UMA COVA GRANDE PARA TEU DEFUNTO PARCO -- CLTS 10

Gosta de histórias de terror? Então me acompanhe, tenho uma das boas para contar. Prefere primeira ou terceira pessoa? Estar diante dos fatos pode ser interessante, mas bancar Sir Sherlock Holmes é ainda melhor. Hã? Tanto faz? Tudo bem, então aumentaremos as apostas. Será em segunda pessoa. Nunca ouviu falar? Sinceramente não contava com isso, mas sei que você é inteligente e não perderei tempo explicando, afinal é só vir comigo e logo entenderá do que estou falando.

Caramba, cadê meu carro? Este estacionamento é sempre um caos e para piorar está garoando. Vai cair uma chuva dos diabos mais tarde. Achei! Está vendo aquele SUV prateado ali? Um baita carrão, hein? Um dia vou ter um desses, mas por enquanto me contento com o Corsinha quatro portas da vaga ao lado. Vem, corre, a chuva apertou.

Quer me dizer seu nome? O quê? Que nome, hein!, o que seus pais estavam pensando? O meu? O meu é… é… Nem falei e você já está rindo. Sabe de uma coisa?, é melhor você ser Você é eu ser Eu. Assim evitamos essas patetices. Me faz um favor? Abre um pouco o vidro, o desembaçador parou de funcionar semana passada e com essa chuva o trânsito fica uma lástima.

Não entendi. Ah, quer saber para onde estamos indo? É isso? Se eu contar você vai desistir, tenho certeza. Não vai? Ok, depois não diga que não avisei. Está vendo aquela maleta ali no banco de trás? São ferramentas e vamos à igreja terminar um servicinho que comecei hoje pela manhã... Posso ler pensamentos e caras-e-bocas também, sabia? É isso mesmo que você ouviu e sua cara diz que não está entendendo nada, como se eu estivesse contando uma grande lorota. Mas agora é tarde para desistir. Em segunda pessoa, lembra?

II

Beijou sua mulher como se fosse a última

E cada filho seu como se fosse o único

E atravessou a rua com seu passo tímido

E tropeçou no céu como se fosse um bêbado

E flutuou no ar como se fosse um pássaro

E se acabou no chão feito um pacote flácido

Agonizou no meio do passeio público

Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego

Gosta de Chico? Como assim que Chico? Chico Buarque! Não conhece a música que acabei de cantar? O quê? Além de não conhecer um dos maiores ícones da música brasileira ainda diz que minha voz é ruim? Valha-me Deus! Anda, vamos; não adianta ficarmos sentados dentro desse carro esperando a chuva passar. Opa, espere, me deixe falar uma coisa. Notou que estamos nos fundos de um cemitério e que aquele portão caindo aos pedaços ali é a entrada, correto? Bem, é o seguinte, é alto demais e tem lanças lá em cima. Não quero rasgar o traseiro tentando pular; o jeito vai ser contornar o muro, subir num abacateiro perto da calçada e saltar para dentro. Ah, sei: falei que íamos à igreja, não é? Não menti, só não disse que ela ficava dentro do cemitério. Agora vamos e não esquece a maleta de ferramentas.

Por que está andando tão perto de mim? Não me diga que está com medo de andar pelo ossário? Só por que tem ossos para fora das gavetas? Deve ter sido algum gótico desocupado. É uma porra mesmo, tem um cara ali sentado, se masturbando com um crânio na mão. É cada louco. Vem, aperta o passo.

Putz grila, a chuva voltou mais forte; logo agora que a gente vai passar pelo meio das covas. Sabe que lugar é este? Aqui é o Cemitério da Vila Formosa e está praticamente abandonado, mais uma vez. É mato para todo lado, tem que tomar cuidado para não… Vem, me dá a mão, vou te ajudar a sair; nesse breu fica fácil cair numa cova. Nossa, é uma de indigente e das recentes, você deve ter metido o pé no defunto. Que fedor! Já trabalhei aqui como auxiliar de necropsia, sabia?, e no meu tempo faziam o serviço melhor, mesmo assim jogar um corpo por cima do outro era normal. Não grita, seus sapatos estão cheios de vermes e alguns estão subindo pelas pernas de suas calças.

