinte minutos e nada do João Manoel e do Samuel voltarem, aquele suspense parecia drenar toda a resistência da Maria Letícia. Em dado momento um urro soou dentro da mata, um urro rouco, sinistro e animalesco, barulhos de galhos quebrados e passos em correria duram uns cinco minutos, em seguida tudo para, e o silêncio volta a reinar. A apreensão, o medo e a angustia, já haviam tomado todos os sentidos da Maria Letícia e de repente, ela ouve seu nome ecoar.

- Leticia, Letícia corra para a casa, salve-se, vá agora, fuja, era a voz do João Manoel.

Depois do grito, João Manoel calou-se num silêncio mortal, como tivesse sido interrompido abruptamente por um golpe letal. Apesar de muito tremula Maria Letícia, correu em disparada em direção a casa, tropeçou, caiu numa poça de lama, levantou-se e seguiu correndo. A casa parecia dez vezes mais distante do que realmente era, mas, cambaleante e muito ofegante, finalmente ela conseguiu chegar à casa, em frente a porta de entrada, aquela porta enorme de madeira maciça, já sem forças para gritar, apenas sussurrava.

- Arthur, meninas, balbuciou baixinho Maria Letícia.

Exausta se escorou na porta, que para o seu espanto, se abriu, ela entrou devagarinho procurando ver os seus amigos.

- Arthur, Meninas, gemeu Maria Letícia mais uma vez.

Não obteve respostas, e ela foi entrando mais e chegou até o hall de entrada e deparou-se com a cena mais triste da sua vida, os seus sete amigos estavam caídos e mortos sob poças de sangue, seu corpo gelou, fechou os olhos exausta e derrotada, mas, foi interrompida.

- Venha Letícia, chamou uma voz conhecida.

- Venha Letícia, você está atrasada, avisou outra voz conhecida.

- Não!!!! Gritou Maria Letícia, toda molhada e morrendo de frio.

- Letícia, Letícia insistia a voz, que agora ela reconheceu como a voz do Professor, Sergio Doiana.

Um clarão fez seus olhos piscarem varias vezes seguidas, até que os abriu definitivamente e o que ela viu, era inacreditável, toda a sua turma, os professores e o seu China, o motorista do ônibus, todos muito bem e dispostos. Maria Letícia estava deitada na Arquibancada da Quadra de Esportes da Escola, havia chovido e ela estava toda molhada, provavelmente dormiu, enquanto esperava a turma. Todos estavam rindo da sua cara de espanto, seu China em boa forma como sempre, pegou-a no colo e a pôs de pé e carinhosamente falou, vamos princesa, o Sitio fica há umas três horas e vai ser uma farra essa excursão. Maria Letícia percebeu que acabara de ter o maior pesadelo, abraçou o seu China, os professores e à todos os seus amiguinhos, um a um e em tom solene falou.

- Queridos amigos e professores, seria um grande prazer ir com vocês, mas, infelizmente, não poderei ir dessa vez, aproveitem e divirtam-se.

fizeram aquela algazarra, pulavam e riam como só os adolescentes sabem fazer, seguiram para o ônibus. Maria Letícia saiu em direção a sua casa, com um enorme sorriso de alivio no rosto. FIM