O OUTRO LADO DA LUA.

Arapiraca, Alagoas, ano de 2030. O bairro do Alto do Cruzeiro dormia, exceto alguns gatos que namoravam no telhado, sob a luz do luar. Pedro Gabriel saiu no quintal. Uma lata de cerveja na mão, pra amenizar o calor de 30 graus, apesar de ser uma hora da madrugada. Uma noite quente. Acordara com o choro do filho, Neymar, de nove meses. A esposa Rafaella dormia o sono dos justos. Pedrinho, como era chamado pela família, foi ver o filhinho no berço. Ligou o ventilador e colocou uma melodia no celular. O menino dormiu, dez minutos depois, após ser embalado pelo pai. Pedrinho abriu o whatsapp. Mensagem da avó Josefina. Ele sorri ao ler. -"Tudo bem por aí?!! Fica com Deus. Te amo, pretinho!!!" Adorava ser chamado assim. Pedrinho olhou para as estrelas. O avô Marcius o ensinara a distinguir as constelações. Órion, Sagitário, Capricórnio e outras. -" Não aponta o dedo senão cresce uma verruga na ponta dele!!" Lembrou-se da frase de seu avô. Tinha saudades dele e do filé a parmegiana divino que ele fazia. Bocejou. -" Coisa linda que Deus criou!!! Que céu lindo!!!" De repente uma luz intensa. Um objeto luminoso pousou no quintal. Pedrinho estranhou. Um helicóptero talvez?!! Ele não ouvira barulho de helicóptero nem de motor de carro. Não era um carro, certamente. Uma luz forte, igual a um farol alto. Uma luz verde. Pedrinho ficou arrepiado e paralisado ao ver um homenzinho verde, de meio metro de altura, descer de uma nave espacial. Era um extraterrestre. Na sua frente. Pele escamosa, olhos grandes e ovalados, quatro dedos nas mãos, cabeça pontiaguda e boca pequenina. O homenzinho ergueu um braço. -" Me dê água!!! Me dê!!!" Ele quase caiu. O etê estava fraco. Pedrinho entrou na casa e voltou veloz com uma garrafa pet azul. Era água geladinha. O extraterrestre tomou um copo de água. -"Grato! Sou do bem!!!" Disse o visitante do espaço. Pedrinho ficou zonzo ao ficar muito perto do visitante estranho. Tinha lido livros e visto muitos filmes sobre etês mas jamais imaginara que existiam de verdade. Meia hora depois, o homenzinho, refeito, fez sinal para Pedrinho o acompanhar. -"Grato. Venha, amigo!!!" Estava o alienígena com a garrafa pet azul a tiracolo. Uma portinhola se abriu na nave. Uma escadinha. Os dois entraram na aeronave. O interior estava cheia de luzes e painéis. Duas pequenas cadeiras. Pedrinho tentou olhar pelas janelas redondas mas estavam vedadas. -" Vamos voar, amigo!!! O homenzinho fez um gesto pra uma tela. Um mapa espacial, a Terra, o sistema solar, tudo alí na tela. As imagens apareciam com o comando de voz do homenzinho. Uma língua estranha. Em segundos eles já sobrevoavam o Rio de Janeiro. Pedrinho viu o Cristo Redentor, de uma janelinha que se abriu. -" Que massa. Essa viagem num busão demoraria dois dias cheios!!! Nem pisquei e chegamos no Rio!!!" A nave subiu. A estratosfera. -" Aqui dentro você não precisa de traje espacial. Fique tranquilo!!!!" As crateras lunares. A Terra azul pequeninha. A nave foi para o outro lado da lua, o lado escuro e oculto. Uma cratera enorme. Um sinal de estrela no solo lunar. O sinal ficou brilhando. A cratera se abriu. Pedrinho estava admirado. Olhos arregalados. Estaria sonhando???? -" Pedro Gabriel, os humanos enxergam apenas um lado da lua. Ela tem o tamanho exato pra eclipsar o sol. Esse fato é único no universo. A lua é uma espaçonave oca. Se tivesse o interior denso não poderia manter o campo gravitacional. Nós, do extinto planeta Loxx, cobrimos nossa grande nave com uma casca rochosa de latão, cromo, titânio, zircônio, mica, urânio e neptunium 237. Temos reatores nucleares aqui. " A nave entrou por um labirinto de estruturas metálicas. Uma cidade se revelou. Uma imensa cidade alienígena. -" Meu Deus!!!" Exclamou Pedrinho. -" Não existe dragão e São Jorge aqui.... Aqui temos uma atmosfera subterrânea. A lua é, na verdade, nossa grande nave com uma camada de rocha a cobrindo. Sua órbita circular é única, ela não tem rotação como outras luas. Isso é raro no universo. Tem sempre a mesma face voltada pra Terra e seus elementos são frutos de reações nucleares por isso não tem sentido a teoria de que a lua se desprendeu de seu planeta!!!" Pedrinho viu a nave pousar e