UMA PAIXÃO DIABÓLICA.
Uma chuva fina. Uma fileira de furgões de redes de televisão e jornais enfileirados na rua defronte ao fórum. Os repórteres a postos. As lentes das câmeras apontadas para a porta principal do prédio branco. Os paparazzi eufóricos. Um cordão de isolamento. A polícia. Horas de espera. Um jornalista comendo uma quentinha no gramado do jardim. Os curiosos. Um cenário de um filme de Hollywood. Era a vida real. A porta finalmente se abriu. Quatro seguranças brutamontes cercavam uma mulher. O barulho das lentes. Repórteres disputando espaço. Sabrina Spencer colocou os óculos escuros. Assim, não mostraria seus olhos marejados. Os lábios apertados denotavam uma raiva enorme do resultado da audiência. O advogado ao seu lado. Ela contratara William Norris para defendê-la. Era o melhor advogado de Los Angeles. Ainda assim, ela perdeu nos tribunais. Ele estendeu o braço para que ela descesse as escadarias em segurança. Ao menos era gentil. As perguntas dos jornalistas. Sabrina ficou calada. O advogado abriu um guarda chuvas. Sabrina, ladeada pelos seguranças, conseguiu chegar ao estacionamento. Ela abriu o carro. -"Eu posso dirigir, senhora Sabrina!!!!" Ela olhou para o advogado com desprezo. -" Você não serve nem pra ser meu motorista, imbecil!! Por sua culpa, William me levará milhões!!!!" O advogado ajeitou os óculos. -" Bem. A defesa apresentou aquelas fotos íntimas. A senhora e o senhor Goldman aos beijos!!!!" Sabrina estava furiosa. -" Ele roubou aquele beijo. Um paparazzi de plantão e pronto!!!" Ela entrou no carro. -"Tivemos o azar da juíza Michele ser substituída pelo honesto juíz Wendell." Disse o advogado. Sabrina ergueu o vidro do carro. Ligou o carro com raiva. Mãos trêmulas e nervosas. Saiu do estacionamento a toda velocidade. Soltava palavrões. -"Diabos!!! Que advogado inútil. Que inferno!!!!" Uma senhora com um carrinho de bebê. Sabrina freou. -"Quer morrer, satanás????? Calçada é pra pedestre, sua amaldiçoada!!!!!" A senhora mostrou o dedo do meio. Sabrina retribuiu o gesto. Ligou o rádio. Um disco seu. Uma música sua. Volume máximo. Sabrina tinha dois discos de sucesso. Música country. Indicação ao Grammy. O sucesso lhe rendeu milhões de dólares, uma mansão nos arredores de Los Angeles e um apartamento em Miami. Uma turnê ao Brasil e América Latina. Um dueto com Bob Dylan e Shanya Twain fora espetacular. A loira de vinte e três anos e um par de olhos de esmeraldas conhecera William no festival de Cannes. O ator a conquistara com flores e agrados. Ele fizera uma participação em Lost. Duas aparições sem falar nada em cena mas ainda assim se considerava digno do Oscar. William fez algumas novelas, nada mais que isso. Seis meses de namoro. Fotos nas revistas de moda e fofocas. O casamento num castelo escocês. Lua de mel em Puntacana. O casal perfeito não fossem as brigas e traições de William. O marido a iniciara no álcool e nas drogas. O ator se mostrou violento e possessivo. Sabrina não o denunciou. Um erro grave do qual agora se arrependera. Com as fotos do beijo de Sabrina e seu personal treinner, William ganhou a disputa. Divórcio e quase metade da fortuna da cantora. Sabrina chegou numa praça. A catedral. Ela saiu do carro. Olhou a torre da igreja. Precisava de paz. Respirou fundo e atravessou a rua. Salto alto. Escorregou na tonta branca da faixa de trânsito. Gritou palavrões. As escadas da igreja. A chuva fina. As pedras de mármore. Outro escorregão. Bolsa e óculos cairam. Uma queda daquelas não fossem braços fortes a segurá-la. Mãos firmes em sua cintura. -" Cuidado, moça!!!!" Sabrina se recompôs. Ajeitou o vestido. Sentiu um perfume delicioso. Olhou fixo ao seu anjo salvador. Um rapaz loiro, olhos azuis de uma cor única igual a cor dos mares do Caribe. Cabelos