DRÁCULA DE JOHNATHAN KING - CLTS 10

DRÁCULA DE JOHNATHAN KING - CLTS 10

by: Johnathan King

TRANSILVÂNIA - ROMÊNIA

1897

" O mundo parece cheio de bons homens, mesmo que existam monstros neles."

Bram Stoker

(...)

Era noite na Transilvânia.

Na catacumba do velho castelo, Drácula deixou seu caixão para assombrar o mundo dos vivos. O vampiro se transformou em um morcego-humano gigante e alçou vôo, acima das nuvens, com as luzes da cidade brilhando lá embaixo.

Enquanto o conde-vampiro passava por sua transformação bizarra, ele rasgava suas roupas, ficando completando nu, e seu corpo e rosto ganhavam contornos que lembravam um grande rato com asas.

Da janela de um monastério, um homem observava atentamente o vôo dá criatura, ele sabia que aquela coisa era um

vampiro. Na verdade, que era Drácula, um conde da Transilvânia morto-vivo que bebia sangue durante as noites. O nome do homem era Abraham Van Helsing, um famoso caçador de vampiros.

Com cabelos castanhos ondulados e uma barba bem-aparada, o homem tinha um rosto sério e de poucos amigos, um metro e setenta e cinco de altura e vestia roupas normais, nada que lembrasse um monge católico.

- Nosso ilustre convidado está chegando. - disse o caçador de vampiros para um monge que se encontrava ao seu lado. - Leve a garota para um lugar seguro e fique de olho nela.

O homem entendeu o recado e saiu seguindo por um longo corredor iluminado por tochas, o lugar lembrava um grande mausoléu em estilo gótico. Enquanto isso, Van Helsing permaneceu de pé na janela observando Drácula.

O monastério ficava no pé de uma montanha, acima de uma floresta de sequoias e pinheiros. À sua frente, mas não muito distante, ficava o castelo do infame conde Drácula. Nuvens cinzentas e baixas se misturavam à neblina, e havia uma chuva fria e fina no ar. O monastério era uma construção enorme, com vários andares e paredes altíssimas feitas de pedras escuras e marrons, além de um gigantesco telhado triangular.

Havia também no lado sul, quase na beira de um precipício, uma torre de mais ou menos uns quinze metros e meio de altura, feita também de pedras escuras e marrons. Um enorme sino ficava pendurado no centro. Do lado de fora, quatro gárgulas feitos de bronze, uma de cada lado da torre, pareciam fazer a segurança do lugar, sempre atentas com seus olhos frios e ameaçadores. Havia também um antigo cemitério ao pé da encosta.

O monastério não parecia um lugar assustador por dentro, era apenas uma mansão de pedra antiga com vários aposentos que serviam como oratório e quartos de descanso, e era todo iluminado com tochas fincadas nas paredes.

Drácula desceu no pátio externo do monastério, um local de chão lamacento e plantas rasteiras dos lados. Ele regressou pra sua forma humana e estava completamente nu. O chão encharcado chapinhava sob suas pernas despidas enquanto ele caminhava.

O vampiro parou na entrada do lugar e olhou para cima, cruzando seu olhar com o de Van Helsing e de alguns monges que observavam tudo das janelas impactados.

Drácula tinha feições cruéis que pareciam ter sido entalhadas em pedra. Ele tinha um corpo esguio e musculoso, mais ou menos um metro e noventa de altura, com um rosto longo e sinistro. Sua pele era esquálida e seus cabelos negros caídos até os ombros. O homem não tinha aspecto de vivo, exceto por seus penetrantes olhos vermelhos, como fogo ardente. Ele parecia um demônio.

Drácula sorriu, mostrando seus caninos pontiagudos e afiados para o espanto de alguns.

- Eu vim pela garota. - disse Drácula. - Entreguem ela para mim e eu prometo não matar ninguém hoje.

Não ouve resposta.

O vampiro rugiu com ódio.

Um relâmpago tomou conta do céu e a chuva fina se transformou em uma formidável tempestade.

Drácula então olhou na direção da torre onde ficava o sino e para as quatro figuras aladas que o rodeavam, e se fransformou em uma enorme gárgula e abriu as asas, voando acima do telhado. Os monges sairam correndo desesperados, gritando e tropeçando uns nos outros.

