O Suicida do RMS Titanic

Meu nome é Nev Sardins. Sou cientista e descobri uma maneira de viajar no tempo, ainda que só ao passado, estudando os “Buracos Negros” (Buraco Negro, segundo a Teoria da Relatividade Geral, é uma região no espaço com um campo gravitacional tão poderoso que nem mesmo a luz consegue fugir de dentro dele). Eu tinha tudo: uma filhinha de 10 anos que me adorava e uma esposa feliz e devotada. Mas quando as perdi a vida perdeu o sentido para mim. Sempre fui fascinado pela trágica história do RMS Titanic, o navio transatlântico de dimensões colossais que era considerado “inafundável”, mas que naufragou após colidir com um iceberg, e, por isso, desejei viajar nele antes de morrer. Sim, sou um suicida, mas, ao contrário de minha filhinha e de minha esposa, que morreram contaminadas por um vírus letal, eu escolherei a minha forma de morrer. Neste instante, Já voltei no tempo: estou em Southampton, na Inglaterra, no dia 10 de abril de 1912. Comprei uma passagem no Titanic, de primeira classe, de um passageiro que desistiu de viajar, por causa do nascimento de seu filho. Sorte dele. O navio partirá em uma hora com o destino a Nova Iorque. Neste intervalo, observo as pessoas que embarcam no Titanic: elas se assemelham ao gado que vai para o matadouro ou a galinha que vai para a panela. Elas não possuem a informação privilegiada que eu tenho. Não sabem que, para muitas delas, sua viagem será sem volta. Um garoto de cerca de dez anos diz para a mãe, chorando, que não quer ir, que quer voltar para casa. A mãe o puxa pela orelha e o faz entrar no túmulo flutuante. Eu continuo observando as mulheres, os homens, as crianças e os velhos tomando seus lugares no transatlântico. Alguns sorriem, outros bocejam, uns outros se beijam apaixonadamente, muitos se despedem. Não quero intervir no destino deles, apesar de estar interferindo no meu e no do passageiro que tomei o lugar. Enfim, o RMS Titanic parte. Aproveitei os dias antes do sinistro da melhor forma possível: jogando cartas e bebendo até cair. Finalmente, o dia 14 de abril chega e, às 23h40, o Titanic colide com um iceberg. Enquanto as pessoas correm para preservar suas vidas miseráveis como ratos querendo fugir de um labirinto sem saída, eu as fito, impassível. Não sou o capitão do navio, mas fui o último, com vida, a permanecer impávido no RMS Titanic até ele adernar de vez e se precipitar nas águas do Atlântico, levando consigo a vida de centenas de pessoas (passageiros e tripulantes) junto com a minha dor sem fim...

FIM

Luciano RF
Enviado por Luciano RF em 22/02/2020
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