BREVE LUZ. PERENE ALVORECER.
O bebê abriu seus olhos e fixou a visão nos móbiles que pairavam acima do berço. Uma lua e várias estrelas. Seu pequeno entendimento ainda não conseguia discernir bem o que era uma “estrela” mas ele gostava de observar o leve balanço que lançava um tênue brilho nas paredes quando a lâmpada do quarto era desligada.
O bebê tinha febre e seu pequenos olhos ardiam mas ainda assim esforçou-se para observar no escuro do quarto os contornos do brinquedo que balançava suavemente acima dele. É tão bonito! Seus pais dormiam em um quarto ali ao lado. Não que ele soubesse disso mas sabia que sua mãe ou seu pai estariam ali em breve para vê-lo. Assim era o hábito criado desde que ele nasceu há exatos 6 meses, eles sempre levantavam de madrugada umas 3 ou 4 vezes para visitá-lo.
O bebê sente-se subitamente cansado. Seus olhos pesam e ele os fecha tentando dormir novamente apesar do incômodo que sente em seu diminuto corpo. Ele pensa no papai e na mamãe e uma parte dele quer ficar acordada porque sabe que eles virão em breve mas o cansaço o está vencendo...Ele fecha os olhos por alguns momentos…
Ele abre seus olhos e não sabe quanto tempo se passou. O próprio conceito de “tempo” ainda não está bem formado em sua mente infantil. Mas ele se sente melhor, de fato muito melhor. Parece que a febre e a sensação ruim abandonaram o seu corpo.
De súbito ele ouve passos leves e então a porta se abre lançando uma fresta de luz do corredor iluminando parte do quarto. Ele vê a silhueta de uma mulher caminhando lentamente em sua direção. Seria a mamãe?... Quando ela se aproxima percebe que não é. Na verdade nunca a viu antes mas algo nela lhe é vagamente familiar. Ela é linda. Seus cabelos negros, lisos e longos vão até sua cintura e sua pele é branca como a luz do luar. Seus olhos são de um azul intenso e ao mesmo tempo suave como uma mescla de dois tons antagônicos e ainda assim inexplicavelmente amalgamados.
A mulher lhe apresenta um lindo sorriso e imediatamente ele se sente bem, ela fala em um tom de voz mavioso: “Gostas de estrelas, não? Te levarei a vê-las!”. O bebê sorri. Ela o pega no colo e ele se sente aconchegado e feliz. Uma felicidade e paz tal qual ele não sentia desde que estava no útero materno. O bebê sempre se sentiu intimidado com rostos que ele não conhecia mas não agora, ele apenas se sente em paz nos braços da mulher que o carrega para fora do quarto...
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Catarina acorda e se levanta imediatamente pois precisa checar seu bebê. Segue pelo curto corredor e nota a porta aberta. Pergunta a si mesma se acaso a esqueceu desse jeito. Ela empurra a porta e acende a luz aproximando-se do bebê que está deitado. Subitamente sente a garganta seca, uma pressão como um soco no estômago a deixa sem ar enquanto sufoca um grito na garganta e grossas lágrimas sobem aos seus olhos ao tocar a pele fria do seu lindo bebê…