E A VIDA QUE ARDIA SEM EXPLICAÇÃO - CLTS 10
As horas naquela cadeira demoravam demais. Além do fluxo de ligações que eram uma atrás da outra com poucos segundos de espera, nenhum cliente estava disposto a entregar o carro. Ter caído no setor de Entrega Amigável da empresa de cobrança de veículos foi o sinal de que o supervisor estava me sacaneando.
A vida na TELECOBRAC era a maior prova de sofrimento. Seis horas e vinte de trabalho de segunda a sábado ligando no automático para números que, ou não existiam, ou era engano, e se acertasse deixava recado com pessoas que não anotavam nada. Milagre quando um cliente atendia. Agora convencê-lo a devolver o carro que ele já não tinha mais condições de pagar e ameaça-lo com uma "busca e apreensão" que não iria acontecer mais era o mais difícil. Nesse período eu tinha duas pausas de dez minutos e uma de vinte pra sair correndo da minha mesa, bater o ponto, lanchar qualquer porcaria no bar de esquina com um VR baixíssimo, tomar o elevador correndo de novo, voltar para meu trabalho com uma cara de "paisagem" com o intuito de fazer a mesma coisa: bater a meta da empresa.
Meu supervisor era um saco. Jefferson. O safado trancou a faculdade depois que obteve a vaga e ficava pagando de chefe na frente das atendentes de decote. Porém baixava a bola rapidinho quando a gestora chegava e cobrava resultados. E de todos do setor o meu desempenho foi o pior em três meses seguidos.
Jefferson me chamou na salinha dele e perguntou qual era o problema para bater a meta. Como meu aluguel estava atrasando o segundo mês nem quis bater boca. Não podia perder o emprego. Agi o mais "de boa" possível dizendo que a lista de clientes estava complicada e que a maioria não atendia. Então ele informou que o Marcos que trabalhava no período da tarde usava a mesma, era atendido e até fechava negócio. Respirei fundo, engoli seco e voltei para minha mesa.
Eu odiava esse Marcos. O cara era um loiro de olho verde mala. Batia as metas, chegava sempre antes do expediente, os pais bancavam os estudos, só trabalhava lá porque não gostava de ficar parado em casa. Desgraçado.
Deu meu horário. Bati o ponto. Minha digital vivia falhando para aumentar minha "zica". Fui embora.
Chegava em casa e ficava no celular. Algumas pessoas me chamavam pra sair, mas depois do término do meu noivado por traição não tinha pique pra nada. Minha vida era acordar às 5h20, sair de casa às 5h45, chegar no serviço sempre às 7h00, trampar das 7h20 até às 13h40, chegar em casa às 15h, tomar um banho e ficar vendo netflix ou os filmes daqueles sites cheios de vírus até pegar no sono.
Sempre dormia tarde, mas nunca a tarde. A luz do celular estava no máximo e eu vagava pela internet por onde queria. O sono demorava a chegar, porém, naquela madrugada chegou pra valer. Eu não dormi, desmaiei. No outro dia, acordei tarde para ir pro trabalho. O celular estava quase descarregando. Levei o carregador comigo e cheguei com meia hora de atraso. O Jefferson olhou com uma cara que já dava pra sentir que estava louco pra me mandar embora.
"Supervisor está pouco se lixando para os meus problemas", pensei.
Deixei o celular conectado no PC carregando escondido embaixo da mesa. Coloquei o headset no ouvido e comecei as ligações.
A mesma chatice de sempre. "Fulano não tá.", "Não tem ninguém com esse nome". E quando era o cliente: "Eu vou devolver o que eu já paguei mais de vinte parcelas?", "Vocês por acaso vão devolver meu dinheiro?" e tome palavrão na minha orelha.
Deu a hora da minha pausa vinte. 11h40.
Lembrei de tirar o celular do carregador, esconder o cabo e ir correndo almoçar. Eu só tinha vinte minutos.
Na lanchonete vi o Marcos. "Chegou cedo o almofadinha. Ele nem precisa desse trabalho".
Meu lanche seria composto de óleo, massa, queijo parecendo borracha e a coxinha quase sem recheio nenhum. Adicione muito catchup pra disfarçar o gosto. Tudo por nove reais. Sem guaraná ou massagem.