Até que enfim chegamos, esqueci o quanto era longe vir por este caminho; de manhã vim de carro pela entrada principal e foi tudo mais fácil. Está vendo aquela igreja no centro da encruzilhada? Os velórios aconteciam ali, hoje está desativada. Ela sempre me pareceu sinistra, mas hoje, com a pintura branca descascando e mostrando os tijolinhos vermelhos, parece um esqueleto que foi parcialmente descarnado. Horrível.

Vai chover a noite toda hoje! Vem, corre, entra, vou encostar a porta. Pronto! Está escuro que só o diabo aqui. Pára de tremer! Seus dentes estão até batendo. O interruptor deve estar em algum lugar. Droga, não estou achando. Pára de gemer! Isso é só uma igreja vazia agora, não tem defunto… O quê? Não foi você que gemeu? Achei! E que se faça a luz! Porcaria, me diz como três lâmpadas pendendo do teto vão iluminar um lugar deste tamanho? Mal iluminado ele é ainda mais sinistro que às escuras. E para piorar deixaram um monte de caixões em pé nas paredes. Cruzes!, nem tinha notado antes. Os gemidos de novo? Isso está te atormentando, seus olhos estão esbugalhados como bolinhas de golfe. Relaxa, sei de onde vêm: lá de baixo, da área que funcionava como funerária, onde preparavam os corpos para velar. O acesso é por aquela portinha lateral quase escondida. Vamos até lá, é hora de terminar o servicinho que comecei.

III

… É uma cova grande pra teu defunto parco

Porém mais que no mundo, te sentirás largo…

Essa pelo menos você conhece. Também não? Definitivamente desisto. Cuidado, tem um desnível no final dessa rampa. Teve uma vez que uma auxiliar de necropsia novata descia com o presunto na maca, tropicou e quase caiu de boca nos bagos do infeliz. Ficou pouco tempo depois disso, porque os colegas sempre soltavam a piadinha de que ela não perdoava nem defunto. Você acha que existe bullying apenas na escola?Ha-ha-ha, não mesmo.

Esta vendo essa porta? Havia uma plaquinha escrita Sala de Necromaquiagem bem no meio dela e restou só esse retângulo desbotado. Tem louco para tudo e aposto que alguém a levou como suvenir. Não sofro de loucura, mas a levaria; ela era linda. Vamos entrar, o interruptor é aqui.

Praga dos infernos! Quer me matar de susto! Para que gritar desse jeito? Só por que tem um corpo estirado na mesa de procedimentos?! Não esquenta, eu o trouxe para cá e o enrolei nesse lençol azul… e olha que interessante, ele nem está morto; não ainda… e adivinha quem vai me ajudar?

IV

Isso, assim. Vamos espalhar as ferramentas sobre essa mesinha, bem ao lado da mesa de procedimentos. Alicates, maçarico portátil, chave de fenda, marreta, martelo…Nossa, você está tremendo igual uma britadeira. É melhor te mostrar logo quem está embaixo desse lençol, assim essa cisma some de vez.

Sei que mora aqui pelo bairro. Conhece esse garoto? Dê uma olhada: branco, sardento, cabelos ruivos curtos, magrelo, tem treze anos, mas aparenta menos por causa da estatura. O amarrei assim e coloquei a venda nos olhos para que não reagisse ao acordar do GHB, ou Boa Noite, Cinderela, se preferir. O efeito está passando; logo ele despertará por completo.

Posso te dizer uma coisa? Suas expressões estão iguais às ações do nosso atual Presidente: aparvalhadas. Ações de alguém que procurou por algo, mas agora que encontrou não sabe bem o que fazer, ficando inerte, abobalhado com tanto poder. Não entendeu? Eu explico: sua cara é de total descrença com o que está acontecendo aqui e quer pular fora, porém já foi longe demais para desistir… além disto, quer ver qual o tamanho da merda vai dar tudo isso. Estou mentindo? Sei que não.

Me deixa refrescar sua mente.

Estamos dentro de um cemitério praticamente abandonado; chove lá fora e nós aqui sob uma igreja desativada, numa saleta onde preparavam cadáveres para o velório…e há um corpo estendido à sua frente. Todos os elementos para causar o horror estão diante de você, basta agora fazer o horror acontecer. Olhe como são lindas as ferramentas que trouxemos. O que acha de sujá-las de sangue?

