O 'Estranho Sorriso' do João Panta

Essa história aconteceu em agosto de 1964, época em que o nosso País ainda estava mergulhado nas incertezas por causa daquele golpe perpetrado pelos militares conta a Democracia, que acabou derrubando o presidente que havia sido democráticamente eleito pelo povo.

O fato é que naquela época existia, no lugar onde hoje existe a Ponte Rio-Niterói, uma comunidade que era conhecida como 'Parque Arará' e que, como todas as outras que ali existiam, foi removida para os conjuntos residenciais que foram construídos pelo então BNH em outros bairros da nossa Cidade Maravilhosa...

E era lá, em uma humilde casa construída ao lado do 'Concreto Redmix' que vivia o seu 'João Panta', que era uma espécie de curandeiro daquela região e que, através dos contatos com os seus 'guias', conseguia resolver práticamente todos os problemas espirituais daqueles que o procuravam. Ele aparentava ter pouco mais de uns sessenta anos de idade; era um sujeito muito carismático e solícito, estimado pelos seus vizinhos e por todos aqueles que desfrutavam da sua amizade...

Só que, em contrapartida, ele era também muito temido pela garotada do lugar, justamente por causa deles já terem por diversas vezes testemunhado algumas das suas 'incríveis manifestações', como certa vez em que ele depois de ter 'se manifestado' simplesmente comeu um copo de vidro, mastigando, triturando e engulindo tudinho na frente da molecada...

Mas o fato que mais impressionou a todos que o conheciam foi o episódio que aconteceu no dia da sua morte... Ele costumava dizer para todo mundo, que só iria morrer na última hora do dia em que completasse 66 anos de idade. Só que ninguém tinha idéia de quando isso aconteceria já que ele não dizia a sua idade para ninguém.

E foi naquela tenebrosa tarde daquele chuvoso dia 13 de agosto de 1964; uma quinta feira, que ele reuniu em sua casa alguns dos seus amigos mais chegados para com eles comemorar mais um aniversário... E ao som de "O Bigorrilho", de Renato e Seus Blue Caps, que era uma das suas músicas favoritas, que a galera bebeu e saboreou aquele farto churrasco que foi servido em comemoração a mais um aniversário seu...

Só que ninguém, além dele, sabia que aquele era o seu 66º aniversário, por isso ninguém estranhou quando à certa altura, já era tarde da noite, ele deu por encerrada a festa sob a desculpa de que ainda tinha tinha um compromisso inadiável com o seu 'guia'...

E só na manhã do dia seguinte; que era aquela inesquecível sexta-feira dia 14 de agosto é que todos ficaram sabendo qual era o tal 'compromisso' que ele tinha com o seu guia... E eles descobriram isso da pior forma possível; é que lá na porta do cemitério do Caju havia um gigantesco 'despacho de macumba' onde em meio a diversos alguidares, velas e cabeças de bodes, jazia o corpo nú do João Panta. E naquele 'macabro despacho' havia um detalhe que chamou a atenção de todos; é que quando viraram o cadáver de bruços, viram que bem no meio das suas costas estava marcado a ferro quente, como aquelas marcas que se vêem nos bois, o número 666... O número da besta!

O mais interessante, se é que assim se pode dizer; é que na sua face havia 'um estranho sorriso'...