Olhei a hora. Estava quase estourando a pausa. Subi as escadas correndo até o meu andar. Eu trabalhava no segundo e como o elevador vivia travando não quis esperar.
Quando fui bater o ponto, meu celular escorregou da mão caindo de quina. Pior que eu nem tinha colocado película naquele Samsung.
Segurei o palavrão. A tela tinha trincado em 12h00. O touch não funcionava bem. Na tela a foto de um romance antigo. Ainda não excluí essa foto.
Bati o ponto. Voltei pra mesa. O Jefferson reclamou que quase estourei a pausa e depois tirou um barato de mim, apontando para as manchas vermelhas na minha camisa.
"Nem pra comer uma coxinha com catchup você tem foco, hein?" Ele dizia rindo. Ignorei.
A discagem automática estava violenta, mas até que caiu umas ligações muito boas. Consegui falar com três clientes e os três aceitaram minha proposta de devolução. O dia melhorou.
Nem vi o tempo passar. Só percebi quando notei uma galera do meu lado saindo para a última pausa de dez minutos que geralmente seria às 13h. Fui com eles. Não fiquei com eles.
Ao voltar as ligações continuavam boas. Ninguém me xingava. Deu o horário e meu computador acionou o dispositivo de reiniciar no final do expediente. Eles não queriam pagar um minuto sequer de hora extra sem que pedisse. Peguei minhas coisas, dei uma risada debochada quando passei pelo supervisor, bati meu ponto e fui embora.
O sol estralava. O céu estava limpinho, sem nuvem nenhuma. Apenas o astro-rei sorrindo.
"Caramba. Que solzão! Uma praia com um sol desses seria top! Mas não pra mim!"
Na volta pra casa fui ao moço que consertava celulares em meu bairro. Deixei o Samsung com ele e como era um conhecido, falei que pagaria no final do mês. Ele aceitou numa boa.
Em casa, liguei a televisão e fiquei rodando os canais. Deixei a janela aberta. A tardezinha ainda estava clara. Fazia tempo que não via um dia assim tão bonito.
Sem celular tive vontade terminar de ler um livro que há tempo eu não lia. AMANTES AMADOS o nome. Um romancezinho clichê. Eu gosto, ninguém precisa saber. Iniciei de onde havia parado e fui até o final. Não sei quanto tempo se passou, só sei que ao terminar o dia ainda estava reluzente. Olhei pro relógio na parede de casa: 12h00.
"Ué? Ele estava travado esse tempo todo e não vi? Que estranho."
Coloquei pilhas novas. Larguei o livro no sofá e fui lavar algumas roupas minhas.
Teve peças que coloquei na máquina, outras lavei na mão mesmo, porém o dia continuava quente, sendo assim pendurei elas no varal assim que terminei.
Mais tarde cliquei numa série da Netflix pra assistir. Depois de dez episódios vi que não havia anoitecido nem um pouco.
"Caraca! Que é que tá acontecendo? Noite com sol é?"
Na hora de dormir tranquei tudo dentro de casa e apaguei as lâmpadas. Mesmo assim a luz entrava pelas frestas que haviam nas janelas e portas. Não parecia noite. Senti que fosse meio-dia ainda. E não gosto de dormir de dia e estava sem celular pra atrapalhar. Olhei para o relógio que coloquei pilha: 23h30. Abri a janela de curiosidade. Nada de escurecer, mas um horrendo sol em plena noite. Das duas uma: Ou usei alguma droga, ou estava com muito sono atrasado.
Tentei dormir. Não conseguia.
Aquela luz invadindo cada buraco da minha casa atrapalhava a pegar no sono. Rolei na cama várias vezes. Fechei os olhos e esperei… esperei. Dormi.
Acordei num intervalo de sono mal dormido. Pelas frestas da janela do quarto vi uma pequena luminosidade e levantei. Comecei a me arrumar, escovei os dentes tão rápido que até sangrou a gengiva e saí no desespero pro ponto de ônibus. Meu relógio ainda marcava 12h.
"Porcaria. Vou jogar esse lixo de relógio velho fora e comprar outro".
