O FAROL
Longe do lar nesta imensidão
Trabalhando em uma ilha distante,
Sendo esses guias de cada viajante
Presos a nossa própria solidão
A vista do mar é inebriante,
No isolamento não existe ternura
Apenas o pesadelo delirante
Que liberta de cada qual a loucura
O álcool me mantém eufórico
Vejo a imagem duma estranha sereia
Neste ambiente claustrofóbico
Esse branquear da lua que se prateia?
Seria esse meu humor cáustico
Que libertaria esta estranha sensação?
De acreditar neste mito náutico
Crendo na apavorante assombração?
Enquanto este mísero velhaco
Dorme com algum medonho segredo
Acordando retira deste buraco,
Certo arpão com furor e muito medo
Algo maligno eu pressentia,
Neste farol em todo silêncio sepulcral,
Aqui meu corpo apodreceria
Impelido por uma energia paranormal
-Que Netuno e toda sua legião,
Quebrem-lhe as tuas pernas assim rotas
Bradava assim o velho ancião,
- Por matar pelo ódio inúmeras gaivotas
Acertou-me com aquela ponta,
Escorreguei e cai um pouco aturdido,
O dedo em riste ao céu aponta,
Essa insanidade havia-lhe possuído!
-Que fazes velho? Quis dizer
- Cave cão maldito sua própria cova
- Enfim virás então a padecer
E irei enterrá-lo nesta minha alcova!