V

— Porfavorporfavor,por-queestãofazendoissocomigo?euqueroaminhamãe!

Seu coração pulsa mais forte quando escuta isso? Olhe as lágrimas saindo dos olhos dele, o rosto ficando vermelho de tanto chorar e clamar por socorro. Acha que me comovo com isso? Nem um pouco e você também não deveria.

Pegue o alicate de cortar vergalhão. Isso me dê aqui…e pare de tremer, parece que tem Parkinson. Vou te mostrar como se usa, mas primeiro falarei no ouvido dele o que será feito. Eu vou cortar a ponta do seu dedo indicador e deixar você sangrar.

—Nãonãonãonão!Porfavor,porfavor,por-quê?!

Segura, estica a mão dele.

—Aiiiiiiiiiii!PeloamordeDeus!

Isso, pode gritar à vontade. Está vendo? Não foi fácil? Esse alicate corta até cadeados, um dedinho é fichinha. Agora vou meter na boca dele. Isso, engasga. Filho da mãe, cuspiu longe. Agora é sua vez. Vai! Corta! Não fica ai balançando a cabeça em negativa! Corta logo! Corta! Vem aqui, estou segurando. Corta o médio.

— Nãoooooo!

Babinha de criança, não? Ah, não acredito numa coisa dessas: você está chorando também? Está com dó? Não queria o horror? Vou te mostrar como se faz isso.

— Párapárapára.

Viu? Cortei os outros três dedos com um sorriso de orelha a orelha. Opa, opa, não vai embora não. Fique exatamente onde está. Vê esse pequeno martelo na minha mão? Vê? Olha o que farei. Preciso segurar a boca primeiro… abrir, assim… uma martelada… duas marteladas… três marteladas… e lá se foram seus dentes. Agora é a sua vez. Com a marreta, quero que quebre o nariz.

—Nãnãnãpofavopof

Ele mal consegue gritar. Agora faça o que falei: pegue a marreta! Vai continuar se negando? Vai? Não me olhe como se eu fosse uma daquelas pessoas desvairadas que precisavam de camisa de força. Peque a porra da marreta logo e faça!

— Ai!ai!ai!ai!

Isso mesmo. Está vendo o sangue borbulhando na cara dele? O que acha disso? Sente nojo? Repulsa? Revolta? Sua cara é patética. Olha para mim, vem cá. Sente-se nessa banqueta empoeirada. Vou encostar minha testa na sua, quero falar olho no olho. Assim.Não disse que gostava de histórias de terror? Você é parte da história agora e pode conduzi-la como quiser, está me ouvindo? Aposto que você é daquele tipo que diz: Ah, deveria ter mais sangue; A mocinha bonita tem um monte de opções, mesmo assim está indo para o lugar mais escuro e perigoso, o velho clichê; Ah, foi muito fácil e previsível, esperava um final diferente…

Ou não. Continue na banqueta, vou andar um pouquinho em volta da sala, à moda de Sir Holmes matutando sobre suas investigações. Não quero me enganar, mas talvez você faça parte do seleto grupo de pessoas que não aceitam que as coisas simplesmente aconteçam, pessoas que querem conhecer e compreender o motivo pelo qual acontecem.

Tive uma ideia. Está vendo aquele pedaço de tábua jogado no canto da parede? Vá lá… isso, traga-o aqui. Vou posicioná-lo sob a outra mão do garoto, assim. Agora me dê o martelo e dois pregos grandes; eles estão no bolso da maleta. Exatamente, esses. Segure o antebraço, vou posicionar o prego nas costas da mão.

— Ôôôôôôô!Ai!

Agora o outro prego.

— Nãnãnãooo!

Esta preso, desse jeito não conseguirá puxar a mão. Pegue mais cinco pregos, um para cada dedo.

Quer saber meus motivos para fazer isso? Pois bem, direi, mas só se você merecer. Tome o martelo, posicione um prego no dedo mínimo. O resto ficará ao seu critério. Uma martelada por cada resposta. Porém… sempre há um desses para complicar tudo, não é?… martele primeiro e depois respondo ou informo o que eu achar relevante, combinado? Não fique me olhando como se isso fosse um blefe. Uma batida, uma informação. Natural como dar prosseguimento a uma boa leitura.

