A MALDIÇÃO DE MONTE CRISTO

A MALDIÇÃO DE MONTE CRISTO

Eles acenderam as tochas na entrada da caverna. Oliver e Jean entraram primeiro, Nicole e Jackeline foram atrás deles. Eu entrei por último, pois fazia a retaguarda, conforme combinamos. O terreno era íngreme e pantanoso. Descíamos com medo e excitação ante o desconhecido. Tínhamos o mapa. Era preciso achar a pedra marcada com um X.

Nossas luminárias improvisadas avistaram uma parede de pedras à nossa frente. Todas as pedras estavam cobertas de limo e musgos. Como saber se havia alguma marcada com a letra mencionada? Resolvemos raspar as mais cobertas de musgo. Lá estava ela!! Era preciso removê-la.

- Vamos cavar ao redor! Ela tem que sair daí!

Oliver pegou uma chave de fenda na mochila. Era prevenido, levou algumas ferramentas. Ao cabo de meia hora, na qual revezamos a tarefa, a pedra cedeu. Neste quadrado que se transformou em janela dava para passar uma pessoa de cada vez. Primeiro os meninos, depois as meninas.

Do outro lado, uma galeria! As tochas foram substituídas por algumas lanternas que o Jean encontrou em sua caixa de ferramentas. Mas,... meu Deus! As luzes iluminaram velhos esqueletos naquela câmara. Estavam ali há muitos anos. O que teria acontecido!? Foi o que todos nós nos perguntamos, em silêncio...

Alguns passos adiante, uma segunda galeria de madeira. Parecia esconder um casebre, daqueles tipos de mina de carvão. Uma alavanca com a ponta para cima a dois metros acima de nós. Para acioná-la teríamos que subir, pelo menos, um de nós, nas costas de um companheiro e puxá-la para baixo. Foi o que fizemos. E aí...PAMM!!! Ao acionar o mecanismo o chão se abre sob nossos pés e caímos naquele buraco profundo...

Não era tão profundo... mas, foi no final dessa queda que encontramos...o tesouro de Monte Cristo!! Entre os gritos de dor das meninas, alguns ralados nas pernas e braços, o Jean gritou:

- É o tesouro Ferdinand! O tesouro do Conde de Monte Cristo!

- Estamos ricos meninas! Vejam quantos baús cheios de ouro!

De fato, havia ainda muitas jóias, pedras preciosas: esmeraldas, safiras e diamantes, tudo em baús de madeira, porém, um colar de prata, com uma pedra vermelha no centro, chamou a atenção de todos nós. Havia uma inscrição gravada abaixo do rubi, contudo, em idioma desconhecido. Todos nós queríamos ficar com ele. Se soubéssemos o significado jamais teríamos feito o que fizemos...

- Vamos tirar a sorte! – Disse Nicole.

Colocamos cinco pedras dentro de um saquinho improvisado. Aquele que tirasse a pedra previamente marcada com uma raspagem em x ficaria com o amuleto. Gritei de felicidade! UUUHUUU!! – Eu ganhei!

- É,... o colar é seu Ferdinand – falou a Jackie, com certa inveja.

Imediatamente coloquei o medalhão no pescoço e convoquei os amigos para cuidarmos de sair dali, levando a maior quantidade de ouro e jóias que pudéssemos levar. Com dificuldades conseguimos escalar a parede até chegarmos à última galeria, de onde caímos. Usamos nossas camisas como sacolas e içamos grande quantidade de ouro.

Ao chegarmos do lado de fora da Ilha já era quase noite, portanto, teríamos que acampar ali. Mas tudo era festa. Estávamos ricos, poderíamos sumir no mundo... Montamos as duas barracas. Todos nós éramos solteiros. Nicole tinha uma queda por Jean, mas não chegaram a se declarar. Jackeline gostava de outra garota, não curtia rapazes. Oliver também tinha um namorado em Lile, e eu...

- Boa noite companheiros! – Disse eu, contemplando a lua cheia. Poucos minutos depois, levei a mão ao colar no pescoço e,...começaram os sonhos, as visões e os pesadelos... Tornei a rever tudo o que acontecera até ali... um flash back.

***

Em Paris, ali ao lado da Avenue des Champs-Élysées Jackie vasculhava as prateleiras da Biblioteca Nacional de França. Tinha um trabalho a fazer. Os demais componentes também procuravam. O professor pedira as leituras de certo autor chamado Alexandre Dumas. Foi quando Jackeline encontrou os manuscritos dentro de um raro exemplar da obra “O Conde de Monte Cristo”.

- Vejam! É um mapa! Tem uns dizeres em hebraico talvez!

- Será que é um mapa do tesouro!?