Van Helsing permaneceu no lugar, armado apenas com uma estaca de madeira de carvalho, a melhor para penetrar o peito de um vampiro, segundo os antigos, e um martelo. Ele estava com medo, mas tinha que manter o controle ou tudo estaria perdido.

Em um dos muitos aposentos que àquele lugar guardava, se encontrava escondida a jovem Minna Seward, o objeto de desejo que movia o conde Drácula. Ela era uma jovem de pele muito clara, cabelos ondulados e amarelos, que lembravam fios de ouro. Minna tinha uma beleza suave e lindos olhos que pareciam mudar de cor de acordo com o seu humor. Ela estava na companhia de um jovem monge chamado Lon. Berros e gritos de terror ecoavam pelo monastério, fazendo com que Minna e Lon temessem por suas vidas.

No telhado, Drácula, transformado em gárgula, se equilibrava tentando não cair lá de cima. Apesar de grande, era difícil para a criatura se manter firme lá em cima com todo aquele vento. Drácula conseguiu fincar suas garras de gárgula na parede e foi se arrastando até uma janela, enquanto as nuvens o castigavam com a copiosa chuva e o céu como que o açoitava com uma surra de relâmpagos.

Do lado de dentro, um pequeno grupo de monges orava pedindo proteção divina, e quando notaram a presença de Drácula na janela do lado de fora os observando, entraram em pânico e sairam correndo. O monstro explodiu em uma gargalhada maníaca diante do medo e desespero dos pobres homens. Van Helsing pedia para que todos mantivessem calma e fé, mas era em vão. Àqueles homens estavam apavorados.

- Você vai ser o primeiro que eu vou matar, Van Helsing. - disse Drácula através da janela.

- Você nunca vai entrar aqui, vampiro maldito. - respondeu Van Helsing.

- Eu só preciso de um convite para entrar.

- Você nunca o terá, conde Drácula.

Drácula se soltou da parede e voou até o chão. Van Helsing ficou observando qual seria o próximo truque do vampiro. Drácula voltou novamente a forma humana e colocou suas mãos no chão e começou a recitar algo em latim. Van Helsing olhou na direção do cemitério do monastério e viu a terra do lugar se revolvendo de forma violenta, viu as cruzes dos túmulos caindo e os mortos saindo de suas covas.

Lon e Minna deixaram o esconderijo onde estavam e foram seguindo por um corredor com pouca iluminação, até uma porta que dava acesso para um calabouço. O lugar era úmido e frio, e também escuro. Lon voltou até a entrada e pegou uma tocha. A dupla foi seguindo por uma trilha estreita e molhada, até chegarem em um barco ancorado no rio. Lon prendeu a tocha no suporte do barco e em seguida ajudou Minna a entrar. Os dois então começaram a remar rio abaixo, deixando o monastério para trás. Em um determinado momento, eles pararam de remar e deixaram que o rio levasse a embarcação lentamente. Minna abriu uma pequena bolsa de mão que carregava consigo e tirou de dentro uma fotografia. Ela começou a olhar para a foto e logo se viu emocionada lembrando de algo do passado.

Lon notou a emoção da sua companheira de viagem, mas resolveu por bem deixá-la quieta com suas recordações. Foi Minna quem tocou no assunto e resolveu abrir o coração e compartilhar sua história e contar como conheceu o conde Drácula.

Minna tinha um noivo chamado Jonathan Hart, ele era corretor de imóveis e estava orientando Drácula na compra de um imóvel em Londres. Em uma outra ocasião, Minna foi com o noivo conhecer a Transilvânia e o casal acabou ficando hospedados no covil do vampiro. Drácula ficou fascinado com a beleza de Minna e desejou ter ela como esposa. Para isso, o vampiro tramou a morte do rival o fazendo se suicidar após enlouquecê-lo. Minna acabou sendo salva de um destino terrível pelo caçador de vampiros, Van Helsing, que já vinha seguindo o rastro de mortes deixado por Drácula.

O exército de mortos reanimados das covas por Drácula se reuniram com o sanguessuga e começaram a forçar a entrada do monastério, deixando todos lá realmente apavorados, inclusive o próprio Van Helsing. Barricadas mais resistentes foram erguidas para empedir que o perigo lá de fora entrasse, mas o mal já estava lá dentro. Os mortos que estavam enterrados na cripta dentro do monastério também foram acordados de seu sono eterno graças ao poder de Drácula, e juntos com eles uma infestação de ratos canibais começou a tomar conta dos corredores do lugar e atacar os monges.

