O CRUCIFICADO
Hoje após a fúnebre ceia,
Agradeço ao diabólico seguidor,
Tanta espera que permeia
A alma deste inevitável traidor!
Esta noite avistei Barrabás
Incitando esses judeus eloquentes
Estava defronte de Satanás
E meus pés presos pelas correntes
Aguardo agora a expiação
Paga com o sangue pela humanidade
Sobrevenha essa maldição
O escárnio para toda essa potestade
Minha alma é indefesa,
Ouço os gritos dentro das multidões
Tornei-me outra presa
Preso nestes pesadíssimos grilhões
Levo nas costas a chicotada
Minha pele descama em carne viva
Na fábula da sina malfadada
Talvez o evangelho não sobreviva!
Eis aqui, eu o Rei sozinho,
Moído pelas sevícias duma tortura
Com uma coroa de espinho
Cavando esta sua própria sepultura
Em breve isso se míngua,
E no calvário meu corpo cravejado
Retorcerá esta seca língua
Com a lança serei outro transfixado