Era. Além do mapa, havia também uma carta, escrita em Francês arcaico que os jovens trataram de decifrar em segredo. Quatro adolescentes e um mistério pela frente... A carta narrava as desventuras do protagonista Edmund Dantès e resumia o que já sabíamos.

Encarcerado no Castelo de If, acusado de um crime que não cometera, traído por seus antigos companheiros, o marinheiro Edmund passou quatorze anos amargando o desejo de vingança. Quando finalmente consegue fugir, descobre, com a ajuda do amigo Abade Faria, um grande tesouro na Ilha de Monte Cristo. Com essa fortuna em mãos sua vingança vai sendo planejada contra aqueles que o condenaram.

- Será que esse tesouro ainda existe?

- Vamos tentar descobrir!?

Éramos cinco no grupo. Eu, Oliver e Jean, fizemos as pesquisas sobre a Ilha de Monte Cristo. Jackeline e Nicole conseguiram a verba com os pais que eram empresários. Viajamos em segredo. Tudo era alegria até ali... De repente retorno ao acampamento e...

- Oh! Não! O que está acontecendo comigo!?

Era o colar maldito! Começou a brilhar intensamente queimando a carne do meu pescoço. Não conseguia mais tirá-lo. A lua cheia me convidava a entrar na mata selvagem... Pêlos começaram a crescer nos braços e pernas... Estava me transformando. Corri para a selva, mas o Oliver percebeu que alguma coisa estava errada e veio atrás de mim.

No dia seguinte nos encontraram a poucos quilômetros dali. Eu estava muito machucado. Algumas queimaduras e arranhões por todo o corpo, mas o Oliver... Oh! Não, meu Deus! Ele estava desfigurado.

- Parece que vocês foram atacados por alguma fera! Oliver está morto!

- Vamos enterrá-lo e dar o fora daqui!

A viagem de volta parecia mais um velório. Ficaria pior... Fomos apanhados por uma tempestade, o barco, contudo era sólido o suficiente para suportar a tormenta. Pedimos para as meninas se trancarem lá embaixo. Eu e o Jean fomos içar as velas de sustentação e então... O medalhão!!!! Agora não!! Não! Nãããoooo ! Foi o fim o infeliz Jean. Seu corpo despencou para o fundo do mar.

As meninas receberam a notícia em desespero, principalmente Nicole, posto que, tinha esperanças com ele. A tempestade passou e conseguimos corrigir o curso. Chegamos no Porto de Marselha e alugamos dois quartos. Tínhamos ainda algumas milhas antes de chegarmos em casa. Dois dias para o retorno.

Naquela noite pedi a Nicole que fosse ao meu quarto. Por volta da meia noite ela entrou e revelei a ela o segredo do medalhão. Ao saber de tudo ela surtou. Começou a gritar:

- Seu monstro! Você os matou! Matou nossos amigos! Matou meu Jean!!!

Enquanto eu tentava contê-la pedindo que não me denunciasse o medalhão voltou a reluzir... a pedra emitia uma ordem: Mate-a! Eu não queria fazer isso. Chorei... chorei... chorei muito enquanto estrangulava o pescoço de Nicole. Era linda! Sai escondido do hotel e dei um sumiço no cadáver. Jackie, no quarto ao lado, só ficou sabendo do desaparecimento de Nicole no dia seguinte.

O que faríamos agora? Restávamos somente eu e Jackie com todo o tesouro do Conde de Monte Cristo. Porém, eu sabia que era só uma questão de tempo até o medalhão ordenar a morte de Jackeline. Ela sumiu durante o dia todo. Nossa viagem iria prosseguir na manhã seguinte. Então, naquela noite, Jackie invadiu meu quarto.

Estava tentando dormir quando senti uma forte dor no peito. O punhal de prata foi certeiro...

-Aaahhh! Ahhh!! Maldita! Você sabia de tudo!

Jackie segurava na outra mão um velho manuscrito e enquanto eu agonizava, ela repetia uma antiga oração escrita naquele papiro. Ato contínuo, arrancou o medalhão do meu pescoço e o colocou no dela repetindo a reza em língua estranha e arcaica.

“Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas, omnis incursio infernalis adversarii... Non ultra audeas, serpens callidissime, decipere humanum genus”.

- Você achava que eu não sabia da maldição do colar, hein, Ferdinand!? Também estudei a fórmula de neutralizá-lo!

Ao contrário do que todos imaginam, ela não me matou naquele momento. Disse-me que eu teria que pagar por todo o mal que havia feito e, não havia castigo maior do que a dor eterna.

Jackeline desapareceu com a fortuna de Monte Cristo. Enquanto isso, eu continuo por aqui, perambulando pelas ruas de Paris. Sou um morto-vivo. O meu castigo é doloroso... acreditem... eu não consigo morrer!