POST MORTEM
Observo as trevas em cascata
As paredes se fechando contra mim,
O horror me apunhala e mata,
Mas este jamais será meu real fim!
Da morte ainda sou um refém.
Pregado junto da cruz sendo açoitado
Mas meus olhos ainda vêem,
Mesmo morto ainda estou acordado!
O frio me abraça na noite escura
Contorço-me dentro do aperto caixão
Cavo com os dedos a sepultura,
Querendo sair desta longa hibernação
Minha carne tão desfiada,
Vermes corroendo-me por dentro,
Vivo após toda a jornada,
A pele do rosto vai-se apodrecendo
Essas flores que encobrem,
As vestes podres deste velho paletó,
Sopradas então se desfazem,
Consumidas viram este cinzento pó
A terra úmida me pesando,
Ao peito estas pétalas das coroas reais
O suor na fronte talhando,
Meu esqueleto devorado por animais
Erguerei a minha cabeça,
Da terra dos mortos eu vejo a saída
Antes que tudo se apodreça
Eu retornarei ainda com toda a vida!