ser cercada de homenzinhos verdes. Pedrinho saiu da nave. -" Incrível. Estou respirando normalmente." Uma escada rolante os levou a um mirante de onde se via quase toda a cidade extraterrestre iluminada. -" Linda vista, Pedrinho!!! Trouxemos a lua, quer dizer, nossa grande nave, pra perto da Terra há milhares de anos. Cobrimos-a com lavas e rochas. A lua é mais velha que a Terra. Daqui monitoramos seu planeta e vamos pra lá a fim de buscar cereais e minerais. Aqueles sinais misteriosos nas plantações somos nós que fizemos!!! Precisamos de vocês, humanos. Uma ajuda mútua." Disse o alienígena. Pedrinho foi levado a um grande templo. As portas se abriram automaticamente. Pedrinho ficou com medo. Havia centenas de extraterrestres trabalhando alí. Milhares de corpos humanos mutilados, pendurados em varais. Uma cena repugnante. -" Não é o que está pensando, amigo. Essas pessoas foram trazidas pra cá com o consentimento dos governantes da Terra. Tudo por baixo do pano, como costumam dizer. Aqui estudamos as doenças, estamos constantemente em busca de vacinas pra humanidade. Aqui é nosso laboratório principal. A maioria dos remédios dos terráqueos saiu daqui. A maioria das maiores invenções de vocês são de origem extraterrestre. Nós bonstruímos as piramides do Egito. Nós demos aos humanos toda a sua tecnologia e saber. Ajudamos os humanos dando a eles a escrita, a roda, os calendários, o fogo, as armas, a eletricidade, os motores e máquinas a vapor. Ah, também a tecnologia de telefones, energia elétrica, sistemas de computadores e celulares modernos. Agradeça-nos por ensinar também as técnicas de maquiagem e preparo de alimentos. Seus maiores gênios eram, na verdade, alienígenas bem disfarçados. Sem nossa ajuda os humanos ainda estariam na idade da pedra, tipo Os Flintstones!!! Colaboramos com a NASA e permitimos que visitassem a lua. Aquele astronauta desastrado, Aldrin, em 1969, na Apollo 11, derrubou um satélite e a lua soou como um sino. Quase revelou nosso segredo ao mundo pois a lua é oca. Nossa grande nave camuflada." Pedrinho foi levado de volta a nave do homenzinho verde. . Ele e o etê verde entraram. A nave decolou e saiu pela cratera, ganhando o espaço. Pedrinho viu a Terra azul. A atmosfera. América do Sul. O Brasil visto de cima. Nordeste. Alagoas. Uma viagem de dois minutos apenas. Estava no quintal de casa novamente. Pedrinho saiu da nave. Acenou ao extraterrestre. A nave partiu, sumindo no espaço. Pedrinho olhou as horas no celular. Duas horas da madrugada. Entrou em casa e deu duas voltas na chave da sala, por garantia e medo. O filhinho dormia tranquilamente. A esposa roncava. Pedrinho foi a cozinha tomar água. A garrafa pet azul não estava na geladeira. Deitou-se do lado da esposa e adormeceu. Contou o fato a esposa, na manhã seguinte. Ela riu. -" Eu tive um sonho estranho, paixão!!! Eu fui a lua numa nave alienígena. A lua é oca, tem uma cidade de etês no interior da lua. Eles nos observam. Eles estão entre nós." A mulher deu uma gargalhada e se levantou da mesa. -" Isso que dá ficar vendo estrelas, com a cabeça na lua!! Teve um pesadelo!!!! Isso até parece aqueles contos estranhos que seu avô Marcius escreve no Recanto das Letras!!! Me poupe." Pedrinho saiu com o carro e foi trabalhar no escritório de arquitetura de seu tio, Danilo. Contou seu sonho e sua viagem a lua ao tio e a sua esposa Íris. -" Que resenha maluca esse sonho, Pedrinho!!! Faz certo sentido mas é estranho!!!!" Disse Daniel. Após o trabalho, Pedrinho passou no salão de beleza da mãe, Januza, para lhe dar um abraço. Era escuro quando ele voltou ao seu lar. -" Querida, cheguei!!! Trouxe carne seca e tapioca da feira!!!" A esposa estava no quarto com o filho. Pedrinho foi a geladeira. Estava sedento. Pegou a garrafa pet azul com água gelada. Um copo de vidro. -"Estranho!!! Essa garrafa azul estava aqui????" A esposa veio e o filho saltou para seus braços. Pedrinho passou um bom tempo brincando com o filho. Sequer percebeu a nave que decolou do seu quintal. -"Esqueci de devolver sua garrafa, meu amigo humano." FIM

marcos dias macedo
Enviado por marcos dias macedo em 18/04/2020
Reeditado em 21/04/2020
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