Ainda estava só o bagaço, mas pela claridade diurna e pelo calor suspeitava estar em atraso. Meu ônibus demorava demais e não tinha ninguém no ponto.
Após muito tempo de espera perguntei para uma pessoa que passava por ali o porquê do ônibus não chegar:
"Mas… são 3h50 da madrugada, uai. Essa hora não tem esse ônibus não."
Franzi a testa e dei um passo pra trás quando ouvi. Podia jurar que estava vendo o sol brilhando e que já era dia. O cara provavelmente pensou que eu estivesse de porre e foi embora com medo de ser roubado ou de outra pergunta.
"Meu Deus! Que raio tá acontecendo?"
Não consegui dormir ao voltar pra casa. Passei o restante da noite em claro. Literalmente.
Depois de um tempo voltei pro ponto de ônibus. Dessa vez tinha gente. Fui para o serviço. Chegando lá o segurança até me parabenizou:
"Isso é que é dedicação, hein! Chegou uma hora e meia mais cedo do seu normal."
Questionei:
"Como assim uma hora e meia? Olha o sol que está fazendo. Como pode ser 5h30 da manhã ainda?"
Ele ergueu os ombros e bocejou.
Quando o expediente começou, estava só o pó. Minha cabeça doía. Na hora da primeira pausa de dez minutos, perguntei para alguns colegas se conseguiram dormir com esse "sol noturno". Riram de mim e voltaram para o trabalho. Eu não tinha amizades ali. Parece que tudo se torna alheio quando algo em sua vida acaba.
Pensei que estava alucinando. Nem curto essa parada de droga e nem bebo. De vez em quando tomo umas, mas socialmente.
O dia passou devagar. Nem sei se passou mesmo. O Jefferson nem olhou na minha cara, mas também não ficou no meu pé. Pelo menos tive sossego.
Fechei uns negócios. Vibrei! Nunca mais tinha fechado um.
Na hora de ir embora o supervisor falou que minha digital tinha dado problema de novo na hora de bater o ponto.
"Que saco, viu! Todo mês é isso, Jefferson. Manda esse povo trocar a maquina de ponto. Deve ser por isso que minha lista de clientes do meu cadastro digital é tão ruim."
Assinei um papel pra comprovar minha presença e fui embora.
13h50 da tarde. O sol brilhava ainda mais e mais quente. Tirei o casaco e vim segurando ele nas mãos. Todos estavam com blusa de frio.
Chegando em casa fui buscar meu celular. Novo em folha. Assim que religuei o aparelho a primeira coisa que fiz foi pesquisar na internet notícias sobre algum evento solar ou coisa do tipo. Nada. Foi uma noite comum como qualquer outra. Com roubo, estupro, balada, acidente de trânsito… e escuridão.
O dia correu. O sol não. Cheguei em casa suando pelo nariz. Um horror.
Por volta de 21h da noite o céu continuava azul, claro e sem nuvens. Nem entardecera. Perguntei pra vizinha se era normal o sol ficar por tanto tempo assim. Ela desconversou e começou a fofocar dos outros. Dei de ombros. "É o que dá perguntar as coisas pra velho", murmurei comigo.
Fiquei no celular até tarde. Olhei a hora. 01h20. Minhas luzes estavam apagadas. Abri a janela: não se via estrelas ou lua. Somente o sol. Quente e brilhante.
"Que droga é essa que colocaram na coxinha? Só eu tô vendo isso? Isso é normal no polo Norte, não numa comunidade de favelados como eu em São Paulo".
Não consegui pregar os olhos e dormir com aquele brilho solar lá fora. Tive que ligar o ventilador, pois o quarto começava a ficar abafado. As horas se arrastaram na madrugada insone.
Na manhã seguinte a cabeça latejava de dor.
Minha cara estava péssima. Parecia que levei uma surra. Chegando na empresa peguei o elevador e saí no andar errado. É horrível raciocinar tendo dormido mal. Tudo isso por causa daquele sol a noite.
Enquanto fazia minhas ligações o Jefferson veio até mim com uma cara de morto, cheio de olheiras e perguntou se eu não poderia fazer umas duas horinhas extras alegando que nosso setor precisava bater a meta e que o Marcos mandou mensagem dizendo que até tinha vindo, mas passou mal e voltou pra casa. Só fiquei porque o extra que a TELECOBRAC pagava era bom, mesmo que não gostassem de pagar.
