A POUSADA DO MAL

Bernardo e Santiago estavam a trabalho na serra gaúcha, seriam três dias em uma fábrica da cidade. Seria muito desgastante e com poucas pausas. Os dias seriam intensos, começariam as 7:00 e não teriam hora pra parar. Ficariam a noite em uma pousada próxima ao local de trabalho e que já estava reservada pela empresa. Após o término do dia de trabalho, só pensavam em tomar um demorado banho pra tirar o cheiro da fábrica, jantar e finalmente dormir. Foram recepcionados pela dona da pousada, uma senhora de sotaque alemão, simpática, mas com fala estranha acompanhada da sua cadelinha Cuca.

Questionando a demora, disse já estar esperando a muito tempo e que não saiu pra não os deixar do lado de fora mas que perdera alguns compromissos.

Parecia nervosa, a chaleira chiava e as madeiras da casa estalavam com o vento, mas nada que pudesse mudar a sensação do descanso que estava por vir. A noite estava estranha, a névoa era forte e o frio não condizia com o verão.

Ela os levou até o sótão, onde ficava o quarto reservado. A casa era antiga, porém, muito bem conservada e limpa. Dois lances de escada e chegaram. Sete camas espalhadas, um banheiro e duas portas que pareciam não dar a lugar nenhum.

Santiago escolheu a cama em frente a TV e Bernardo ficou com a cama do canto, preferiu ficar lendo seus livros de terror.

O ar condicionado não funcionava, a TV sintonizava apenas um canal religioso e as camas rangiam a cada movimento.

O cansaço era tanto que não aguentaram acordados por muito tempo.

Santiago acordou no meio da noite e viu Bernardo sentado em outra cama, em frente a uma das estranhas portas do quarto. Ele chamou o colega que não respondeu, levantou-se da cama e foi ver o que acontecia. Ligou a luz, mas a lâmpada estourou fazendo com que Bernardo virasse imediatamente o rosto pra trás. Estava com a cadelinha Cuca, morta, em sua boca.

Santiago sentiu seus ossos paralisarem e percebeu que havia mais alguém no quarto, tirou forças de onde não tinha e ao acender o abajur, viu a dona da pousada deitada na cama do colega. Ela levantou-se, foi em direção de Bernardo e o esfaqueou, voltou e bateu com o abajur na cabeça de Santiago sem que ele tivesse como reagir.

Na manha seguinte, Santiago desceu as escadas a procura do seu colega, iria contar o seu pesadelo, mas ao chegar na cozinha, apenas a dona da pousada estava a mesa. Santiago perguntou por Bernardo, ela respondeu que ele havia bebido café, comido cuca e teria saído.

Ele mais tranquilo perguntou se havia sobrado algum pedaço, e ela respondeu.

- Sim! As patas e as orelhas.

OBS: Cuca é um bolo de tabuleiro feito com ovos, farinha de trigo, manteiga e coberto com açúcar. Tradicional bolo da culinária alemã. Como se sabe, o nome cuca resulta do aportuguesamento fonético do termo inglês cooker, o qual significa fogão em português.

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.