Você já vai dormir?

Eu sempre achei minha casa um tanto estranha, ela tinha um clima mórbido e uma sensação de vazio e tristeza que sempre tomava o ambiente não importava o horário. Eu não era o único a notar, todos comentavam se sentir mal aqui dentro e era muito comum nós termos pesadelos frequentes.

As vezes eu sentia como se toda minha felicidade estivesse sendo sugada por esse clima mórbido. Com os anos a casa começou a tomar uma forma estranha, as janelas ficaram retorcidas como que em um sorriso macabro, as portas rangiam estranhamente quando se moviam (parecia alguém gritando), e a iluminação sempre permanecia um tanto escura mesmo quando acendíamos as luzes ou quando havia sol. Minha família se mudou respectivamente sobrando assim só eu, o único que parecia tolerar essas coisas.

Eu comecei a ver vultos no mesmo mês em que fiquei sozinho, as vezes eles eram tão nítidos que eu me perguntava se realmente não havia ninguém aqui comigo. Uma vez vi o que parecia ser um homem velho bem ao lado da minha cama, ajoelhado e com o rosto bem perto do meu, se meus sentidos não me enganaram, eu tenho a certeza que o ouvi dizer "Eu gosto das sombras daqui" .

Além dos vultos, também comecei a ouvir uma voz estranha em minha mente que me perguntava:

"Você já vai dormir?"

Por mais real que parecia, eu a ignorava e fingia não escutar. Mas ela parecia cada vez mais próxima e seu tom ficava ainda mais roco. Uma noite ela já estava tão perto que eu não pude ignorar e respondi:

- Sim, eu vou dormir daqui a pouco. Você precisa de algo?

(A voz que agora parecia cochichar respondeu com aquela rouquidão)

- Ah eu não preciso de nada, muito obrigada. Mas será que você poderia por favor apagar a luz? Ela me incomoda... - Eu estava muito assustado nesse exato momento pois não estava respondendo inconscientemente à primeira pergunta, eu realmente estava tendo aquele diálogo com uma segunda pessoa além de mim, então eu tentei ser o mais cuidadoso que podia:

- Se eu apagar a luz você vai dormir também?

- Naaahm, acho que eu vou te enfocar, assim que você pegar no sono.

- Eu só vou apaga-la se você prometer não me machucar.

- Eu vou te matar, assim que você pegar no sono, se você apagar a luz não vai precisar ver meu rosto quando eu estiver em cima de você te sufocando.

A conversa terminou ali pois eu lentamente abri minha bíblia e comecei a orar. Eu não estava com muito medo pois havia me acostumado com aquelas presenças estranhas em minha casa, porém agora era um momento de dar um basta naquela situação. Me lembro de que quando comecei a orar a porta subitamente se abriu e eu mal pude reagir. Felizmente era só o vento dessa vez. Eu a fechei mas alguns momentos depois ela tornou a abrir novamente e agora eu estava realmente assustado, mais do que nunca. A cortina começou a mexer descontroladamente e por um instante vi uma silhueta do que parecia ser um... bem eu não quero descrever mas a questão é que eu sai correndo e nunca mais pisei novamente naquela casa.