VI

Isso. Levante o martelo, respire fundo e…

— Ah!Párapára!Ah! Ai!

O nome dele é Armando e desde criança o chamamos de Armandinho. Ele é meu meio-irmão… Ora, não precisa estatelar os olhos assim.… Agora passe para o dedo anelar. Vou te dar uma dica: não bata o prego todo de uma vez, faça aos poucos e prolongue o sofrimento. Tenho muita coisa para contar, se quiser saber a história completa.

— Ui!

Sua prima tinha seis meses de idade, quando a estrangulou até a morte. Algum tempo depois, matou a própria irmã, de oito meses, usando o mesmo modo. Parentes e vizinhos o descobriram, mas nada fizeram, preferindo tratar os assassinatos como caso família. Não demorou a cometer o terceiro crime, raptando uma criança numa creche local, levando-a para um matagal, deitando-a na grama e esmagando sua cabeça com um tijolo. Rapidamente preso devido aos crimes anteriores, ele confessou as mortes, se vangloriando e sorrindo de como os havia praticado.

— Nãnão!

Acreditaria se eu dissesse que um pré-adolescente fez isso? Claro que não e menos ainda se revelasse que o assassino na verdade é Marjeet Sada, um garoto indiano da província de Bihar de somente oito anos. Absurdo, não? Parece história de tablóide ou uma forma sinistra de digressão, porém servirá para levantar a seguinte questão: você se sentiria melhor se soubesse que os crimes de Armandinho são ainda mais desprezíveis que os de Marjeet?

—NãofaçaissopeloamordeDeus!Émenti…Ai!ai!ai!Estádoentoestádoendo!

Dito isso, você tem livre-arbítrio para ajudá-lo e juntos sair daqui, ou continuar e ouvir o que tenho a dizer. Lembrando que: o que sabe sobre Armandinho é o que eu disse. Além do mais, ele nos ouviu o tempo todo e não se manifestou, caso contrário teria citado meu nome. Por isso, te dou o benefício da dúvida, afinal posso estar apenas elevando os riscos da aposta com um blefe mórbido.

— Ai!vocêestamematando!querominhamãe

Meus pais se separaram quando eu tinha quatorze anos e meu irmão caçula poucos meses. Uma separação como todas deveriam ser: juntou, não deu certo, se separou. Cada um para o seu lado, sem brigas ou ressentimento. Morávamos com meus avós, uma miscigenação de imigrantes sulistas, portugueses e italianos, numa residência grande e barulhenta ao fim de uma rua sem saída, de um amplo quintal e terreno para serem realocados. Assim, parentes casavam-se e se arranjavam por ali mesmo. Minha mãe nunca sentiu necessidade de um novo casamento, mas meu pai sim e várias vezes.

Numa reunião de Páscoa, ele apareceu com Armando e Beatriz; filhos seus, porém de mães diferentes. Nessa época Armandinho tinha oito, Beatriz dois. Ele uma simpatia de garoto; ela uma bonequinha em tamanho real… Enfim, imagine uma casa imensa, uma família numerosa e uma porção de parentes de todas as idades possíveis. Amigos, bebidas, vizinhos, alegria, bagunça e breves discussões. Tudo em excesso. Só meu pai e minha mãe contavam quatro filhos e por ai já é possível considerar a quantidade de crianças que se reuniam ali… e certamente se alguma delas desaparecesse levaria tempo para alguém perceber.

— Ai!Nãofaçaisso…

Nenhuma criança sumiu na ocasião, mas a cachorrinha vira-latas de uma de minhas primas havia dado cria semanas antes e seus cinco filhotes apareceram sobre a tampa de um poço que mantínhamos bem aos fundos da casa, todos enfileirados, suas cabeças esmagadas por golpes de marreta. Ficamos chocados, é óbvio, porém nos mantivemos quietos. Veja bem, éramos benquistos no bairro, alguns parentes possuíam comércios, pequenas farmácias e restaurantes, e alarmar algo dessa natureza poderia causar desagradável falatório.

Espere um pouco. Cadê a chave de fenda e o maçarico?, aqui. Vou esquentar a ponta até ficar vermelha.

