O Diabo nos ombros
Mais um dos contos do meu vô, Benedito. Nenhum dos textos do vô tem titulo, podem intitular nos comentários qual nome vocês dariam a esse conto.
'' 04/08/1992 - Com o rosto enrolado num cachecol gelado um homem ensanguentado entrou cambaleando com as orelhas cortadas no bar. Eu não me levantei, a montoeira de bêbados ao seu redor já lhe era de grande ajuda.
Após alguns instantes de desespero o homem direcionou-me um olhar amedrontado e com um certo esforço apontando-me com os dois dedos que restavam em sua mão. Eu, espantado com aquele ato me levantei e me aproximei
- É o Diabo! É o Satanás! Disse-me o indivíduo enquanto podia se escutar até os pulmões vibrando em seu corpo.
De medo ou de dor, ele morreu ali mesmo sobre o chão. O bar entrou em calmaria, todos espantados com o causo, logo, as pessoas direcionaram-me os olhares, descortinando um incompreensível medo de mim. Retirei do bolso alguns trocados, deixei-os sobre a mesa e me retirei do local.
Em minha saída deparei-me com um cavalo negro com um semblante sobrenatural. O cavalo era majestoso, o seu rabo se arrastava ao chão, os olhos vermelhos faiscantes lembravam o fogo e o seu corpo lustroso aparentava ter uma força celestial. Aparentemente pertencia a uma pessoa ao qual deve-se temer. Desconcertado pelas reações que houveram no bar, segui fugaz o meu caminho montado em meu velho mangalarga que eu deixara amarrado na cerca doutro lado. Atrás de nós, seguiu-se pelo mesmo caminho, o cavalo petulante.
Após alguns minutos chegamos em casa. Coloquei no curral o velho mangalarga e entrando no casulo fui direto ao banheiro. Enfim, pude compreender o inconveniente no bar. Olhando-me no espelho também desvendei a causa do desconforto que eu tive sobre as costas durante a estrada. Sobre os meus ombros como um papagaio, um diabo, que com um sorriso estampado duma orelha a outra abanou-me a mão e desapareceu no reflexo. ''