encaracolados. Um sorriso perfeito de comerciais de creme dental. A pele aveludada e com um bronzeado uniforme. Músculos torneados. Um deus grego. -"Obrigada!!!" Balbuciou ante aquele ser de outro mundo. Um misto de Brad Pitt e James Dean. -" Sou Luc Góticc. Artista de rua!!!" A voz dele era pausada e com uma rouquidão charmosa. Sabrina sentiu o coração disparar. As mãos suando. A respiração acelerada. Pupilas dilatadas. -"Sou Sabrina!!! Preciso rezar. Quer entrar???" O rapaz olhou pra dentro da igreja. As portas grandes abertas. O crucifixo sobre o altar. -" Melhor não. Meu violão está na praça!!!!" Sabrina se viu de mãos dadas com Luc. -" Me espere!!!!" Ele sorriu e piscou um olho. Ela entrou e esbarrou numa criança. -"Não vai com ele!!!!" Gritou a criança. Os pais da criança no corredor. A criança foi até eles. Sabrina não entendeu nada. Um banco. Um canto gregoriano lindo. Ela respirou fundo. Uma acústica perfeita. Vitrais coloridos belíssimos. As imagens de anjos e santos. Sabrina estava em paz. Orou pelo pai, falecido há um ano. Fechou os olhos. Adormeceu. Estava cansada demais. Os sons do sino a despertaram. Ela olhou em volta. O celular. Dormira por quinze minutos. Fez o sinal da cruz e saiu. A porta. A luz de fora. As escadas. -"Luc!!!" Ela sorriu. Lá estava seu anjo salvador, de pé. Um bálsamo num dia atribulado. Um bálsamo de um metro e noventa. Vestido de roupas simples mas de uma beleza e doçura nunca vista. -" Vai me levar pra sua casa???? Lá tem comida????" Sabrina sorriu. -" Tem comida pra alimentar um batalhão!!! Uma ótima cozinheira brasileira também!!! Sabrina fez sinal para que ele a seguisse. O carro do outro lado da rua. O rapaz com o violão. Sabrina sentiu o corpo levitar. Luc era um sonho. Ela abriu o carro. Luc notou um motoqueiro se aproximar. Sabrina seria atropelada. As chaves na bolsa. Luc estendeu a mão. Apertou os olhos. O motoqueiro viu um clarão e caiu. A moto passou longe de Sabrina. Ela se virou, assustada. -" Que foi???" Luc sorriu. -" Um louco com uma moto. São feitas pra cair!!!!" Ela entrou no veículo. Luc entrou e colocou o cinto de segurança. -" Não vai voar, Sabrina!!!!" Ela acelerou. -" Anjos adoram voar. Você é um, não!???" Luc sorriu. -"Sim. Há milhares de anjos por aí. Estamos em Los Angeles!!!!" Sabrina ganhou a auto estrada. A mansão. Um mordomo a esperando. Dois serviçais. Estranharam a presença de Luc. O rapaz estava admirando o luxo da residência de belos jardins. Ele passou por um salão. -"Soubemos da audiência pela tevê, senhora. Lamento!!!" Disse o mordomo. Sabrina não disse nada. Estava diferente. -" É a vida, Julian. Tudo que vai, volta!!! Peça a Mercedes pra fazer uma paella espanhola. Ahhh. Pode tirar dois dias de folga!!!!" O mordomo sorriu e se retirou. Luc a abraçou. -"Obrigado. Amo paella. Estive na Espanha em... 2014, eu acho!!! Ando muito pelo mundo!!!!" Sabrina sentiu um calor subindo pelo corpo. Aquele rapaz exercia uma atração forte sobre ela. Ele a hipnotizava. Ela não parava de sorrir. Luc a puxou e a beijou. Eles se deixaram cair no sofá. -" Preciso de um banho, Luc." O rapaz a pegou nos braços sem nenhum esforço. -" Também preciso!!!!" Ela indicou a escada que dava para sua suíte. A banheira onde se banharam e se amaram. Um frigobar e uma garrafa de champanhe. Luc deu a ela um prazer sublime e uma massagem vigorosa que a fez dormir. Ele dormiu também. O casal despertou, duas horas depois, com o toque do interfone. -" Senhora Sabrina, a paella está pronta!!!" Sabrina agradeceu e desligou o aparelho. Luc estava sonolento, entre os edredons e almofadas. -" Paella para o meu anjo salvador!!! Vamos descer, meu anjo???" Luc a puxou pra junto dele. Um beijo apaixonado e demorado. -" Você manda, Sabrina!!!!" (CONTINUA.....)