—Não!não!não!

Ouviu o chiado quando enfiei no ouvido dele? Que nojo, é fedido!

Na reunião seguinte, no Natal, nada aconteceu, além de meu pai trazer Armandinho e Beatriz e simplesmente sumir. Sim, ele os abandonou em nossa casa. Tentamos encontrá-lo ou contatar suas mães por alguns meses, sem sucesso. Ao final, conviviam ali tantos parentes que os dois acabaram se integrando à família. E verdade seja dita: as crianças adoravam Armandinho e todos nós amávamos a pequena Beatriz.

O primeiro incidente ocorreu em poucos meses. Armandinho era comunicativo e meus tios costumavam fazer dele menino de recados. Dona Belarmina ligava e pedia seus remédios; Armando era quem os entregava e sempre recebia cinco centavos de gorjeta. Míseros cinco centavos.

Passou-se algum tempo, até que o gato da velha sumiu e dias depois reapareceu, empalado na lança do portão principal. Quando o retiraram, moedas vazaram do seu estômago, horrorizando a multidão reunida à volta. Ninguém soube explicar o fato, mas desde então as gorjetas aumentaram substancialmente.

Houve outros pequenos incidentes, mas uma discussão tola sobre bolinhas de gude marcou a vida do garoto Antony de seis anos para sempre. Armandinho o atraiu à beira do córrego numa noite, golpeou-o com uma pedra, colocou meias em sua boca, furou os olhos com um canivete e o amarrou camuflado quase submerso no esgoto. Sempre que passava sobre a ponte, lá em cima parava e olhava fixamente Antony se estrebuchar, enquanto comia chocolates ou tomava sorvetes. O sofrimento só terminou dias depois, quando uma chuva forte elevou o nível do esgoto, arrastando e desaparecendo com o corpo.

—Ai!Nãofizisso.Ai!

Os anos se passaram e boas ações foram mascarando as perversidades de Armandinho. Em casa ele era um anjo, na rua o capeta rebelado. Pegue o que ele fez contra o garotinho Antony, multiplique por dez o grau de tortura e sadismo que você terá ideia dos crimes posteriores. Eram perturbadores… E aposto que deve estar se perguntando: por que ele nunca foi preso? E te respondo: onde a mente criminosa é inteligente, a polícia se torna omissa e ineficiente. Investigadores se aterrorizavam com o estado em que os corpos eram encontrados, mas faziam vista grossa ante a total falta de pistas… Até acontecer aquilo com a doce Beatriz.

—Ai!ai!ai!ai!ai!

Era aniversário de doze anos de Armandinho e, momentos antes do Parabéns!, num ato de ingenuidade, a menina enfiou a mão no bolo, colocando às pressas na boca e se lambuzando. Todos riram da peraltice, menos Armando. Semanas depois, aproveitando a distração de uma vizinha que cuidava de Beatriz, ele a sequestrou, levando-a para um local remoto no matagal, onde queimou suas mãozinhas com gasolina e arrancou todos os seus dentes a pauladas. Deixou-a agonizando no local e, enquanto parentes e amigos se mobilizavam em buscas posteriores, ele fingia desespero e preocupação… e mais tarde voltava ao matagal para sentar-se ao lado do cadáver, onde comia lanches, descascava frutas ou fazia qualquer outra coisa que sentisse vontade…

—Quedor!mematalogo!naofazisso!não!ai!medesculpe,porfavor!ai!ai!

E ainda tem mais, muito mais… Que estranho. Ouvi um barulho lá em cima. Alguém está descendo, parece que são muitas pessoas.

— Você! Mãos para cima!

— Santo Deus! Há um garoto na mesa, sendo torturado!

— Esse garoto é mau, ele fez muitas coisas ruins… ela pode explicar tudo para vocês…

— Ela quem? A sala esta vazia, só há você aqui! Viemos por uma denúncia anônima de gritos dentro da igreja. Ninguém saiu daqui.

— Não. Ela… estava… bem aqui… Era bonita, me convenceu a terminar um…

TEMA: Distúrbios Mentais

Biriri Pelado
Enviado por Biriri Pelado em 23/02/2020
Reeditado em 06/09/2020
Código do texto: T6872592
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