162 - Cento e Sessenta e Dois

Com tanta gente acumulada a outra cara era o que havia para ver. Descendo o olhar o lenço vermelho tinha tons diferentes quando se mexia. O resto era o corpo que dizia. De começo só um calor abusivo, uma proximidade espúria que era desagradável. A pele mostrava alguns poros dilatados, a penugem a descer até ao interior do vermelho, as mãos cuidadas a segurar o varão niquelado, o roçar das coxas para obter o equilíbrio, o cheiro a acender-se entre o suor e um perfume forte. Poderia respirar com intensidade mas isso haveria de unir os dois peitos, agudizar uma intimidade que já assim estava presente. Tremia. O que de pior poderia acontecer agora? Sentiu o dedo cavalgar o seu, a coxa a afirmar-se mais abaixo, o sexo a gritar vontades num lugar indefinido do ventre. Depois, quando já tudo parecia o que não devia, a voz anunciou o fim da viagem. Nem se olharam quando voltaram a desconhecer-se.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 10/02/2020
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