Alguns clientes atenderam. Eles pareciam mais estressados do que o normal. Teve um que do nada surtou na linha e me xingou de tudo o que é nome. O bizarro é que o mesmo pediu perdão no final dizendo que a noite foi péssima pra dormir.
"Tá calor pra caramba! Liga mais tarde!"
Nesse momento quis perguntar se o sol se pôs onde ele morava. Preferi não comentar. Alguns firmaram acordo.
Saindo do serviço o dia estava mais claro e mais quente que de costume. Mas dessa vez percebi que o sol estava maior, como se tivesse se aproximando da terra.
No caminho de volta tudo foi muito irritante. O trânsito estava um caos. O motorista do ônibus foi o trajeto todo xingando. As pessoas falavam alto, gente comia salgadinho de queijo e o cheiro subia forte nas narinas. O fone de ouvido de alguém estava tão alto que eu podia ouvir a música inteira. E de péssimo gosto. Notei uma gota de suor escorrendo da minha testa.
A noite foi do mesmo jeito que o dia. Clara e sem lua, estrelas, e principalmente, o manto negro do céu. Não consegui dormir novamente. De madrugada minha casa parecia um forno. Não queria abrir a janela porque o sol insistia em não ir embora naquele meio-dia eterno.
....
No dia seguinte estava pior. Olhei pro pessoal e não parecia ser só eu que tive uma noite ruim. Todos os funcionários pareciam cansados.
Ao final do expediente, o ônibus demorava. Muita gente se estressou. Quando o motorista veio várias pessoas entraram reclamando do coitado. O ar condicionado do busão estava quebrado e me senti dentro de uma estufa. Um ou outro estava sem blusa de frio, mas só eu suava. E dessa vez escorria pelo pescoço. Não via a hora de chegar em casa e desmaiar na cama ou em qualquer lugar que fosse.
Em casa tentei dormir um pouco a tarde. Até desliguei o celular. Nada. Coloquei cortinas nas janelas e apaguei todos os interruptores. Parecia que o sol estava na porta de casa. Claro demais pra conseguir pegar no sono, quase que radioativo. Fora o calor insuportável que parecia esquentar a cama, os móveis... Tomei um banho gelado, mas não resolveu.
Quando consegui dormir sonhei com o sol invadindominha casa. Uma enorme bola de fogo incendiando tudo. Acordei suando. Perdi o sono outra vez.
Eu já ouvi falar de eclipses solares e de dias de escuridão, não o contrário.
No outro dia, sem ter pregado os olhos, quase perdi o ônibus. O céu estava claro demais, quase reluzindo o brilho intenso do sol entre as poucas nuvens.
"MALDITO SOL!" murmurava comigo.
Na empresa tinha algo de ruim no ar. Metade dos atendentes com os olhos vermelhos, a outra metade descabelada ou mal arrumados. Os mais brancos estão pareciam um grupo de cosplays de filme de vampiro. O Jefferson estava com a cara fechada. A "rádio pião" comentava que a maioria dos clientes desistira das negociações de um dia pro outro.
No setor de Entrega Amigável caía uma ligação atrás da outra. Sem parar. E o pessoal estava com um veneno tão grande que mal o cliente chegava na linha alguns desligavam e outros já metiam o "E aí, senhor (a)? Vai pagar ou vai devolver?" sem dó ou paciência. Aliás, paciência era a única coisa que ninguém tinha ali.
Eu me sentia na feira. Todo ruído era alto demais. Ninguém falava baixo. Da minha cadeira observei por detrás das persianas da janela da empresa que o dia ficava cada vez mais claro, como se uma nave espacial ligasse o raio laser e mirasse na gente.
"Pô, logo numa empresa de cobrança onde já tá todo mundo na merda?"
Mesmo com o ar-condicionado da empresa funcionando, ainda sim estava muito quente. Muito.
O Jefferson mandou todo mundo parar e fez uma reunião. Falou quase como um pregador pentecostal que os contratos não eram efetivados, os acordos quebrados, que constantemente a máquina de ponto dava problemas com os funcionários e que a equipe estava muito abaixo da média.
