OS DENTES DE BERENICE
[Todos nós nascemos loucos. Alguns permanecem - Samuel Beckett]
Macabra ideia, de onde ela vem?
Que na mente apossa?
Estaria insano ou talvez tão bem
Mas n’alma se acossa?
Tive por longo tempo a obsessão
Por certa coisa doentia
Como uma diabólica possessão,
Pela mente se retorcia!
Eram tão brancos em sua candura
Ao sorrirem reluzentes
Tornaram-se o motivo da loucura
Esses brancos dentes
Tão brancos que quando brilhavam
Quando para mim ela sorria,
No silêncio sempre me chamavam
Nesta doida e insana agonia
Brilhavam semelhantes a diamantes,
Que um entalhador lima,
Claros como as pérolas dos amantes
Os dentes da minha prima
Quando eu tentava apenas descansar
Via-os assim tão salientes
O terror noturno vindo me assustar,
Nas imagens destes dentes
Estive muito tempo assim perturbado
Com a ideia de tê-los comigo,
Diariamente eu após ter-me acordado
Ao álcool tive um trago amigo
Certa noite, meu criado me acordou,
Com os olhos vítreos me via,
Em voz entrecortada então sussurrou
Que algo bem errado acontecia
Dissera ouvir os horripilantes gritos,
Assim parecia que me disse,
Pareciam as orações de sinistros ritos
Vindos do quarto de Berenice
Percebi então que essa minha camisa
Estava suja com sangue de alguém
Ensopada era fria como a leve brisa
Mas eu não havia visto ninguém
Meus dedos pareciam estar lacerados
Estavam sensíveis pela dor,
Como se algo lhes tivessem cortados
Eu observava-os em horror!
Caído ao lado da cama um alicate,
Próximo ao meu sujo diário
Sangue nas calças cor de abacate,
Junto deste objeto dentário
Foi quando pela consciência dei conta
Não acreditaria nesta vil sandice,
O criado trêmulo para um fraco aponta
Lá dentro!Os dentes de Berenice