Van Helsing pegou um par de tochas para se defender dos roedores e alguns monges seguiram seu exemplo. Eles faziam uma espécie de barreira com o fogo no chão para manter os ratos afastados. Isso funcionou com os animais, mas eles não sabiam dos mortos-vivos. Quando foram perceber já era tarde, o ataque já tinha começado.

Todos estavam apavorados e sem saber do quê se defender: se dos ratos comedores de homens ou dos zumbis devoradores de gente.

Van Helsing estava sempre atento ao ataque de um zumbi ou de um rato, ora ele fazia churrasco de roedores, ora fazia pedacinho do crânio de um morto-vivo. Nesse momento, no auge da carnificina e do terror extremo, um monge tomou uma decisão inconsequente e fatal para todos: deixar Drácula entrar e com isso elevar o grau de perigo e de mortes para um patamar insustentável.

Quando Van Helsing e os outros perceberam o que o outro ia fazer, já era tarde demais para tentarem algo, compreensão e medo surgiu nos rostos de todos.

A porta da frente estava aberta e o conde Drácula sendo convidado para entrar.

- Você pode entrar, só não me mate, por favor.- disse o monge. Ele estava completamente apavorado e chorando de maneira descontrolada.

- Calma meu bom rapaz, eu jamais faria nenhum mal para quem me recebeu de maneira tão hospitaleira.- disse Drácula, ironizando com um sorrisinho malicioso de canto de boca.- Mas você vai me perdoar, é que eu e os meus amigos estamos com uma eternidade que não comemos nada.

Drácula arrancou a cabeça do pobre homem e tomou seu sangue, lambendo os lábios e se sujando todo. O resto ele deu para o seu exército de mortos-vivos, que caíram em cima do cadáver feito abutres.

- Eu te peço desculpas, Van Helsing.- disse Drácula.- Eu havia dito que te mataria primeiro, mas eu não pude resistir a fome. Mas prometo que você vai ser o próximo.

Drácula não conseguiu controlar uma nova gargalhada maníaca enquanto ainda degustava do sangue e da carne da cabeça do monge que ele segurava em uma das mãos.

- Corram e se escondam.- gritou Van Helsing, fechando a porta novamente e correndo.

- Eu adoro esse jogo.- disse Drácula.- Gato e rato que se chama, não, é? Eu sempre ganho. - E uma nova explosão de gargalhadas histéricas.

A porta da frente se abriu num estrondo e o vampiro entrou no monastério finalmente, seguido por sua horda de zumbis e alguns ratos canibais remanescentes, mas que acabavam virando comida de morto-vivo no caminho.

O vampiro permaneceu parado por um breve instante apenas observando o ambiente. Logo ele começou a ter convulsões e espasmos profundos, onde adquiriu a forma de um grande cão negro, com olhos em brasa e caninos afiados e letais.

O cão então uivou.

Van Helsing estava escondido atrás de uma espécie de púlpito de oração, observando os inimigos. Ele sabia que não dava pra fugir, era preciso ficar e lutar. Ele estava armado com estaca, martelo e uma antiga espada que ficava guardada junto dos outros tesouros dos monges.

O caçador de vampiros avaliou todo o perímetro da batalha: só existiam Drácula transformado em um grande cão do inferno, o que já seria uma enorme dificuldade, e uns vinte mortos-vivos de andar letárgico. Van Helsing resolveu comprar a briga e saiu de seu esconderijo secreto.

A batalha começou bem, os instintos de Van Helsing estavam em alerta máximo, e em menos de dois minutos já havia abatido oito retornados. Também tinha conseguido se desviar de um ataque de Drácula, ferindo o monstro em uma das patas traseiras. O bicho uivou de dor. Van Helsing continuou a luta, finalizando assim os mortos restantes. Só restava Drácula para ser vencido.

O conde voltou a sua forma humana e ficou encarando Van Helsing. O vampiro estava com muito ódio no olhar e explodiu num poderoso berro, que fez Van Helsing cambalear para trás. Em seguida, Drácula mirou nas tochas acesas nas paredes e ergueu os braços para o alto. As chamas das tochas pareceram ganhar vida, cobrindo todo o teto do lugar com fogo. As chamas crepitavam clareando tudo ao seu redor, e emanavam um som estranho de gemidos e chiados, como se estivessem vivas.