Quase ele saiu no tapa com umas meninas já antigas do setor que estavam de saco cheio dele. O que eu ouvi de palavrão ali foi pior que em show ruim de stand-up.
Até que ele soltou uma que me surpreendeu:
"Só uma pessoa tá perto da meta!"
E apontou pra mim.
Não sei o que aconteceu comigo. Respirei fundo. Tive tonturas. Minha pressão baixou e desmaiei. Sono? Dor de cabeça? Não sei, já disse.
Acordei na enfermaria. A enfermeira me atendeu com uma má vontade que prefiro nem comentar. Deu uns remédios pra mim e fui embora mais cedo. Tive que assinar outra vez o papel porque de novo a máquina não registrou minha digital. A raiva foi tanta que dei um soco naquele ponto. Ninguém fez nada.
Na saída o sol estava pior. E bem maior. Da porta da empresa até o ônibus nunca suei tanto. Eu vazava. Muita sede. O ar seco. Sol... sol... sol.
O motorista do ônibus quase bateu umas quatro vezes. Parecia que cochilava no volante. Os botões de parada não funcionavam. O pessoal só saía quando berrava "VAI DESCER, MOTÔ! TÁ SURDO?".
Até chegar em casa foi uma zona. O povo conversava alto, alguém pisou no pé de alguém e não pedia desculpa. Ninguém deu vaga para os idosos e um bêbado entrou no busão fedendo a bosta e cantando sozinho.
E o sol… da liberdade (ou não) em raios fúlgidos brilhava nesta Pátria quase que caindo. Até que percebi algo curioso: o sol estava ME perseguindo. Independente do horário do dia ou da noite, ele sempre estava em cima da minha cabeça. Nem um pouco de lado, no horizonte. Apenas em cima de mim.
Cheguei em casa. O sol desceu mais um pouco, como se fosse um olho de fogo a me observar.
Eu não gostava mais de assistir a nada. Tinha raiva da empresa. Tristeza por não dormir. Era um vulcão pronto para a erupção. Procurei notícias no jornal sobre "Noites com Sol". Nada. Até os apresentadores pareciam um pouco cansados.
A noite não consegui ficar na cama. Andei pela casa toda, morrendo de agonia com aquela noite que mais parecia um Getsêmani solar. O dia não acabava. Calor, cansaço, estresse, dor de cabeça, olhos ardendo, ira.
Nunca eu quis tanto um momento de escuridão.
Saí de casa às 2h45 da madrugada. Fui pra rua e fiquei andando sem destino. Não havia lua nem escuridão. Aos poucos vi que o sol aumentou e começava a baixar em minha direção. Lentamente, como uma bola flamejante. Minha pele ardia.
Por um momento, vi um rosto no sol. Voltei pra casa.
No dia seguinte, entrei na empresa e não bati o ponto. Cheguei duas horas depois do expediente. Chamei o Jefferson de canto e mostrei uma coisa.
Ele soltou um grito de pavor que desconcentrou todo mundo do andar. Saí de lá com algemas e fui direto pra delegacia. Contei a verdade.
Falei como matei o Marcos no momento da pausa vinte daquele dia, que as manchas vermelhas em minha roupa não eram catchup. Confessei também como dei um jeito no corpo, como roubei seu celular, e peguei os contatos dos clientes dele que, para minha surpresa, não era da minha lista, mas especial.
No fundo, nem sempre odiei o Marcos. Porém, desde o dia em que ele me traiu com uma moça da equipe dele, destruindo nosso noivado, antes tão bem falado ali na empresa, nunca mais o vi com os mesmos olhos. Todavia nunca esqueci de nós. De como ele me achava linda como a lua e ele era meu sol... Meu SEGUNDO SOL. Nosso namoro era eclipse. Mas como a lua e o sol, não ficamos juntos.
Meu nome é Luana. Estou presa por assassinar aquele que um dia foi o amor da minha vida.
O sol finalmente se pôs e foi embora. Agora são as noites, as minhas noites, que não tem mais fim.
Tema: TRANSTORNOS MENTAIS e um pouquinho de LOOP TEMPORAL.
Aos amigos (as):
Obrigado pela paciencia e incentivo.