Os olhos de Van Helsing estavam irritados pela fumaça, e o chão estava tão quente que a sola dos sapatos parecia que ia derreter e suas roupas queimar. Por trás da fogueira, Drácula parecia flutuar.

- Você está achando esse lugar quente demais, Van Helsing?.- perguntou Drácula.- Espere para conhecer o inferno então.

O vampiro gargalhou insanamente e partiu para cima do caçador, o lançando contra as paredes de pedra com muita violência.

- É só isso que você tem pra oferecer?.- perguntou Van Helsing, irônico.- Eu acreditava que o conde Drácula, o rei dos vampiros fosse mais poderoso.

- Maldito.- bufou Drácula.

O vampiro avançou para cima do caçador, mas parou logo que sentiu uma forte pontada na cabeça. Um monge o havia acertado com uma pedra. E não estava sozinho. Outros o seguiam e imitaram seu gesto, e o conde Drácula foi alvejado com uma avalanche de pedras.

Van Helsing aproveitou o momento de distração proporcionado pelos monges e fincou sua espada no peito de Drácula. O vampiro perdeu o equilíbrio e caiu. Mas não estava vencido e nem muito menos morto.

Drácula retirou a espada do peito e a jogou para longe. O vampiro gritou de dor, do seu peito não saia sangue, mas um líquido preto e fedido. Van Helsing tentou um novo ataque surpresa, mas Drácula conseguiu prever com antecedência o golpe. Ele acertou uma pancada tão forte, que Van Helsing foi parar do outro lado da sala desacordado no chão.

O conde-vampiro estava tão consumido pelo ódio e o desejo de vingança, que fez com que as chamas que crepitavam no teto do monastério envolvessem também as paredes do lugar, transformando tudo em uma grande fornalha ardente. Os últimos monges encaravam a cena com espanto. Eles tentaram fugir, mas Drácula os impediu, bloqueando a saída com uma cortina de fogo. Depois fez com que as chamas envolvessem todos num abraço ardente e eles morressem queimados.

Quando tudo tinha acabado, Drácula extinguiu o fogo e a sala ficou fria e quieta. Ele se aproximou de Van Helsing e o despertou com um tapinha no rosto.

- Vamos, é hora de acordar.- disse Drácula.- Agora me responda antes que eu arranque o seu coração, onde está Minna?

- Vai para o inferno.- respondeu Van Helsing.

Drácula lhe deu um forte tabefe.

- Eu não vou perguntar uma terceira vez, caçador. Onde está Minna?

- E não será preciso, conde Drácula.- uma voz feminina soou firme por trás do vampiro. Era Minna.

Drácula sentiu um gosto metálico na boca e uma fisgada na espinha, em seguida ele viu uma ponta de aço se projetando para fora do seu peito. Minna havia transpassado Drácula com a espada de Van Helsing.

Drácula caiu para o lado, ele estava arfando. Ele não conseguia falar nada, apenas revirava os olhos.

- Nós vimos o fogo de longe e o grito de desespero de todos.- disse Lon.- E Minna resolveu voltar para ajudar, e eu concordei.

- Vocês são dois idiotas mesmo.- disse Van Helsing, achando graça.- Bom que não vou morrer mais sozinho.

- Mais ninguém aqui vai morrer hoje.- disse Minna.- Há não ser, nosso amigo conde.

Ela se aproximou de Drácula e olhou dentro dos seus olhos sinistros.

- Como é a sensação de saber que vai morrer, monstro?.- perguntou Minna.- Você que gostava de jogar com a vida das pessoas, agora vai saber como é perder.

Drácula gritou de frustração. Talvez pela primeira vez em toda a sua existência ele estivesse sentindo o que era medo.

Minna pegou a estaca e o martelo de Van Helsing e lhe entregou.

- Acaba logo com isso.- disse Minna.- Faça isso pelo meu querido Jonathan, por favor.

Minna virou as costas no momento em que Van Helsing estava cravando a estaca no coração do conde Drácula. Lon se encontrava um pouco distante, triste e cabisbaixo, lamentando pelas perdas que sofreu. Minna chegou perto e lhe abraçou.

Os primeiros sinais da aurora despontavam no céu, com pequenos pontos dourados no horizonte.

FIM

TEMA: Drácula

Johnathan King
Enviado por Johnathan King em 07/03/2020
Reeditado em 08/03/2020
Código do texto: T6882663
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